A Cultura em Diálogo

“Um jornalista experiente sabe que escrever significa omitir por seleção. Somente o domínio profundo do texto permite o exercício da comunicação pelas entrelinhas. O jornalista é um farmacêutico. Jacques Derrida lembra que a palavra escrever, num sentido mitológico, significa remédio… ou veneno. Para Derrida, como filósofo, a questão central é saber se escrever é decente ou indecente. Para jornalista, como pragmático, importante é saber se escrever é expressivo ou inexpressivo. Escrever cura ou mata ? Emancipa ou ilude ? Forma ou deforma?”

(Juremir M. da Silva).

“As relações entre criação literária e exercício jornalístico têm sido problemáticas desde seus inícios. Parece que aquela, sem abandonar a dimensão lúdica e fruitiva, deve encaminhar-se para o essencial humano, bem que encarnado nas inevitáveis coordenadas espaço-temporais que nos constituem. A atividade informativa, ao contrário, aponta mais para o efêmero, passageiro, circunstancial (e sabemos até que ponto a vertigem informativa devora a estabilidade e permanência dos acontecimentos). Simplificando muito, parece que a literatura se orienta para o importante e a informação jornalística para o urgente. Ao menos assim já ao entendia Marcel Proust, quem na primeira parte de No caminho de Swan, 'Combray‘, coloca na boca do protagonista Swan: 'O que me parece mal nos jornais é que solicitem todos os dias nossa atenção para coisas insignificantes, enquanto não lemos mais que três ou quatro vezes em toda nossa vida os livros que contêm coisas essenciais. Naquele momento em que rasgamos febrilmente todas as manhãs a faixa do jornal, as coisas deviam mudar e aparecer no jornal, eu não sei o quê, os pensamentos de Pascal, por exemplo – e destacou a palavra com um tom de ênfase irônico para não parecer pedante. E, pelo contrário, nesses tomos de cantos dourados que não abrimos mais do que a cada dez anos é onde deveríamos ler que a rainha da Grécia viajou para Cannes, ou que a duquesa de Leon organizou um baile à fantasia. Deixando de lado tudo o que nos separa destas palavras de Proust (já não há rainha na Grécia e, por desgraça, em escassas ocasiões podemos ler em três ou quatro oportunidades os livros que contêm coisas essenciais) é verdade que nossa época se caracteriza pelo sacrifício das coisas verdadeiramente importantes, em benefício das que reclamam nossa atenção com o engodo da urgência.

Claro está que nem a maior parte da criação literária em nossos dias é merecedora da permanência que reclama Proust para as grandes obras, nem a atividade jornalística (apesar da degradação de muitos de seus agentes e a proliferação de um jornalismo rosa ou marrom) refere-se tão somente a essas triviais questões mundanas. Não creio que no futuro seja possível conhecer a fundo as alegrias e as esperanças, os temores e as tristezas do homem do século XX (e, obviamente, deste início do século XXI) sem acudir às hemerotecas.

Um testemunho especialmente interessante – por sua qualidade como criador literário e como jornalista – é o do galego Manuel Rivas: 'Para mim [jornalismo e literatura] sempre foram o mesmo ofício. O jornalista é um escritor. Trabalha com palavras. Busca comunicar uma história e o faz com vontade de estilo’. E mais adiante acrescenta: 'Quando têm valor, o jornalismo e a literatura servem para o descobrimento da outra verdade, do lado oculto, a partir da investigação e acompanhamento de um acontecimento. Para o escritor jornalista ou o jornalista escritor a imaginação e a vontade de estilo são as asas que dão vôo a esse valor. Seja uma manchete que é um poema, uma reportagem que é um conto, ou uma coluna que é um fulgurante ensaio filosófico. Esse é o futuro’ (M. Rivas, 1998: 23). Com efeito, também nós pensamos que esse é o futuro, diante de um jornalismo de uma falsa retórica da objetividade, que em nada garante, em seu aparente estilo declarativo e constatativo sua própria verdade. Diante de um jornalismo que ainda não percebeu que a verdade transparente não existe e que resulta inevitável (e, por isso, é ético assumi-lo), a parcialidade e a subjetividade do informador. No fundo é também o mesmo critério oferecido por escritores do naipe de Alejo Carpentier, Octavio Paz ou García Márquez, segundo têm recordado Héctor Anaya: Alejo Carpentier, o escritor cubano, homem musical, se é que algum existiu, de grande erudição e cultura monumental, não achou razão para separar o jornalismo da literatura, senão por questões de estilo: 'Para mim, o jornalista e o escritor integram uma só personalidade… Poderíamos definir o jornalista como um escritor que trabalha no calor da hora, que segue, rastreia o acontecimento dia-a-dia, ao vivo. O novelista, para simplificar a dicotomia, é um homem que trabalha retrospectivamente, contemplando, analisando o acontecimento, quando sua trajetória tem chegado ao final. O jornalista que trabalha no calor da hora, o faz sobre a matéria ativa e cotidiana. O romancista a contempla na distância com a necessária perspectiva como um fato cumprido e terminado’. Por sua parte, Octavio Paz, o Prêmio Nobel de Literatura, destacou em sensato texto que “O jornalismo, o romance e a poesia são gêneros literários distintos, cada um regido por sua própria lógica e estética”. E, depois de afirmar e demonstrar que 'A boa poesia moderna está impregnada de jornalismo’ concluiu uma conferência manifestando que: “Eu gostaria de deixar uns poucos poemas com a leveza, o magnetismo e o poder de convicção de um bom artigo de jornal… e um punhado de artigos com a espontaneidade, a concisão e a transparência de um poema”. Coincidência a que chegaram com anos de diferença e com ideologias tão distantes, o poeta Paz e o romancista Gabriel García Márquez, que, ao ser interrogado anos atrás sobre esta relação entre literatura e jornalismo, respondeu que “o ideal seria que a poesia fosse cada vez mais informativa e o jornalismo cada vez mais poético. Um ideal que, como pode observa-se nos bons criadores do jornalismo moderno, parece haver-se cumprido”.

“Os fatos e a informação estão instantaneamente disponíveis na Internet. Os jornais terão de se valorizar intelectualmente.”

(Colombani, J. M.)

Manifeste-se, dê sua opinião a respeito dos jornais ou mesmo programas jornalísticos de nossa cidade. Sua opinião é muito importante celp@terra.com.br

Até à próxima semana.

Profª Teresinha Bellote Chaman

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