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A penúltima estação

Antonio Delfim Netto (*)

O governo Lula está entrando na reta final do quadriênio apresentando uma razoável performance na economia. O “razoável” segue por conta do fato que seu governo deixou escapar, entre os dedos, mais uma oportunidade de acelerar o crescimento, oferecida pela contínua expansão da economia e do comércio mundiais. Foi longe demais com uma política monetária que trocou 2% de crescimento do PIB por 0.75% de inflação.

Desde o início, no entanto, o Presidente soube administrar com competência o processo de desmontagem da armadilha deixada pelo governo FHC (inflação projetada de 30% no ano, carga tributária sufocante e Dívida Líquida de mais da metade do PIB brasileiro em 2002). Ele entendeu que a armação “tucana” não lhe deixava outra alternativa que não a de aumentar o superávit primário, o que acertadamente fez. Com isso contrariou também a militância de seu próprio Partido que até hoje sonha com a escola risonha e franca do déficit orçamentário, sem atinar que este é o caminho mais curto para o populismo e a rejeição nas urnas em 2006. Sem ceder aos apelos populistas, resta ao governo algum tempo para aprofundar o ajuste e melhorar a gestão dos gastos públicos, acelerando a queda dos juros, que é a forma de estimular a retomada dos investimentos privados e o desenvolvimento, enfim. O que não se pode é levar a sério uma proposta absurda como aquela que defende a redução do superávit e a queda do juro, ao mesmo tempo.

Antes de pensar na próxima campanha é preciso relembrar à militância petista que foi Lula quem elegeu os 20% que o PT tem na Câmara e os 15% no Senado e não o PT que o elegeu. E, com que programa se elegeu Lula? Não com o arcaico e insensato programa do PT, mas com a promessa contida na Carta aos Brasileiros que ele vem tentando realizar “sem mágicas”. Um pouco mais de 30% de cidadãos (não “militantes” do PT) que acreditaram em Lula e estavam desiludidos com a pasmaceira do governo FHC, o elegeram para cumprir o programa da Carta.

Nada mais natural, portanto, do que compartilhar a administração com partidos políticos “aliados” em torno de pequenos ajustamentos programáticos. A principal acusação que os “militantes” fazem a Lula é que ele abandonou o seu programa social, o que não é verdade. Ele colocou toda a ênfase inicial no “problema da fome”, que não funcionou porque o projeto original do PT era desfocado e mal concebido. Hoje (depois de reconhecidas as deficiências originais e corrigidos seus problemas) o programa “Fome Zero”, conduzido pelo Ministério do Desenvolvimento Social, atingiu todos os municípios brasileiros. O “Bolsa Família” está melhorando as condições de vida (e a distribuição de renda) das camadas mais vulneráveis da população. Os “militantes” renitentes às verdades estatísticas, continuam dando ênfase à política do salário mínimo que, praticamente, já não tem qualquer efeito sobre a distribuição de renda. No que se refere ao programa social, portanto, Lula também cumpriu sua palavra.

(*) E-mail: dep.delfimnetto@camara.gov.br

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