João Baptista Galhardo
A soberba é um dos maiores pecados capitais. Significa presunção, vaidade, jactância, impertinência, orgulho, tirania, principalmente arrogância, o maior dos seus sintomas. É sinal de inferioridade, de megalomania, delírio de grandeza. Como disse Dennis Helming, a soberba é a abelha-rainha de todos os vícios e pecados. Ao contrário da humildade, que significa tolerância, compaixão, paciência e, sobretudo simplicidade que é o maior grau de sabedoria. Bem entendido, humildade não quer dizer humilhação. Ninguém tem o direito de humilhar quem quer que seja. Nem a obrigação de se ver humilhado. Toda humilhação deve ser repelida. À toda ação corresponde uma outra igual e em sentido contrário. A arrogância não é privilégio de ricos ou de Autoridades. É verdade que entre eles há os arrogantes que um dia desprovidos do cargo ou diminuída a fortuna, tornam-se pessoas “simples” por conveniência, passando a aceitar a participação até mesmo em velórios concorridos para serem notados ou terem com quem conversar. A arrogância é excitada em todas as classes sociais e funções. Das mais simples às mais elevadas. De um bedel, de um segurança de supermercado, de um porteiro de clube, aos mais elevados do Executivo, do Legislativo e do Judiciário. Há arrogância de patrões para com os empregados. Mas também (e talvez até mais) de empregados em relação aos que lhes dão emprego. Muitos daqueles se acham com o direito da carranca, da má educação, da falta e atrasos injustificados, etc Basta dar um cargo de chefia a um subordinado para verificar de que forma tratará imediatamente seus colegas. Há um ditado que diz: “quer conhecer o vilão dê-lhe um bastão”. Não é a regra, é bom que se diga. Já o empregador deve ser, segundo eles, educado, paciente e pontual com suas obrigações. Até marido de mulher feia é arrogante perante aquele que tem esposa bonita: – pelo menos a minha ninguém cobiça. Há fracassado que se dá o direito de ser arrogante frente ao que teve algum sucesso, porque alguém lhe assegurou que “é mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no reino do céu”. Há entre Autoridades os “sabe com quem está falando?”. Aqueles que por serem chamados de “Excelência”, acabam acreditando que estão acima do bem e do mal. Felizmente são raras exceções. Cortesia não faz mal a ninguém. Ensina a vida que respeito se adquire, não se impõe. Uma pessoa honrada e humilde é maioria de um. Todo preconceito é fruto do orgulho, da arrogância, da intolerância e da prepotência. E tem origem em qualquer poder, seja intelectual, financeiro, político, religioso, artístico e de autoridade, da mais simples à mais elevada. Ou na inveja. É velha a lição de que é necessário um verdadeiro heroísmo para conquistar a si mesmo. O vaso sanitário é um lugar que, em vida, iguala todos: brancos, negros, amarelos, pobres, ricos, humildes e arrogantes. Após a morte são nivelados pelos sete palmos de terra fria. O arrogante vive de auditório. Necessita de cúmplice. Vive de falsos amores e falsas amizades. O desprezo seria para eles a antecipação da morte. Para se usar um termo moderno, é necessário que ele seja deletado. Colocado na lixeira. Às vezes o arrogante recebe lição de pessoas simples. Um rico advogado foi caçar patos selvagens. Um pato abatido caiu num terreno vizinho. Quando foi buscá-lo um velho montado numa mula o repreendeu: – moço isto é particular! O causídico lhe falou que o pato lhe pertencia. O velhinho retrucou que tendo caído na sua propriedade o pato era dele. E o advogado replicou: – sou muito famoso, meto-lhe um processo, que além de eu ficar com o pato, vai precisar vender a propriedade para me indenizar. O velhinho ponderou: – vamos usar a nossa Regrinha Mineira de Resolver Pendenga? Como é isso? Eu dou três chutes em você. Depois você dá três chutes em mim. Aquele que agüentar caladinho ou gritar menos vence e fica com o pato. O advogado topou, principalmente em razão do físico e da idade do adversário. – Eu sou mais velho, chuto primeiro. O advogado concorda. O caipira desce da mula e lhe dá um pontapé no meio das pernas. O advogado abaixa de dor e recebe outro no rim. Curva-se mais e o velho quebra-lhe o nariz com o bico da bota. O advogado, com o nariz sangrando, levanta e fala: – agora é minha vez. Sou faixa preta em Karatê diz arrogantemente. E o velho: – desisto da disputa. Renuncio meu direito. Você ganhou a pendenga. Pode ficar com pato.
Monta na mula e vai sussurrando: “eu nem gosto de pato mesmo….”