Luigi Polezze
A educação contemporânea tem sido marcada por profundas transformações, influenciadas tanto pelas mudanças sociais quanto pelos avanços tecnológicos. Para compreender melhor essa dinâmica, quatro professores com diferentes tempos de experiência compartilharam suas perspectivas sobre a nova geração de estudantes, suas dificuldades e as adaptações exigidas no ensino.
Maria Conceição Barbosa dos Santos: 31 anos de docência
Com 31 anos de experiência no magistério, Maria Conceição enfatiza a mudança no perfil dos alunos ao longo das décadas. “Antigamente, os alunos eram mais focados. Sonhavam com uma escola pública de excelência, como USP, Unicamp, Unesp. Faziam as tarefas com empenho e buscavam entendimento profundo.” Segundo ela, atualmente, os estudantes são sobrecarregados e imediatistas, o que prejudica a memorização e o aprofundamento dos conteúdos.
Conceição destaca também que o contexto familiar e tecnológico mudou drasticamente, exigindo dos professores uma reinvenção. “Antes, eu demonstrava tudo em sala de aula. Hoje, muitas vezes preciso ir direto às fórmulas, porque eles não têm paciência.” Apesar disso, ela acredita que a essência do ensino – oferecer um conhecimento globalizado e sólido – deve ser mantida.
Maria Zacarias Rosa: 27 anos de magistério público e mais 8 anos em escolas particulares
Maria Zacarias compartilha uma visão semelhante à de Conceição, destacando o imediatismo e a dificuldade de concentração dos alunos. Ela enfatiza que a influência da tecnologia pode ser tanto positiva quanto negativa. “O celular e o computador, se usados corretamente, são ferramentas fantásticas. Mas, infelizmente, os alunos muitas vezes os utilizam para conteúdos rápidos e simplistas, sem aprofundamento.”
A precarização da educação, segundo Maria, está ligada à falta de disciplina e ao excesso de distrações. “Aprender não é fácil, exige esforço e prática, mas hoje os alunos têm tantos afazeres que não conseguem se dedicar como antes.”
Mariana Futeima: 4 anos de docência pós-mestrado e doutorado
Mariana, que começou a lecionar há quatro anos, iniciou sua carreira no período híbrido da pandemia, enfrentando desafios particulares. “Os alunos estavam muito retraídos, tanto com os colegas quanto com os professores. Hoje, percebo uma melhora na comunicação, mas ainda há marcas desse período.”
Ela acredita que a geração atual tem grande potencial, mas enfrenta um uso desvirtuado da tecnologia. “Os alunos recorrem à inteligência artificial para trabalhos prontos, mas não sabem executar ou raciocinar com base no que estudam. Isso é um problema que precisamos resolver.” Apesar disso, Mariana vê a evolução da educação como um fenômeno natural, mas que exige maior criatividade por parte dos professores.
Murilo Buscato Medeiros: 15 anos de experiência em múltiplas escolas
Murilo, com 15 anos de atuação, destaca o desinteresse crescente dos alunos pela escola. “Com tantos estímulos rápidos e tecnologias, as aulas tradicionais se tornaram desinteressantes. Precisamos mudar o modelo educacional para atrair e envolver os estudantes.”
Ele observa que os jovens têm menos maturidade para lidar com as distrações tecnológicas, o que pode prejudicar seu aprendizado. Contudo, acredita que metodologias ativas, nas quais os alunos participam mais diretamente do processo educacional, podem ser um caminho promissor. “Apesar de ser um grande desafio para os professores, essa mudança é necessária, pois a geração e o mundo são diferentes.”
Reflexão Final
As falas dos professores apontam para um consenso: a educação precisa evoluir para acompanhar as transformações da sociedade e atender às necessidades da nova geração. Entretanto, como será essa adaptação? Deveríamos restringir o uso de tecnologia em salas de aula ou integrar mais seu uso?
Hoje, já temos um projeto de lei vindo da Comissão de Educação da Câmara dos Deputados, que tem como objetivo proibir o uso de aparelhos celulares nas escolas públicas e privadas, até mesmo nos intervalos. Como as coisas irão desdobrar e como os jovens serão influenciados é uma questão que necessita de ampla reflexão e estudo, portanto, todos nós – principalmente os pais – devemos acompanhar como as coisas se desenrolam de perto, para o bem das futuras gerações.
Foto Ilustrativa – Imagem de jcomp no Freepik