A colaboradora do JA, Sarah Coelho Silva, abre aspas:
“A natureza, os homens, dão tudo do que precisamos sobretudo, carinho, alimentação e lazer. Eles somente exigem o respeito e cuidados”.
Nosso entrevistado Júlio Baptista envia mensagens de otimismo e deixa claro que a vida é uma constante luta.
JA – O seu avô foi goleiro. Sua carreira profissional é herança familiar?
J.B. – Não sei, creio que sim. É bom ter uma pessoa da família que teve relação com o futebol, para mim foi o começo de tudo.
Iniciou no São Paulo muito cedo. Fale sobre esta fase?
Foi muito cedo, eu tinha mais ou menos doze anos já era sócio do São Paulo e ficavam todos os finais de semanas no Clube do Morumbi. Eu ia para o clube onde ficávamos jogando bola até o anoitecer. Em um desses dias o filho de um diretor me viu jogar e falou que ia me levar para fazer um teste para jogar futebol de salão. Então a minha história com o São Paulo começou ai e comecei a jogar, mas ainda jogava em uma escolinha que é conhecida como Pequeninos do Jóquei onde me mandaram escolher se eu queria continuar no Jóquei ou no São Paulo. Como eu já estava sendo remunerado resolvi continuar no São Paulo. Mas por um minuto de minha vida parecia que tudo ia se acabar porque o futebol depois de um ano acabou e eu fiquei muito chateado por isso, mas não foi o fim. Minha mãe me escreveu em um campeonato que tinha para sócios e então fui jogar, e no primeiro dia em que me viram me chamaram para um teste no amador e ficar na seleção de sócios do clube. E desde então fui caminhando por todas as categorias até chegar ao profissional.
O Jornal Estado de São Paulo (17-3-2003) no jogo São Paulo X Corinthians deu-lhe o destaque. Como é se sentir o preferido?
Para mim não ficou tão completo porque perdemos o título para o Corinthians, eterno rival do São Paulo. Por outro lado sentia que as pessoas demonstravam todo o carinho pelo meu empenho naquela final, por isso a cada dia que entro em campo entro para dar sempre o melhor de mim, independente do time que vou jogar. É isso que realmente vale para mim.
O que representam para você as expectativas, a cobrança de torcedores insatisfeitos?
É uma coisa que sempre vai ser assim, porque o torcedor é emoção. Ele não vive os treinamentos, só querem ver seu time ganhar, isso realmente importa para eles. Mas, nós jogadores já estamos acostumados a passar por isso: torcedores xingando quando as coisas não vão bem é uma coisa natural no Brasil. Já aqui na Europa é um pouco diferente, as pessoas respeitam muito mais o jogador.
Novamente destaque no Jornal Lance, na reportagem de “Olho nas Olimpíadas”. Você sente que o torneio foi sua oportunidade de mostrar o seu profissionalismo?
Sim, pois a seleção é uma vitrine, fora às coisas boas que a seleção proporciona para o jogador. E a emoção de vestir a camisa amarelinha tem um sentimento especial para mim que tenho como desejo as olimpíadas. Então tenho que estar bem sempre.
No início do campeonato São Paulo X Juventude, o Jornal Estado de São Paulo o classificou como o melhor são-paulino em campo. Sente falta de seus companheiros e da torcida, inclusive seu fã-clube?.
Ah, mas é claro que sinto. Aqui estou tentando mostrar meu futebol, ganhar novos fãs clubes. Isso tudo é um recomeço para mim que vou ter que fazer as pessoas acreditarem em mim.
Cite um lance que foi fantástico para você.
Foi no jogo São Paulo 6 x 1 Fluminense eu marquei dois gols que foram jogadas muito bonitas. Aconteceu assim, escanteio contra o São Paulo que vai para um contra-ataque fluminense. A bola cai no pé de Kaka que leva da intermediária até o meio campo e tenta fazer um lançamento para mim que estava entrando do outro lado sozinho, mas o zagueiro Andrei quase interceptou. A bola acabou passando por baixo do seu pé e sobrando para mim que de fora da área coloquei no canto esquerdo do goleiro sem defesa. Foi um dos gols mais bonitos que já fiz pelo São Paulo.
E os pênaltis, que representam na vida de atletas?
