Ataíde Alves (*)
Iniciamos o novo ano com uma revoada na mídia mostrando um vertiginoso progresso na economia nacional. Claro que por trás de tudo isso está o interesse inerente de nossos governantes em apresentar uma realidade irreal para o povo que, por sua vez, leva sobre os ombros a segunda maior carga tributária do mundo, e por ironia do destino, perde somente para sua pátria-mãe Portugal. E não é que o nosso país padece deste mal deste os tempos do colonialismo! Estamos num ano eleitoral de pleito municipal que representa a base dos partidos políticos, portanto nada melhor que apresentar também, vantagens mil em se filiar neste ou naquele partido, sendo que, todos se intitulam – “salvador da pátria”. Mas junto ao balanço positivo do governo sobre a economia, vêm os aumentos abusivos de início de ano, patrocinados principalmente pelos próprios governos municipal, estadual e federal provocando uma reação em cadeia generalizada na alta dos preços, e conseqüentemente, o cidadão, inerte diante do seu mísero salário, vê escapar pelas mãos o seu poder aquisitivo. Resultado: economia de arrocho e evidente recessão gerando desemprego, falência de empresas, pobreza e aumento da violência que está intrinsecamente ligada à problemática social. Diante dos fatos, não precisa ser economista formado, já que o brasileiro para sobreviver precisa nascer economista, para prognosticar com certa precisão como será economicamente o ano de 2004… Porém, por outro lado, o que se tira de proveito da crise é a oportunidade que ela mesma nos oferece para usar a nossa criatividade e, muita vez, sair do comodismo suplantando nossas limitações e transformando-nos em verdadeiros vencedores; o que não isenta de culpa a arte viciosa de governar através da lapidação do ouro do povo. Já o respeitado escritor brasileiro Paiva Netto diz que “É nos momentos de crises que se forjam os grandes caracteres e surgem as mais poderosas nações”. Uma frase de efeito que combina beleza e verdade. Basta analisarmos a história do mundo e veremos uma infinidade de exemplos. O próprio Homem tem representado muito bem esta assertiva do escritor quando insiste na sua trajetória milenar de exaurir obstáculos em busca de uma condição de vida melhor e mais feliz. Podemos dizer que hoje, apesar de tudo, ainda se vive melhor que no passado pelo menos em vários aspectos: nossos pais caminhavam cinco, dez, quilômetros para comprar pães, hoje a padaria do português é logo ali na esquina; estudar então, não era fácil encontrar uma escola; produção agrícola tudo artesanal, era no cabo da enxada. Hoje, além da tecnologia agrícola, existem até os transgênicos para resolver o problema de fome da superpopulação: é lamentável que a ganância de certos homens não permita saciar a fome de todo mundo, mas se quisessem a solução estaria aí; um pacote de arroz por exemplo, em vez de dez poderia custar dois reais, e assim sucessivamente com outros produtos de primeira necessidade alimentar. Logo, o Fome Zero estaria resolvido. Alguém poderá protestar: não é tão simples assim. Claro que não, nem poderia ser com tanta gula econômica por parte dos estadistas e empresários que não admitem, em hipótese alguma, concessões em favor do povo, e pra piorar, o Brasil foi vendido há muito tempo pelos nossos políticos às multinacionais, e, sendo elas filhas do capitalismo desumano, não trabalham com nenhuma chance de retrocesso em seus lucros. Bom, mas se ninguém faz concessão de seus lucros, como solucionar o problema: uma guerra de extermínio para começar tudo de novo!? Talvez. Mas com certeza, não é o caminho dos sensatos que desejam acima de tudo a paz verdadeira e a conciliação do ser humano ante a estupidez da guerra. Enfim, 2004 será melhor que 2003 ou não? Caro Leitor, a resposta poderá vir de sua conclusão após uma profunda reflexão sobre este pensamento do dramaturgo alemão Bertolt Brecht que diz: “Há homens que lutam um dia e são bons, outros que lutam um mês e são ótimos, existem aqueles que lutam um ano todo e são muito melhores, mas somente os que lutam a vida inteira são imprescindíveis”.
(*) É Jornalista
(E-mail:ataidea@ig.com.br)