Antonio Delfim Netto (*)
Um grupo de dezessete economistas, liderado pelo professor José Alexandre Scheinkman, um profissional altamente respeitado aqui e no exterior, produziu um diagnóstico sobre o comportamento da economia brasileira nos últimos vinte anos e preparou um conjunto de sugestões para ser apreciadas pelos candidatos à Presidência da República. Deu-se ao documento o sugestivo nome de Agenda Perdida, o que se aplica bem ao período avaliado quando o Brasil perdeu o rumo de seu desenvolvimento. Isso inclui, obviamente, os oito anos de crescimento medíocre da economia no atual governo. Pelos resumos que vi publicados parece um trabalho bastante interessante. Ele pode servir de ponto de partida para a reabertura do debate sobre estratégias de crescimento que esteve interditado desde o lançamento do plano real em 1994.
Se voltarmos a ter um debate sério sobre o desenvolvimento brasileiro, no tempo que resta nessa campanha eleitoral, a Agenda já terá dado uma importante contribuição. É preciso examinar um pouco mais as razões pelas quais o Brasil não cresce há 20 anos e mantém os altos níveis de desigualdade na distribuição da renda, apesar do direcionamento das políticas públicas para os tão anunciados programas sociais. No auge da desorganização produzida nos setores produtivos pela política cambial do primeiro mandato do atual presidente, foi praticamente impossível fazer um debate sobre os riscos que ela envolvia, mesmo quando parecia evidente que estávamos aumentando perigosamente a vulnerabilidade de nossa economia em relação ao exterior. O próximo governo vai ter que encontrar, logo de início, o caminho para retirar o país da armadilha da dependência externa, sem o que não poderá atender às expectativas de retomada da atividade econômica, de aumento da oferta de empregos e de recuperação da renda dos trabalhadores. É preciso que ele se convença que é este o rumo capaz de enfrentar os problemas da miséria e da desigualdade social.
A Agenda oferecida aos candidatos poderá ser muito útil, portanto, para a elaboração de políticas que eliminem o viés contra o crescimento que marcou as duas últimas décadas. Ela não propõe muita coisa além do que já tem sido apresentado nos programas de alguns candidatos, mas oferece uma visão correta, ao mostrar que o remédio para a miséria e a má distribuição da renda é o desenvolvimento econômico. A maioria das medidas que sugere tem realmente condições de ser utilizada para acelerar o crescimento. De toda sorte, trata-se de documento que merece ser discutido sem preconceitos.
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