Quando eu era moleque, logo aprendi o que era uma jarda, porque minha mãe costurava as roupas da gente e ela me mandava comprar, de vez em quando, o carretel de linha nº 50 que ela usava. Nos referidos carretéis vinha escrito que o comprimento da linha ali enrolada era de 200 jardas. Curioso, fui até à Biblioteca Municipal e li num livro que uma jarda correspondia a 88 centímetros.
Ao entrar no ginásio, minha professora de matemática nos ensinou que uma jarda eram 91,4 centímetros, mas que no Brasil não se costumava usar tal unidade de medida, que era usada nos Estados Unidos, na Inglaterra e na Austrália, onde a palavra era escrita "YARD".
Quando aprendi inglês, fiquei sabendo que a palavra "yard" tem dois significados principais: significa jarda e também significa o terreno que rodeia uma casa. Não é bem quintal, porque quintal dá idéia do terreno que sobra no fundo da casa e, no caso dos Estados Unidos, onde não costumam rodear as residências com cerca ou com muro, todo o redor da casa é "yard".
Minha professora de inglês ensinou que os americanos gostam de fazer jogo de palavras, tipo trocadilho, dizendo frases onde existem palavras diferentes, mas que se confundem na pronúncia.
Eis um exemplo: A palavra "to" quer dizer para, a palavra "too" quer dizer demais e a palavra "two" é o número dois. Estas três palavras são pronunciadas "TU". Aí os americanos gostam de dizer a frase "too to two", pronúncia "tu-tu-tu", significando "demais para duas pessoas" e serve, por exemplo, para se referir a um prato de comida bem servida.
Outro exemplo está na expressão "write right" que significa "escreva certo" e se pronuncia "ráit-ráit", sendo o R igual ao da palavra cara e não o R da palavra rádio.
A palavra "bill" quer dizer conta a ser paga e é o apelido padronizado dos americanos batizados como William. Durante o governo do presidente Bill Clinton, quando os americanos iam pagar algum imposto, eles se referiam a ele com o jogo de palavras "BILL TO BILL". Em tempo, "bill" também é a palavra usada pelos americanos para designar os projetos de lei.
Quando vou aos Estados Unidos, costumo alugar um carro e sair rodando pelas estradas afora, atravessando cidades e estados, admirando as paisagens, conversando com as pessoas e vendo como o povo vive.
Certa vez, logo que atravessei a fronteira entre dois estados, vi um enorme cartaz ("outdoor") ao lado do posto rodoviário, onde estava escrito o seguinte: "WRITE RIGHT – YARD BILL IN YOUR YARD BILL ELIOT" . Tradução fácil:
"ESCREVA CERTO LEI DA JARDA AO REDOR DA SUA CASA".
Parei no posto rodoviário e perguntei ao plantonista quem era o Bill Eliot. Ele me explicou que era um senador que tinha feito um projeto de lei, denominado "Lei da Jarda", que obrigava todo cidadão daquele estado a ser zeloso pela correção gramatical de todos os cartazes e outdoors ao redor de sua casa, sendo que, se um cartaz escrito com erro estivesse a menos de uma jarda de uma casa, o dono seria multado, mesmo que o cartaz não fosse dele.
Nunca mais esqueci dessa lei, porque tenho bronca de cartazes escritos com erros, também erros que saem em publicações, jornais e folhetos.
Pois vejam os leitores o que me aconteceu de interessante: Ao lado de minha casa foi instalado um estacionamento onde os titulares foram recentemente fotografados por mim da minha janela: o Márcio e o Ronaldo, apelidado Alemão. Fiz amizade com eles e eles me exploram tremendamente, pois consomem da minha água e ligam holofotes no fim do ano, ligados à minha corrente elétrica. Até agora não apresentei minha "bill" prá eles.
No mês passado, eles mandaram pintar uma propaganda tipo outdoor no muro da frente do estacionamento, coladinho ao muro da minha casa. Terminada a pintura, eu fiquei danado, pois, a menos de um metro da minha divisa, o pintor escreveu "AV. MAÚA". Na raiva, eu tirei uma foto do erro para fazer uma reclamação.
Na mesma noite, eu não conseguia dormir, pensando naquele erro pertinho da minha divisa e me lembrei da "Lei da Jarda" lá dos Estados Unidos. Levantei da cama, abri meu armário de ferramentas e apetrechos, peguei dois pincéis, tinta branca e tinta preta, fui lá fora, retoquei o outdoor para "AV. MAUÁ" e fui dormir contente…
Nesta semana, tirei outra foto, mostrando a correção, para publicar neste crônica. Agora estou pensando na apresentação da "bill" ao Alemão e ao Márcio. Vou somar o gasto de água e de luz e colocar meus honorários pelo serviço de pintura. Vou ter que cobrar bem pela pintura que fiz pessoalmente. É claro que meu capricho de Cirurgião Plástico tem que custar muito mais do caro do que eles pagaram para pintar o muro todo, não acham os leitores?