Rosa Godoy (*)
Saiu no dia 3 de novembro o último relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre violência no mundo, fenômeno considerado previsível e passível de prevenção. As mulheres são mais vulneráveis que os homens à violência e é urgente que os países encontrem formas de reduzir mortes e agressões. “Todo país lida com a violência. O problema é que, normalmente, as medidas são tomadas após o fato e não antes”, diz Etienne Krug, diretor da OMS, responsável pelo relatório que resultou de um esforço de três anos de trabalho e é a primeira compilação de estatísticas amplas sobre violência. Seu intuito é desnaturalizar a violência, desconstruindo a idéia de que a violência é parte inevitável da vida.
O relatório cita as causas mais comuns de mortes violentas. Surpreendentemente, a guerra aparece em último lugar. Das 1,6 milhão de mortes violentas ocorridas 2000, mais da metade foi por suicídio, quase um terço por homicídio e cerca de um quinto por baixas de guerra. Mark L. Rosenberg, diretor da Força Tarefa para Sobrevivência e Desenvolvimento de Crianças, disse que o relatório poderia levar as pessoas a verem a violência de forma diferente. “Violência é dessas coisas que as pessoas acham que nada pode ser feito contra ela. Uma coisa muito importante em relação à violência é saber que ela não é destino e sim um problema como outro qualquer. Se compreendermos suas causas, poderemos entender os resultados: quem é afetado, quem é envolvido – jovens, velhos, homens, mulheres – e quais são os fatores de risco”.
Os mais altos níveis de violência ocorrem envolvendo mulheres. Ela está em toda parte, em todos os países, em todas as classes sociais. Além disso, é um problema pouco denunciado. Segundo o relatório, 68% das mulheres violentadas em Bangladesh mantiveram segredo. 47% das mulheres mortas em Alexandria, Egito, foram assassinadas por um parente, depois de terem sido estupradas e 22% das mulheres americanas afirmam terem sido atacadas ao menos uma vez por um parceiro íntimo. Os EUA ficam atrás de países como Turquia (58%), Etiópia (45%) e Canadá (29%), mas acima da África do Sul (13%) e Filipinas (10%).
O relatório também sugere que a violência causada por parceiros é responsável por um número significativo de mortes entre as mulheres. Na Austrália, Canadá, Israel, África do Sul e EUA, maridos ou namorados foram responsáveis por até 70% dos assassinatos de mulheres. Isso contrasta fortemente com o número de homens mortos por parceiras. Nos EUA, apenas 4% dos homens assassinados entre 1976 e 1996 foram mortos por suas mulheres ou namoradas.
No mundo todo, o suicídio é a 13ª causa de morte. Entre 15 e 44 anos, ferimentos auto-infligidos constituem a quarta causa de morte e a sexta de problemas de saúde e deficiências. Em 2000, 815.000 pessoas se mataram, o que representa 14,5 em cada 100.000 pessoas e uma morte a cada 40 segundos. O problema é particularmente grave na China onde autoridades do governo estimam em 250.000 o número de suicídios por ano. Com um quinto da população do mundo, o país é responsável por cerca de 55% dos suicídios entre mulheres. É o único lugar do mundo em que ocorrem mais suicídios femininos do que masculinos: 1,6 suicídio feminino para cada masculino. Fatores culturais podem estar por trás disso, embora sejam desconhecidas as razões específicas.
Outros países com altas taxas de suicídio são a Lituânia (51,6 a cada 100.000 habitantes), Belarus (41,5) e Sri Lanka (37). Nos EUA, a taxa foi de 13,9 suicídios para cada 100.000 pessoas.
O relatório também cita as mortes por conflitos: enquanto século XVI, 1,6 milhão de pessoas tiveram mortes relacionadas a conflitos, no século XX, houve 109,7 milhões. Atualmente, a África tem os mais altos níveis de mortes por conflitos, com 32 para cada 100.000 pessoas.
Os responsáveis pelo relatório pretendem divulgá-lo em vários países, na esperança de inspirar os governos a adotarem medidas preventivas. As recomendações incluem a elaboração de um plano nacional de ação, a melhoria na coleta dos dados, a elaboração de pesquisas sobre as causas, conseqüências e custos da violência, o fortalecimento do apoio às vítimas e a promoção de respostas, como cuidados reprodutivos, campanhas na mídia para mudar comportamentos e treinamento de pais.
Fonte: Donnelly, John. OMS alerta para violência contra mulheres. The Boston Globe (Washington, DC)