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A esperteza

João Baptista Galhardo

Numa faculdade de medicina, disse o professor aos alunos: – “Médico tem que ter esperteza e agilidade. Bem como, o que é fundamental, prestar muita atenção e não ter nem um pouco de nojo. Por isso vamos fazer um teste”.

Trouxeram um cadáver e o professor enfiou o indicador em todos os orifícios do morto.

Lambeu o dedo e mandou os alunos que fizessem o mesmo que ele acabara de fazer. Todos obedeceram. Ótimo, disse o mestre.

– Nojo vocês provaram que não têm. Mas de atenção e esperteza nota zero. Eu enfiei um dedo e lambi o outro.

2. O lusitano Jordão Antunes, padeiro, casado com Manoela, comprou uma televisão. Apaixonou-se pelo aparelho. Ele e a mulher não perdiam programação noturna. No domingo colocavam sobre o aparelho um grosso cobertor. Temiam perder na segunda o programa Tela Quente. Nessa noite, para assistir filme, convidavam o compadre Acácio Coimbra, solteirão inveterado e colega de trabalho na padaria N.S. de Fátima. Numa segunda, já tarde da noite, terminada a exibição, começou forte chuva. Acácio morava longe e, assim como o Jordão, não tinha carro. O compadre lhe disse:

– dorme aqui. Amanhã cedo você vai embora.

A mulher, dando uma desculpa, puxou o marido para a cozinha: “você está louco? Convidá-lo para dormir em casa? Não temos sofá. A única cama é a nossa”.

– Larga mão de ser egoísta mulher.

Quando voltaram para a sala não encontraram mais o compadre.

– Será que ele ouviu o que nós falamos?

– Viu o que você fez Manoela?.

Para surpresa, tempo depois entra pela porta da frente o Acácio, todo molhado, com um embrulho embaixo do braço.

– Onde você estava? Perguntou Jordão.

– Como vocês me convidaram para dormir aqui eu fui em casa buscar o pijama. O casal mandou o compadre se enxugar no banheiro e travou, na cozinha, forte discussão:

– dormir onde Jordão?

– Ora… na nossa cama.

– Na nossa cama? Esta louco?

Discutiram muito tempo e a mulher não conseguiu tirar da cabeça do marido a idéia de dormirem juntos. Ela, por cautela, pediu:

– então você dorme no meio. Eu numa beirada ao seu lado e ele do outro lado.

O marido discordou:

– você dorme no meio. Que falta de consideração!

A mulher disse que discordava. Não vai dar certo. Mas, não teve jeito. No outro dia de manhã sentaram os três à mesa para tomar café, mas o compadre apressou-se, agradeceu e foi embora. A mulher, desenxabida e sem graça disse para o marido:

– bem que eu te avisei! Que não daria certo. Enquanto você dormia e roncava como um porco, o compadre começou num esfrega esfrega e acabou transando comigo.

E o maridão, todo orgulhoso da sua esperteza disse :

– e você queria que eu dormisse no meio…

3. Há milhares de anos, num reinado muito distante, em palácio luxuoso vivia o Rei com sua jovem Rainha. Era muito bonita. De colo volumoso. Original. Naquele tempo não havia silicone. Fazia questão, quando se aproximava do público, de usar roupas decotadas para mostrar seus belos seios, deixando enlouquecidos os homens do Reino. Um súdito, chamado Abdul, que não tinha a mão esquerda, nutria pela rainha verdadeira paixão. Dizia o povo que ele perdera a mão pelo vício irresistível de comer unhas. Sei lá se isso é verdade. Mas sonhava beijar os seios da Rainha. Estava disposto a gastar uma fortuna para conseguir satisfazer seu desejo. Lembrou que havia no lugar um sábio. Um homem que resolvia qualquer problema. Desde que lhe pagassem, é claro. Abdul procurou o sábio e lhe disse da sua vontade, prometendo-lhe moedas de ouro, caso ele resolvesse o seu problema. Realizar seu sonho de consumo. O sábio lhe disse: “tenho um plano”. E lhe deu o preço do seu serviço. O sábio procurou um alquimista do Reino que preparou uma mistura em pó, sem contra indicações, provocadora temporariamente de fortes comichões. Foi ao palácio. Subornou um criado que numa noite, enquanto a rainha dormia, esparramou entre seus seios o pó preparado. No dia seguinte o formigamento tomou conta da área afetada. O Rei que a amava muito, pediu ao povo informação sobre a cura para tirar a rainha daquele sofrimento. Aí o sábio se apresentou como salvador.

– Eu sei como salvá-la. Há entre nós um homem que tem a saliva mágica, abençoada e terapêutica para esse mal.

O Rei disse: “utilize-se da guarda e traga essa pessoa nem quem seja à força”. O sábio apresentou-lhe o salvador que se prontificou a curar a rainha. Fácil. Com a própria língua distribuiu saliva sobre os seios da Soberana até que o mal acabasse, como acabaria de qualquer forma. Os efeitos da alquimia eram de curta duração. Terminado o trabalho e a rainha já sem o problema, Abdul, saciado o seu desejo, foi para casa. Bate-lhe à porta o sábio para receber a quantia combinada. Abdul não pagou. E expulsou o cobrador de sua residência. O sábio jurou vingança. Procurou novamente o alquimista e mandou preparar o mesmo pó, agora em dose reforçada. Pediu ao mesmo serviçal do palácio para jogar toda aquela quantidade dentro da ceroula do Rei enquanto este dormia de barriga para cima. O que foi feito sem muito trabalho.

Não há necessidade de contar o que aconteceu com o esperto súdito da saliva milagrosa…

A vida ensina: a esperteza quando é demais engole o esperto!

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