N/A

A belezura do defunto paga imposto

João Baptista Galhardo (*)

A imprensa local noticiou que a Câmara Municipal está selecionando ou catalogando toda legislação araraquarense. Feliz iniciativa. Vai encontrar leis absurdas que nem entraram em vigor. A maior parte deve se referir a nomes de praças e ruas. Não vamos discutir se homenagens merecidas ou não. Mas verdade seja dita, boa parte dessas homenagens é feita mais para os familiares de pessoas falecidas, do que na realidade por algo que elas tenham feito pela Cidade.

Certa vez e por acaso participei de uma Comissão que foi à São Paulo levar ao conhecimento de uma Autoridade do Poder Judiciário, que o Legislativo de Araraquara tinha lhe concedido o título de cidadão. Cavalheiro, mandou servir café e com muita sutileza recusou a cidadania, dizendo que nada fizera pela cidade e que essa homenagem deveria ser concedida com muita prudência e tão somente para aquele que merecesse a honraria. Não sei até hoje se o título lhe foi enviado pelo correio. O mundo sempre viveu sob normas e regras. Antes e depois de Cristo. Sempre houve leis para todo gosto. Nem sempre a favor do povo. Há leis justas e leis injustas. Absurdas e até engraçadas. É preciso não confundir o justo com o legal. Justiça é a vontade permanente de dar a cada um o que lhe pertence. O que nem sempre visa a lei. Se todos os legisladores, mandatários dos eleitores, tivessem consciência de que o representante (legislador) não pode, sob pena de revogação do mandato, agir contra interesses e direitos do representado (eleitor), pelo princípio da fidelidade da representação, pensariam duas vezes ao votar algumas leis, que contrariam a vontade dos mandantes, seus outorgantes procuradores que deveriam ser previamente consultados.

Leis malucas sempre existiram. Dos estudos de Direito Romano, lembro-me que Gnaeus Pompeius, quando Cônsul de Roma, sancionou uma lei chamada Pompéia, que mandava punir com a morte quem matasse o próprio pai. Só que a execução da pena era uma maluquice: o acusado era fechado em um saco de couro, juntamente com um cachorro, um galo, uma cobra e um macaco e depois esse saco era atirado ao mar. Que culpa tinham os bichos? Mais para frente Augusto “abrandou” a execução: o réu poderia escolher ser queimado vivo ou ser jogado às feras. Nesse mesmo tempo, em caso de adultério por parte da mulher o pai tinha, por lei, o direito de matar a própria filha e seu cúmplice. Mas até mesmo em nossos Códigos atuais podemos encontrar alguma interpretação interessante. O Novo Código Civil (art 557) diz que a doação pode ser revogada por ingratidão se o donatário cometer homicídio doloso contra o doador, a não ser que este o tenha perdoado (art.. 561). Sei que o melhor interprete dirá: é claro só pode ter perdoado enquanto vivia. Bom, mas nessa hipótese, teria perdoado as lesões e não a morte que ainda não acontecera. Alguém elaborou e muitos municípios copiaram, uma lei regrando a concessão de Alvará para instalação de circo. Entre outras condições : que os animais façam nos espetáculos tão somente o que sabem fazer na selva. Melhor seria a proibição, porque na selva o macaco não anda de patinete, nem motocicleta, não planta bananeira, o leão não passa pelo arco de fogo nem o elefante joga bola com a tromba e ainda, que a saúde dos animais seja examinada por dentista e médico da Prefeitura. Eu quero ver que dentista vai abrir a boca do leão. Que médico vai ouvir o coração do tigre, onde vão encontrar estetoscópio de elefante, que laboratório vai colher e examinar as fezes da girafa, ou quem vai medir a temperatura retal ou oral do jacaré.

Foi aprovada recentemente a Lei complementar Federal nº 116 de 31 de julho de 2002, onde diz (item 25.01) que embelezamento de defunto gera imposto sobre serviço. Nada impede que o embelezador seja autônomo, como as manicures que vão de casa em casa. Dá para imaginar….. um velório em andamento, o padre já regando o defunto com água benta, recomendando sua alma, quando chega o auditor fiscal da Prefeitura, de crachá pendurado no pescoço: “parou, parou, parou……. Esse defunto tá muito bonito. Olha a cara dele….. esbanjando saúde. Eu quero saber quem embelezou o cara. Daqui ninguém sai. A belezura do morto é fato gerador de ISS e alguém vai ter que pagar. Eu vou autuar.” Aí, sai a discussão entre os presentes. “Eu não fui, só coloquei o paletó.” “Eu também não, só dei o nó da gravata porque ninguém sabia dar.” O outro, “eu só coloquei a meia porque as unhas estavam compridas”. “Eu coloquei a calça.” Até que alguém não agüentando a pressão acaba dedando: “eu não falei Carlão que esse negócio de passar baton e rouge no finado Geraldinho não ía dar certo.” “Além dele ficar com cara de veado ainda vai fazer a gente pagar imposto”. “Se vira agora. Eu tô fora”.

(*) É colaborador do J.A

Compartilhe :

ÚLTIMAS NOTÍCIAS

Show nesta sexta-feira no Sesc Araraquara

Oficina “Dobrando e encantando”, neste sábado no Sesc Araraquara

Espetáculo de teatro infantil neste sábado no Sesc Araraquara

Conhecendo uma aula de Movimento Consciente, neste domingo no Sesc Araraquara

Xadrez para todas as pessoas neste domingo no Sesc Araraquara

CATEGORIAS