Marilene Volpatti
Ficar remoendo quando acha que cometeu algum erro, não leva a lugar nenhum.
Helena aceitou um convite para passar o fim-de-semana com alguns amigos no litoral, bem no dia em que seu único sobrinho completava cinco aninhos. Resultado: não deu para fazer aqueles deliciosos docinhos que ele tanto gostava, que vinha planejando há um bom tempo. Conclusão: ficou morrendo de culpa sentindo-se uma tia desnaturada.
Na mesma semana aprontou outra. Três horas antes de um encontro (que aliás, aceitou porque a amiga insistiu muito), telefonou desmarcando a ida ao cinema. Inventou uma desculpa qualquer tendo a certeza que ela não acreditou. Resultado: ficou morrendo de raiva de si mesma, por não ter tido a coragem de dizer “não” de cara. Logo… ficou também sentindo-se culpada.
A sensação de falhar na vida pessoal ou social é uma emoção única que ao mesmo tempo tem muitas facetas. Por exemplo, funciona como uma espécie de guardiã do bom caráter. Jamais sentir nenhum tipo de culpa é característica de psicopatas ou pessoas anti-sociais, capazes de cometer qualquer barbaridade sem o menor remorso.
No dia-a-dia, a culpa impede de ir longe demais para conseguir o que se quer. Não deixa mentir, trapacear, passar por cima dos sentimentos alheios. Uma dose razoável de culpa, impulsiona a tomar atitudes para o próprio bem. Por exemplo, freqüentar uma aula de academia por recomendação do cardiologista. Caso a pessoa não vai, dormirá com a sensação de culpa. Portanto, é recomedável ir.
Outro tipo de culpa é aquela incontrolável sensação de ser responsável por tudo o que há de errado na vida, e que funciona como força negativa. Assim, não assume os fatos bons que acontecem. A pessoa que tem esse problema, se for traída pelo companheiro acha que a culpa é dela. Se acontece de chover bem no dia que resolve ir a praia, se maldiz por haver escolhido exatamente aquele dia.
Culpas que fogem do controle causam estragos no sexo, relacionamentos ou no trabalho.
Reconhecer as diferentes faces dessa emoção, distinguir a que faz bem da que estraga o prazer, é essencial para a maturidade emocional.
Culpas crônicas
A culpa generalizada é destrutiva porque não permite ver a diferença entre o que fizemos de bom a nosso favor e o que fizemos de ruim contra os outros. Vira tudo o mesmo. É tão reprovável deixar a geladeira vazia no dia em que o filhinho vai chegar quanto passar um ano sem dar uma telefonada para ele.
A culpa perfeccionista não é território exclusivo das mulheres, mas, o próprio fato de desempenhar múltiplos papéis (esposa, mãe, amante, profissional e dona-de-casa) deixa-as bem mais vulneráveis que os homens. Sentem-se reponsáveis pelos filhos e pelo sucesso do casamento, explicam os psicólogos. Estudos também mostram a tendência de se culpar quando algo sai errado no trabalho.
Querer ser igualmente competente nas tarefas domésticas e na profissão é outro fator importante na culpa crônica da mulher. Muitas se matam de trabalhar, tentando ser tão boas em casa quanto as mães e tão boas no trabalho quanto os pais, e se culpam por qualquer insucesso.
A pessoa que não se permite ser um pouco menos que o máximo em algum ato, entra numa tremenda roda-viva de minha culpa/minha culpa que perde a alegria de viver.
Culpa X Vergonha
Muitos confundem culpa com vergonha. Culpa é a mais secreta das emoções porque nasce da sensação de que traímos nossos próprios valores. E nessa briga “eu contra eu”, não há blefe e nem se joga a responsabilidade em outra pessoa. A vergonha, ao contrário, requer público, verdadeiro ou imaginário. É uma exibição pública de que cometemos um erro ou o medo de ter nossos segredos expostos.
No dia-a-dia, a diferença entre as duas emoções é importante, pois, acontece com freqüência confundirmos o erro cometido com o receio de sermos descobertos. A vergonha dura pouco; em geral, acaba quando os riscos e as críticas param. Já a culpa, não. É uma experiência que corrói e dura tempo, mas como não fica evidente para o resto do mundo, muita gente prefere uma vida inteira de culpa a dois minutos de vergonha.
Dica
Tente encontrar nas suas relações quem são as pessoas que costumam fazer-lhe sentir-se culpado. Às vezes, não precisam falar nada para provocar esse efeito, basta estarem por perto. Localizados, verifique se a culpa vem delas ou de dentro de você. Existe algum mártir na sua vida? Alguém que se sacrificou (ou diz ter se sacrificado) por você? Se existir, pare e pense: você pediu semelhante sacrifício? Corroer-se de culpa resolve? Ajuda alguém? Compensa o sofrimento?
Dê crédito às coisas boas que faz. Uma das características de todos os culpados crônicos é superestimar as falhas e subestimar as vitórias.
Quando a culpa for justificada, encare a verdade o mais depressa possível, peça desculpas à pessoa atingida, procure corrigir os possíveis estragos. Quanto mais tentar esconder sua responsabilidade, pior vai se sentir.
Acima de tudo, não perca o precioso tempo e alegria de viver culpando-se por sentir-se culpado.
Serviço
Consultoria: Drª Tereza P. Mendes – Psicoterapeuta Corporal – fone:- 236-9225