O pênalti é uma coisa difícil de descrever, só na hora que vai bater a bola para sentir como o seu corpo e a sua mente reagem sobre isso. Nós temos que controlar o nervosismo que realmente pode atrapalhar na hora da cobrança porque temos que tentar manter a calma em todo o momento. Não podemos perder o controle da situação porque as coisas podem não sair do jeito que você quer. Você até tenta, mas é inútil quando não esta bem concentrado.
Quando participou da Seleção sub-23, do torneio do Catar, quais foram seus melhores momentos?
Quando se está em um torneio rápido, igual ao de Catar, tem que tentar dar o máximo para que possa ter um bom rendimento. Acho que aconteceu comigo é que eu estava tão concentrado que consegui jogar bem quase todos o jogos, e é isso que mais importa.
Qual o jogador-exemplo para qualquer esportista?
Quando eu era pequeno, era fã do Raí como jogador de futebol, e como pessoa também. Como ele se portava diante das câmeras e até hoje todos têm sua imagem com projeto social e outras coisas mais. Mas hoje como futebolista tenho como ídolo o Ronaldinho Gaúcho.
A que atribui ser este jogador um herói?
Eu acho que para o jogador chegar ao sucesso é preciso muito empenho em vários aspectos, pois temos que deixar muitas coisas em nossa vida de lado em função do jogo. E é isso que algumas pessoas não conseguem entender por isso acabam largando o futebol. E outra coisa importante é sempre tentar se superar em todos os momentos para tentar ser um bom jogador, isso é necessário.
E o que é fundamental na carreira de um atleta?
Na minha opinião é a disciplina, ela é fundamental porque é dai que começa a se educar para o futebol, e que ajuda na vida também e depois vem outra coisa importante que infelizmente alguns jogadores não dão a mínima importância porque a vida do jogador é jogar, mas não se devem parar os estudos, pois isso ajuda muito e é uma coisa que o jogador não sente falta agora, mas no futuro vai sentir necessidade de ter aprendido alguma coisa fora do futebol até mesmo para evoluir como pessoa. E é lógico sempre se dedicar ao futebol.
Júlio Baptista, a frase: – ” Um bom ganhador, é um ótimo perdedor ” como você analisa?
Nem sempre conseguimos conquistar o que realmente queremos e é isso que temos que aceitar quando somos derrotados por um adversário que está mais preparado que nós, saber perder e crescer com a derrota.
Na publicação “Esporte na Globo ” no jogo Sevilha 1 X 0 Atlético de Madri você foi o destaque. Como se sentiu? E como foi recebido pelos torcedores de Sevilha?
Para mim foi emocionante, pois foi a minha estréia e eu queria fazer uma boa exibição. Graças a Deus fui muito feliz conseguindo jogar bem e fazendo o gol da vitória. Pra mim foi uma emoção muito grande, e ainda mais porque fui recebido com muito carinho pelos torcedores e eu sei que as coisas por aqui só têm a melhorar em relação aos torcedores. Sei que a cada dia eles me verão como um jogador especial.
Como é o dia-a-dia de um atleta em futebol em seu novo país?
É muito diferente porque aqui se vive muito bem, se come bem, não comemos muito e treinamos menos que no Brasil, mas a intensidade dos treinos é maior, mas suportável. É por isso que os jogadores aqui têm um tempo de bola maior que o dos jogadores brasileiros. Um jogador no Brasil joga em média até trinta e dois anos e aqui joga um pouco mais de tempo. Em Sevilla tem coisas típicas da cidade, como bares que servem Tapas (comida) que é impressionante, muito bom, eu estou gostando muito.
O que representa a família acompanhando de perto a sua vida de atleta?
Sou uma pessoa feliz. A família sempre me acompanhou, não é de agora. E tenho certeza de que meus familiares sempre irão me acompanhar. Com a família por perto tudo fica mais fácil, nunca se sente muito sozinho e isso ajuda muito para a adaptação que foi mais fácil para mim.
Uma mensagem para o seu povo brasileiro
Ah, não sei muito o que dizer, mas digo aos que lerem esta matéria que nunca deixem de sonhar e tentar realizar seus sonhos, pois sem isso a vida não faz sentido. Eu posso garantir que muitas coisas que sonhei já consegui realizar e ainda falta muito. Coisas que me tornarão uma pessoa completa. Aqui vai um forte abraço de Júlio Baptista.