Acabou, foi bom prá você?

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Ricardo Castilho (*)

Daqui a um ano, o folião e a foliã estarão se fazendo a mesma pergunta. Simplesmente porque ela tem a ver com uma das principais inquietações do ser humano, aquela que aguça mentes e corações e para a qual os sábios ainda não encontraram uma resposta padrão e definitiva: afinal o que é felicidade? Eu também não me atrevo sequer a conjecturas, mas, curioso e incomodado com tantos “achismos” de supostos experts no tema, fiz minhas próprias pesquisas, das catacumbas da Idade Média, passando pelo Iluminismo, até os dias atuais. E decidi compartilhar o que descobri sobre a tal felicidade e como ela se manifesta nos mais diversos estratos da sociedade.

E, bingo! Uma delas é a ofegante e efêmera epidemia chamada carnaval, aquela alegria fugaz a que todas as pessoas têm direito, seja lá pelo que tenham passado de ruim na vida, como quis dizer Chico Buarque em uma de suas canções. Tomo dele a metáfora para dizer que a busca pela tal felicidade exige certos malabarismos e, o mais crucial e essencial de todos, é reconhecer alguns dos seus sinais, o que não é nada fácil. De posse das previsíveis até às mais inusitadas opiniões a respeito do assunto, me arrisco a dizer que a felicidade pode ser comparada (empiricamente, claro) a uma commodity.
O carnaval é uma dessas commodities dos sentimentos humanos. Não exige participação nas bolsas de valores, mas tem um valor intrínseco, difícil de calcular: afinal, é a expressão que melhor representa o significado de felicidade do povo brasileiro. No sambódromo, nas ruas, nos desfiles e blocos, o que vale é ser feliz. Os efeitos produzidos na festa mais popular e democrática do mundo vão além do mero impulso pela diversão. Acreditem, o carnaval é uma poderosa porta de entrada para a felicidade.

A folia de Momo é tábua de salvação e remédio para todos os males, mesmo que seja apenas passageira e, no final, reste apenas a ilusão do manjado “foi bom enquanto durou”. Não por acaso, ilusão é o que alimenta escritores, poetas e seresteiros. Vejam o que escreveu o colombiano Gabriel García Márquez, Nobel de Literatura de 1982: “Não há remédio que cure o que a felicidade não cura”. O autor de Cem Anos de Solidão também fez outro alerta enigmático: “Todo mundo quer viver em cima da montanha, sem saber que a verdadeira felicidade está na forma de subir a escarpada”.

O filósofo grego Epícuro, criador da “Escola da Felicidade”, ensinou que “nada é suficiente para quem o suficiente é pouco”. Depois dele, muitos outros sábios formularam e transmitiram conceitos emanados de sua experiência pessoal ou do conjunto de observações do meio ambiente na tentativa de definir o que é a felicidade. Salvo melhor juízo, entretanto, dificilmente podem ser comparadas à ofegante euforia que se chama carnaval ou à avaliação ufanista que se dá ao saboroso pudim de leite da velha infância. O da sua avó é que era imbatível. E isso não se discute. Você era feliz e não sabia? Talvez tenha sido no vácuo desse queixume consagrado por Ataulfo Alves na música “Meus Tempos de Criança”, que o poeta Carlos Drummond de Andrade concebeu um dos seus famosos adágios: “Não há felicidade que resista à continuação dos tempos felizes”.

(*) É Advogado, professor, escritor, autor do recém-lançado “O Livro Definitivo da Felicidade”.

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