A Santa do Brasil

Roberto Paulino (*)

O Papa João Paulo II canonizou, no último dia 19, a primeira santa brasileira. Num país de predominância católica e com um povo caracterizado, entre outras coisas, pela sua fé inabalável, madre Paulina do Coração

Agonizante de Jesus é a própria síntese da saga da nação brasileira.

A família Visintainer emigrou da Itália, em 1865, vindo parar em Santa Catarina, estabelecendo-se na localidade de Nova Trento. Ali, a jovem Amábile, com 9 anos, passa a viver trabalhando na roça. Indo morar próximo à Capela de São Jorge, inicia suas atividades dedicadas à oração, aos doentes e às crianças.

A ela são atribuídos vários milagres, dois deles comprovados pelo rigoroso processo de canonização do Vaticano. Por eles e pela semelhança com o meu sobrenome, já teria todos os motivos para adorar Santa Paulina. Mas o fato da sua origem estar ligada ao meio rural – em Vigolo Vattaro (Itália), onde nasceu, ou Nova Trento (Brasil) – a torna muito mais especial para mim. E, ainda, me faz pensar se não podemos atribuir a ela o milagre dos agricultores brasileiros sobreviverem e prosperarem num país com políticas tão hostis a esse setor.

Só para que essa questão da agricultura não fique numa idéia vaga, cito os produtores de leite. Na nossa região, considerada uma das mais importantes bacias leiteiras do país, vários produtores tradicionais deixaram a atividade. Viraram notícia ao colocar à venda todo plantel e equipamentos. A falta de perspectivas e políticas públicas claras empurra os pequenos e médios produtores rurais para a nefasta segurança do arrendamento de terras.

Como conseqüências, um forte impacto social em função do êxodo rural e o surgimento de uma nova categoria: a dos improdutivos com renda – que acabam tornando-se pessoas amarguradas, pois deles foram tirados o ato motivador da realização, a força do trabalho e a capacidade de sonhar.

Acho que a nossa agricultura, em tempos de globalização, terá mesmo que evocar a intercessão de Santa Paulina, pois se depender dos nossos dirigentes, ao que parece, estaremos condenados ao purgatório. Enquanto os Estados Unidos anunciam um subsídio complementar de 19 bilhões de dólares aos agricultores americanos e a União Européia (o mais subsidiado agronegócio do mundo) fecha os seus mercados com as barreiras não alfandegárias, o Brasil anuncia aumentos da energia elétrica, do combustível, dos insumos e dos juros; corte nos créditos agrícolas e aumento da CPMF numa das economias mais taxadas do mundo.

Para que a agricultura brasileira se desenvolva e ganhe competitividade teremos que apelar cada vez mais para Santa Paulina que, em 1940, ensinou: “confiai sempre e muito na divina providência; nunca, jamais desanimeis, embora venham ventos contrários; confiai em Deus e em Maria Imaculada; permanecei firmes e adiante!” Só assim, porque os homens que decidem, ao invés de planejar e agir com seriedade, preferem ficar a espera do milagre.

(*) É agricultor, administrador de empresas e presidente do Movimento Reage Brasil.

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