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A Cultura em Diálogo

"O texto cala-se diante do seu próprio criador. Mais uma vez: o que escrever quer calar ? O excesso de objetividade do conteúdo. Escrever implica em resgate da ambigüidade de toda a língua natural. Algo que só se mostra inteiramente pela expressividade radical da palavra compreendida como uma arma. O engana maior consiste em pensar que o jornalismo se situa no campo da expressão (em oposição à expressividade), enquanto literatura (expressividade) poderia abria mão da expressão. Fantasias. Positivismo. Ficções". (J. M. da Silva)

"No debate sobre jornalismo e literatura podem-se elencar muitas das grandes questões nesta dupla crise da realidade dos acontecimentos e veracidade dos discursos jornalísticos, e o esgotamento do fictício e dos modelos criativos nos discursos literários.

As diversas crises dos anos 60, que deram lugar a formas do novo jornalismo não só nos Estados Unidos, como também em toda a América Latina e na Europa, são um excelente exemplo de como a ruptura de fronteiras (também neste âmbito) fecundou a criatividade informativa no âmbito do jornalismo (sobretudo em gêneros como o artigo de opinião, a crônica, a reportagem e a entrevista) de modo que permitiu um importante impulso às formas de escrita literária que adotam a retórica do jornalismo.

Albert Chillón (1999:429), um dos grandes especialistas no estabelecimento das bases para um método comparatista das relações entre jornalismo e literatura, tem indicado rigorosamente algumas das razões do atraso dos estudos jornalísticos, e as vantagens de um enfoque interdisciplinar: "Desde seus inícios, os estudos sobre jornalismo têm sofrido um notório atraso com respeito a outras áreas da investigação comunicativa, em geral muito atentas às contribuições diversas de disciplinas consolidadas como a sociologia, a historiografia, a ciência política, a semiologia e, em menor grau, até a antropologia e a filosofia. Enquanto a incorporação de enfoques próprios de tais disciplinas tem permitido a outras áreas

da investigação em comunicação avançar com passo brioso, o campo concreto dos estudos jornalísticos exibe há décadas um andar claudicante e reumático, atribuível em boa medida ao reiterado descuido das colaborações mais significativas provenientes de disciplinas sociais e humanísticas tais como a lingüística em seus diferentes ramos, a citada semiologia, a filosofia da linguagem, a chamada nova retórica e, em geral, o amplo e fecundo campo dos estudos literários, ademais das ciências sociais antes aludidas."

Desde tais premissas, são objetivos fundamentais de um programa comparatista e multicultural de investigação sobre as relações entre jornalismo e literatura, entre outros:

1. A reflexão aberta e crítica, sem preconceitos, sobre as numerosas relações e interinfluências existentes entre literatura e jornalismo. Para isso, a investigação hemerográfica, os programas sistemáticos de catalogação de revistas literárias e culturais, o estudo da presença da literatura no meio jornalístico e a transformação literária de criações jornalísticas são fundamentais. Os resultados parciais devem encontrar o necessário cotejo com os obtidos em outras áreas idiomáticas e culturais, para apreciar aspectos comuns e diferentes.

2. Ir construindo um conhecimento panorâmico dos escritores mais importantes da história do jornalismo de criação, dimensionando seus aspectos comuns e diferenciais, segundo suas áreas culturais e idiomáticas. Esta tarefa resulta imprescindível, já que relegados ao cânone perecível da história da comunicação (que com seus avanços sabe esquecer o passado), fica óbvio um aspecto essencial de muitos escritores-jornalistas: sua contribuição não só circunstancial e fungível a seu próprio contexto histórico e informativo, senão alguns logros inegáveis na história da evolução do idioma, da criação do estilo e a expressividade comunicativa, incluindo-se a indagação de aspectos essenciais da existência humana, além das conjunturas nas quais a informação se gesta.

3. Construir os instrumentos metodológicos (analíticos, interpretativos e valorativos) e críticos para entender e apreciar o jornalismo como criação de uma

natureza distinta àquela do discurso literário, porém com aspectos comuns, assim como o discurso literário como fonte criativa (temática e estilística) da escrita jornalística. A nova Teoria Geral do Discurso e algumas orientações atuais como a Semiótica Transdiscursiva são instrumentos muito adequados para apreciar aspectos comuns e diferenciais.

4. Análises da construção, a partir de técnicas e procedimentos literários, de uma praxe jornalística criativa e de forte intensidade, sendo igualmente preciso indagar como se constrói literariamente a partir de técnicas e procedimentos jornalísticos.

5. Como corolário, refletir sobre as diferenças entre o essencial e o acidental, o ético e o estético, o formativo e o informativo, o permanente e o transitório e fungível. Finalmente e enquanto estas distinções sejam pertinentes a comunicação jornalística direciona-se para o âmbito da interação social; a comunicação literária busca, desde seus condicionamentos de época, apontar a certos fatores da condição humana: jornalismo e literatura constituem âmbitos privilegiados para refletir sobre a implicação entre ciências sociais e humanas".

"Enfim, o que escrever quer calar ? A univocidade do sentido. O jornalista/escritor faz dos venenos remédios e vice-versa. Cada palavra é uma sentença. De morte ou de vida". (J. M. da Silva)

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