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A Cultura em Diálogo

“O segredo da vida é gostar do que se faz”.

Bom dia. Espero que todos tenham brincado ou descansado bastante nesse carnaval. Pena é que tenha chovido todos os dias. Para quem gosta de brincar no salão, tudo bem. Para quem gosta do descanso, então nem se fale.

Voltemos a um tema que discutimos bastante durante algum tempo no ano passado. Comunicação, um tema apaixonante, que vale a pena discutir. Obrigado Armando, Henrique, Joelma, Gislaine e Silvana, alunos de comunicação de uma prestigiada faculdade, em nossa região.

Jornal é uma empresa que vende uma mercadoria chamada notícia.

“O texto mostra que a neutralidade não existe (afinal, o jornal é uma empresa que vende uma mercadoria chamada notícia), acentuando claramente os limites de atuação do jornalista. Esse jovem e bem-intencionado repórter fez muito mais do que seguir ao pé da letra os manuais de redação e ouvir as partes envolvidas num crime: teve sensibilidade para perceber a complexidade das emoções e ações humanas. Nessa medida, constatou que a fidelidade ao 'real’ não cabia no formato da notícia – pelo menos como a concebia seu chefe de reportagem. Este invoca a linearidade do senso comum para servir a interesses mercadológicos: uma história violenta com começo, meio e fim, encimada por uma manchete sensacionalista.

Para contemplar o desejo do chefe, o repórter fez um verdadeiro exercício de foco narrativo: primeiro, uma versão 'em que os vários pontos de vista se entrelaçam’; em seguida, três versões, cada uma das quais traduziu a lógica linear a serviço de três perspectivas diferentes. Embora concluísse que a verdade só poderia brotar da intersecção dinâmica dos três relatos, não seria a notícia – com sua lógica reducionista – o melhor espaço para veicular o que concebia como retrato da verdade.

A questão tematizada pela crônica de José Castello aparece com freqüência na literatura contemporânea. Quais serão os pontos divergentes e convergentes no tratamento literário do tema?

Na literatura, o problema pode ser abordado pelo exame do foco narrativo, pois, no texto ficcional, cabe ao narrador garantir a ordem significativa da obra e do mundo narrado. A presença do narrador pode não ser ostensiva, mas suas marcas jamais são 'apagadas’ como no texto jornalístico, porque o foco narrativo constitui elemento importante do discurso e este ganha relevo no texto literário, ajudando a compor o tecido significativo, a história. Em outras palavras, tanto o ato de narrar como o mundo narrado são carregados de significação, uma vez aceita a lógica própria do universo ficcional. “A literatura não é o discurso do 'aconteceu’, é o discurso do jogo de possibilidades; ela não busca o 'efeito de real’, ele é o 'outro real'” (Baccega: 1991: 110).

Na literatura do século XX, a omissão do narrador tornou-se recurso significativo, passando a manifestar-se a consciência da personagem em sua atualidade imediata. A posição distanciada e superior do narrador realista, que projeta um mundo de ilusão, não é mais possível. Para dar conta da precariedade da situação humana num mundo complexo e caótico, em rápida transformação, é preciso afiar outros instrumentos, mobilizar novos recursos.

Com a irrupção do fluxo psíquico, 'desaparece também a ordem lógica da oração e a coerência da estrutura que o narrador clássico imprimia à seqüência dos acontecimentos’ (Rosenfeld: 1976: 84). A eliminação da sucessão temporal e espacial esgarça a categoria da causalidade, eixo do enredo tradicional. A narrativa passa a debruçar-se sobre a vida psíquica com um enfoque microscópico: eliminada a distância, uma parte ampliada coloca-se sob nossas vistas. Alguns tipos de narrativa, como os de Hemingway, optam por enfocar de fora, rigidamente, as personagens, abrindo mão de uma investigação interna. Outros tematizam a simultaneidade da vida coletiva num segmento de tempo ou mergulham nos espaços vazios dos surrealistas, constituídos de pesadelo e angústia. Outros ainda buscam vislumbrar a integração no mundo arcaico ou mítico.

Nas palavras de Rosenfeld, 'se a perspectiva é expressão de uma relação entre dois pólos, sendo um o homem e o outro o mundo projetado, dá-se agora uma ruptura completa. Um dos pólos é eliminado e com isso desaparece a perspectiva’ (Op.cit., p. 87). A eliminação da perspectiva pode ser entendida como desejo de superar a distância entre indivíduo e mundo, e pode significar também recusa de compromisso com o mundo empírico das aparências, com o mundo epidérmico do senso comum.

A crônica de José Castello parece lamentar exatamente isso: que o leitor de jornal (e, por extensão, o receptor da mídia) esteja fatalmente condenado ao mundo epidérmico do senso comum. Ao fazê-lo, o cronista toca o dedo na ferida, na questão da perspectiva, pois somente um narrador, com mobilidade suficiente para aderir com simpatia à perspectiva dos envolvidos no acontecimento, transcenderia o mundo das aparências – um narrador que não tem lugar no espaço da notícia. Por isso o problema colocado por Castello só pode ser explorado com maior profundidade pela literatura, especialmente por um texto que tematize a problemática da narração, que faça dessa problemática do elemento interno da obra, caso de 'As babas do diabo’, de Julio Cortázar (1994)”.

Ainda nas próximas semanas, falaremos um pouco mais sobre este assunto. Se vocês, estudantes de comunicação, desejarem saber mais, estou à disposição – celp@terra.com.br

Só para lembrar, de segunda a sexta-feira, estamos apresentado o quadro “Teste o seu Português”. Sempre às 19h30m, no programa Mestre-Cuca, pela Rede Mulher de TV, para todo o Brasil. Nem tanto pelas dicas de Português, mas sim pelas maravilhosas receitas, que o “Chef” Allan Vila Espejo apresenta, vale a pena assistir ao programa.

“Antes de começar a criticar os defeitos dos outros, enumere ao menos dez dos teus”. (Abraão Lincoln).

Até a próxima semana.

Profª Teresinha Bellote Chaman

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