Antonio Delfim Netto(*)
Nesta fase de apresentação pública de pré candidaturas à Presidência da República, não assisti nenhum dos pré candidatos dizer de que forma seu eventual governo pretende enfrentar o problema do desemprego, que é o maior castigo imposto à sociedade brasileira nesses dois períodos de governança tucana. Todos sabem que o desemprego só vai se reduzir com a retomada do crescimento da economia. E que o crescimento só será possível se reduzirmos a vulnerabilidade externa a qual, por sua vez, depende da expansão das exportações que, infelizmente, vão mal.
As grandes empresas estão prevendo uma redução de suas exportações e as pequenas e médias encontram enormes dificuldades para engrenar as suas atividades exportadoras. A raiz do problema, é preciso lembrar, foi o congelamento do câmbio em três diferentes períodos nos últimos dezessete anos, que transformou as exportações no negócio de maior risco e de menor rentabilidade. A modesta recuperação iniciada após 1999, com a adoção do câmbio flutuante, está sendo contida, no entanto, em razão da tolerância das autoridades diante das ilegalidades praticadas pelo sistema bancário na concessão do crédito aos exportadores e ao setor produtivo de um modo geral.
O pequeno crédito que era concedido como adiantamento dos contratos de câmbio (ACC) encontra enormes restrições dos bancos que condicionam sua liberação às diversas modalidades de operações casadas. Isso não acontece apenas com as pequenas e médias empresas exportadoras, mas é prática igualmente corrente quando se trata do crédito à agricultura e às indústrias de menor porte. No Brasil, chega a ser ridículo o volume de oferta de crédito em relação ao PIB, cerca de 30%, quando o comparamos aos 70% e 80% nos países que são nossos parceiros no comércio internacional. Além de escasso e caro, é dificultado pela prática de condições, digamos, pouco ortodoxas…
O sistema bancário brasileiro está revelando todos os sintomas da construção de um monopólio. Esse é um risco enorme que não foi enxergado quando abrimos as portas do mercado bancário de varejo aos bancos estrangeiros. Defendida ferozmente pela alta burocracia financeira neo colonizada, tal abertura não melhorou em nada a situação. Pelo contrário, piorou, pois forçou ainda mais a tendência à concentração: hoje, sete ou oito grandes bancos têm praticamente o controle de toda a atividade financeira do país.
Em qualquer setor de atividade deve ser combatida a formação do monopólio, mas no setor bancário os efeitos perniciosos contaminam toda a economia. Basta verificar o que já está acontecendo com as exportações, com a nossa indústria e com a agricultura. Não seria mal se os honrados pré candidatos à presidência trouxessem o tema ao debate, já que todos prometem diminuir a vulnerabilidade externa, promover o crescimento da economia e reduzir o desemprego.
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