Vera Botta (*)
Sem estranhos no ninho
Semana de lutas. Greve Geral. Dia Mundial Contra a Discriminação Racial que, sob muitas máscaras, ainda permanece. Semana de dizer um NÃO forte e decidido contra a flexibilização da CLT. De questionar o modismo de que é preciso flexibilizar tudo. Infelizmente, nem sempre defendido com boa fé, mas, muitas vezes imposto à força, como um elemento inevitável da modernidade.
Que modernidade desumana é esta? Modificar a CLT, ameaçando direitos conquistados a duras penas é politicamente correto ou recomendável como sinal de modernidade? A flexibilização da CLT está vindo com cheiro de saque, de violação de direitos, de passa-moleque dado aos trabalhadores.
Por trás da propaganda enganosa do governo, a negociação entre trabalhadores e empresários pode ser a válvula de escape escolhida para que os direitos, decorrentes de greves fortemente reprimidas no início do século XX, tenham morte lenta. A história/memória das lutas pelos direitos trabalhistas é mais uma vez engavetada ou intencionalmente esquecida. Mais do que nunca, é preciso lembrar!!!!!
Estamos na semana de lutas. De fazer pressão no Senado para matéria não passar, já que nossos nobres deputados federais deram o sinal verde às mudanças da CLT. E é bom nem comentar a prorrogação da CPMF até 30/12/2004. De olho nesta votação!!!
O não à Terceirização
Terceirização vem de tertius, palavra latina que significa interposição de um estranho na relação entre duas pessoas. Debatida na Câmara Municipal pela segunda vez, por conta de sinais que apontavam a terceirização da merenda escolar, mostrou que os servidores municipais, as mães estão atentos e de olho no que vai acontecer…
As posições dos Secretários Municipais da Administração e da Educação, não claramente explicitadas no caso da merenda escolar, foram questionadas no tocante às condições de trabalho, à saúde, à carreira, à qualidade do serviço prestado, ao concurso realizado, pelos servidores municipais presentes.
Temores, inseguranças, vontade de obter mais informações apareceram nas falas, muitas vezes atropeladas pelo desejo de pôr para fora expectativas, desencantos, incertezas pautadas pelo medo dos riscos, do não saber como será trilhado o caminho de suas vidas. Das crianças com as quais convivem. Vontade de fazer, de colaborar com um novo planejamento parece rediscutir a situação das merendeiras, o desperdício, em alguns casos da merenda, sentimentos que apareciam em meio a reclamações sobre a pouca atenção à sua saúde, à inexistência de terapeuta ocupacional ou queixas sobre a falta de diálogo com o prefeito que “elas afirmam nem ver mais”.
O Fórum Social Mundial rejeitou a terceirização
O Prof. Felipe Luis Gomes e Silva, do Departamento de Administração Pública da Unesp, mostrou que competência acadêmica e sensibilidade podem andar juntas, sem a necessidade de pensamentos únicos. Despiu a terceirização de sua montagem técnica e deu à questão o devido lugar: o campo da política, da vontade de priorizar, além das operações contábeis, os sujeitos. A perspectiva de redução de custos não pode ser dissociada da precarização das condições de trabalho, de uma passarela facilitada para uma situação de superexploração.
A ausência de um Departamento de Recursos Humanos, a necessidade de maior investimento na gestão participativa foram muito bem lembradas pelo professor que confessou sua grata surpresa com a sensibilidade e a conscientização das servidoras municipais.
A proposta de um pacto
As vereadoras Vera Botta e Edna Martins propuseram, no fim do debate, um pacto de ser firmado o compromisso de não retornar à cena riscos de terceirização da merenda escolar. Questão encerrada? A Coluna completa: a terceirização da merenda não havia sido discutida nem com o presidente do sindicato! Se ao individualismo se sobrepuser a solidariedade, o pacto será selado. Sem estranhos no ninho!
Notinhas da Câmara
– O presidente promete medidas enérgicas para acelerar a Comissão de Sindicância Administrativa. De olho nos vereadores faltosos!
– A Coluna lembra que, até hoje, não foi possível realizar um balanço das atividades de representação dos vereadores nas Comissões Externas e nos Conselhos Municipais. Por falta de quorum!!!
– A Semana da Consciência Negra, projeto do vereador Edmilson, deverá ser aprovada. Que tal celebrarmos o Dia Mundial Contra a Discriminação Racial, pensando em cotas para negros em cursos superiores, experiência a ser iniciada em 2003 pela USP, através da Universidade Zumbi dos Palmares…
Louvores, abraços, afagos à Gilsamara Moura que, em sua caminhada de desafios nos traz a encenação do espetáculo ôLoucaõ , criado a partir da vida de Elis Regina.
Termino a Coluna com o coração partido. Acabo de saber da morte de Talora, amigo querido, sempre pronto a nos dar uma palavra de conforto e de esperança. À Sônia e a toda sua família, o meu abraço de alma. Até a próxima!
(*) É Coordenadora do Mestrado na Uniara e colaboradora do JA.