Benê (*)
Já escrevi sobre várias pessoas que fizeram parte do meu universo de motocicletas, extraordinários pilotos, grandes esportistas, pessoas sem as quais nada do que contei teria sido tão encantador. Nada de tão mágico teria- me acontecido. Mas o tempo, senhor da razão, me fez refletir e juntar na minha galeria de ídolos este que eu nunca vi correr, mas que foi tão importante para o desenvolvimento das corridas e dos corredores de Araraquara que preciso colocá-lo na minha galeria.
Somava e soma até hoje qualidades de um empreendedor. Mecânico histórico de motocicletas, caprichoso ao extremo e ainda incansável na arte de promover os eventos da velocidade, trabalhando somente nos bastidores, em silêncio e pôr amor ao esporte. Isso me veio à cabeça por mera observação, convidado que fui outro dia pelo Zé Faito para assisti-los na corrida de autocross, na Pedreira Ouro Fino. Na oportunidade, comentei que aquele espetáculo, pela beleza de suas disputas, mereceria muito mais público e jogando conversa fora sugeri que nós (ex-pilotos) poderíamos promover como incentivo e na preliminar, uma prova de motocicletas. As idéias foram aflorando. Eduardo Luzia, de tantas vitórias e títulos, comentou que haveria de ser uma competição de 125 cc, denominada como fórmula Honda CG, devido ao baixo custo e que, com um bom regulamento, proporcionaria grandes duelos e o surgimento de uma nova geração de “cobras” em Araraquara. Assunto emendado pelo piloto extraordinário Evaldo (Nezinho) Salerno, em relação aos pneus cross que poderiam ser aproveitados das TTs. Assim a conversa foi aumentando, que até o nosso campeoníssimo Olympio Bernardes Ferreira (Neto Dob), atual tetra-campeão Brasileiro de bicicross, com brilho nos olhos, lábios marotamente torcidos e as mãos se esfregando deixou-se confessar: “Dá até pra gente voltar”.
Foi o suficiente para que o Baiano Faito, nosso brilhante e atual representante da velha guarda, recomendar: “a pista ideal seria a que o Nego fez para as gaiolinhas”.
Pensei comigo, a primeira vez que vi e ouvi uma motocicleta de corrida foi na oficina do cara (Moto Dumbo). Foi também o meu primeiro mecânico da ITAL GET. Era também do Moto Clube, pioneiro, construiu na Fazenda Caxangal, localizada nas proximidades da Estação do Ouro, a primeira pista de corridas de motocross do interior do Brasil, recebendo como convidado para inauguração pilotos do porte de Nivanor Bernardes, campeão Paranaense, Paulista, Brasileiro e Sul Americano de motocross, devidamente acompanhado de outras feras como Paulé Salvalagio e ainda, passados tantos anos, está construindo pista para gaiolinhas (chassi tubular impulsionado por motor de motocicleta)? Prá que, prá quem? Ah… meu Deus do céu, tá dentro do cara, tá na alma dele e o que é mais importante, ele só fez e faz para os outros. Curioso, fui procurá-lo e saber desta pista.
“Fiz para a molecada. A gente poderia construir além da pista um centro de lazer, onde as famílias pudessem passar fins de semana juntas. Estou aqui com meu moleque, meu irmão…. simples pô”.
Simples prá ele, mas, não é nada simples. Nesta visita pedi duas ou três de suas fotos e levei um susto. O cara é um arquivo-vivo do esporte a motor de Araraquara e deste País. Começamos a olhar as fotos. Uma, duas, …cento e cinquenta, duzentas e por ai afora. No seu arquivo em competições, de épocas diferentes, posam no exercício de seus mandatos os ex-prefeitos Romulo Lupo, Benedito de Oliveira, Rubens Cruz, Clodoaldo Medina, Waldemar de Santi, o iniciante de jornalista Geraldo Polezze acompanhado de Carmine Tucci e Nildson Leite do Amaral, além de tantas outras pessoas que também ajudaram a escrever a história do esporte de Araraquara. Como o saudoso vereador Mazinho, Neil dos Passos e o brilhante Dr. José Wellington Pinto. Essas pessoas presididas pelo Sr. José Carlos Bonilha fundaram o Automóvel Clube de Araraquara de onde desencadeou o nascimento das grandes corridas de carros na avenida 36 que referendaram o DKV como uma paixão nacional, daquele de nº 10 pilotado por Marinho Ferrari, as corridas de Kart na Alameda Paulista com a presença de Emerson Fittipaldi, Karol Figueiredo, Maneco Combacau, Expedito Marrazi e tantos outros corredores que o tempo se encarregou de torna-los ícones da vitoriosa velocidade Brasileira de competição. Este movimento, posteriormente, deu origem ao Moto Clube Araraquara e suas estrelas cintilantes que todos já sabem o sucesso.
Pistas e história
Assim ele vai construindo pistas de verdade, história e momentos de sonho. Vai com seu carinho escrevendo cada vez mais páginas e mais páginas de dedicação à uma modalidade esportiva que tanto ama. Vai aumentando seu círculo de admiradores e, sem qualquer alarde, vaidade pessoal ou interesse próprio, vai criando possibilidades para o surgimento de outros Victorinhos, Nezinhos, Baianinhos, Netinhos e Penhas do futuro. Com certeza, sua foto cabe na galeria dos grandes campeões desta terrinha.