N/A

A Cultura em Diálogo

"Não te contentes em aceitar: recebe. E só sabe receber quem primeiro se dá." (Don Hélder Câmara).

Uma informação importante: no dia 15 de dezembro, em São Paulo, será lançado o livro de Culinária "Cozinha sem Stress", do meu amigo "Chef" Allan Vila Espejo. O evento ocorrerá a partir das 20h, no Restaurante Don Pepe Di Napoli, na Rua Alvorada, 1009 Vila Olímpia, SP.

Sei que o "Chef" Allan, através de seu programa Mestre-Cuca, possui muito admiradores em nossa cidade e região. Todos aqueles que desejarem prestigiar o seu evento estão convidados. Ele, com certeza, sentir-se-á honrado com sua presença. Se desejar mais detalhes, faça contato – celp@terra.com.br.

Prosseguimento: Edição anterior.

Alguns recortes do processo histórico são apresentados como se constituíssem a totalidade. Através da “objetividade” desaparece, então, “a distinção entre aparência e realidade, entre fato e agente, entre substância e atributo”. (Idem, ibidem). A ambição de mostrar “tudo”, de falar de “tudo” visa criar a ilusão da totalidade, como se bastasse arrolar todos os fatos para atingi-la. No entanto, a totalidade caracteriza-se por formar um todo estruturado, dialético, que possibilita a compreensão do fato como parte estrutural do todo.

Apesar da vocação para o “real”, o relato jornalístico sempre tem contornos ficcionais: ao causar a impressão de que o acontecimento está se desenvolvendo no momento da leitura, valoriza-se o instante em que se vive, criando a aparência do acontecer em curso, isto é, uma ficção. Além disso, o jornalismo, produto industrial, precisa de esquemas para captação de notícias, dos quais a fonte é uma das principais. As fontes podem constituir posições estereotipadas; freqüentemente, com a consulta a especialistas, a ação quase não aparece, apenas a linguagem como reforço, como redundância.

A notícia, como procedimento teórico, levou a tipificações que redundaram em editoriais que direcionam o público ao colocar um fato neste ou naquele rótulo. “A justaposição de textos e/ou blocos também é uma forma de categorizar, pois estimula a compreensão que os fatos têm entre si. (…) O ato de categorizar é um ato de teorizar. A notícia categoriza; portanto ela é uma atividade teórica.” (Buitoni: 1990: 180)

Relatar acontecimentos significa construir um texto narrativo, uma atividade que Barthes (1973) já qualificou de simbólica e universal. A narrativa jornalística parece contígua ao fato, mas, ao se transformar em notícia, o acontecimento torna-se um texto submetido às categorias narrativas. As variações de jornal para jornal refletem a angulação de cada veículo, a edição, a relação repórter-realidade e variantes do universo de narração.

Seguir a cronologia do acontecimento constitui fórmula de consumo fácil, já que cria “ilusão cronológica” com tempo ficcional gradativo. A seleção dos momentos substitui o real por um real representado e traduz valoração do que se considera como momentos significativos. A preocupação com coleta de dados evidentes preenche o texto com pormenores descritivos, causando a impressão de que o real concreto basta a si próprio. A esse fenômeno Barthes (1970: 136) chamou ilusão referencial. Jules Gritti (In: Barthes, R. et alii: 1973) considera a narrativa de imprensa uma espécie de jogo metanarrativo, o jogo das relações entre o narrador e as fontes de informação.

Ao contrapormos as atividades do historiador, do jornalista e do escritor, percebemos que este trabalha com o cotidiano, do presente ou do passado, ‘a partir do qual cria seu universo e nele faz circular seus personagens”; o historiador trabalha com o passado, “reelaborando-o cientificamente a partir do presente”; ao comunicador “competem as duas operações conjuntamente” (Baccega: 1991: 135). Portanto, pode-se aceitar a afirmação de que fazer jornalismo é fazer história, a história do cotidiano. O problema, hoje, é que cabe à mídia definir o estatuto de acontecimento, determinar o que é notícia e, assim, o que é histórico e o que não é.

Tanto o discurso jornalístico como o histórico fazem uma síntese a partir de uma pluralidade de vozes, como se isso bastasse para legitimar a presença de vários pontos de vista. Na medida em que organizam as vozes, apropriam-se de falas de outros a que acabam por atribuir sentidos diferentes.

Afortunadamente, dentro da estrutura caleidoscópica do jornal, há um tipo de texto que escapa das injunções apontadas: trata-se da crônica, gênero de estatuto ambíguo que se aproxima da opinião, da notícia e da narrativa ficcional. A marca subjetiva confere-lhe singularidade, opondo-a à aparente impessoalidade da notícia. Antonio Dimas aponta seus compromissos com o histórico:

“Espremida entre o rigor informativo e a liberdade verbal, a crônica condensa a tensão narrativa exemplar, cuja fidelidade ao histórico está constantemente ameaçada pela liberdade criativa. Diante do cronista, o ato se desfolha, se desventra e, eventualmente, se torna tão ambíguo quanto à própria linguagem que o moldou. Se a literatura não precisa, em princípio, de nenhum compromisso com a realidade histórica, o mesmo já não pode ocorrer com a crônica, cujo motor de arranque é o cotidiano” (Dimas: 1974: 49).

A possibilidade de o cronista inventar incidentes, contar histórias traz para as páginas do jornal um fazer literário por excelência que permite criar um outro real. Dar abrigo a emoções e a fatos inventados ou recuperados pela memória parece ser a grande arma da crônica na capturado interesse do leitor, convidando-o para um tipo diferente de mergulho no real, mais ameno e prazeroso, quiçá mais profundo. Para o leitor, a crônica funcionaria como descanso, pois, a partir de um evento qualquer, em linguagem que tende para a ambigüidade, para a plurivocidade, o cronista tece um texto que pode atingir a categoria de ficção pura ou confrontar diferentes tempos para fazer uma construção metonímica da imagem do presente por meio de pequenos incidentes.

"Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina." (Cora Coralina).

Até à próxima semana.

Profª Teresinha Bellote Chaman

Compartilhe :

ÚLTIMAS NOTÍCIAS

Agenda Cultural

Agenda Esportiva

Cultura inicia inscrições para Oficinas Culturais Municipais

Prefeitura acompanha denúncia de racismo em escola e oferece suporte à família

Nesta sexta-feira tem show no Sesc Araraquara

CATEGORIAS