Vera Botta (*)
Que Natal desejamos?
As luzes cintilam menos nestes tempos difíceis. Os sinos talvez soem mais devagar. Os comerciantes reclamam da não revitalização das vendas. Mas não há como apagar a expectativa, talvez um brilho diferente nos olhos das pessoas, uma certa magia que paira no ar.
É Natal!! Nascimento de Cristo! Nas palavras do anjo: “Não temeis porque vos trago novas de grande alegria, para todo o povo, pois na cidade de Davi, vos nasceu hoje o Salvador, que é Cristo, o Senhor” (São Paulo 2:10:11). A data estaria sendo desvirtuada pelas ações dos homens? Estaria a humanidade unicamente movida por atos egoístas, disputas e competições mesquinhas? No campo da política, parece que nunca é Natal. Jogo acirrado de paixões movidas pelo querer, a qualquer preço conquistar votos, muitas vezes com promessas vãs.
E como vai o país?
A vida está difícil, fala-se criticamente na austeridade da política econômica, em um certo desencantamento face ao novo governo. A expulsão da Senadora Heloísa Helena foi, em minha avaliação, um duro golpe no processo democrático longamente construído pelo partido. Como diz muito bem Chico de Oliveira, intelectual respeitado, em carta em que se desliga do PT: “Não é com ações ao estilo de “caça às bruxas” que o PT conseguirá se desvincular da chamada “herança maldita” de F.H.C”…. Não se pode deixar o mito anular a política, a livre associação de idéias, o debate franco e democrático….
Aos cidadãos, cabe recuperar o sentido da política e talvez seja esta a missão que este Natal nos reserva. Separar o joio do trigo, o lado repressor e a dimensão do encantamento ainda guardada no símbolo da estrela. Talvez as duras reflexões críticas que vêm sendo feitas às ações do PT no episódio Heloísa Helena sejam um convite a retomarmos o eixo da mudança, da esperança, das expectativas de se ouvir neste Natal, acima de tudo, os apelos da cidadania…
E as pessoas?
Buscam solidariedade. Desejam abraçar os amigos e se desculpar com os inimigos. Há uma predisposição a se resgatar uma outra dimensão do Natal, talvez esquecida. Parece que o tom do consumismo que faz do Natal uma marca comercial distanciada de suas raízes cede passagem a um desejo de nos aproximarmos mais, de sentirmos perspectivas de um pacto de solidariedade. O que está mudando? Critica-se muito o fato do Natal ter se transformado em uma celebração pagã do Papai Noel. Lamenta-se a redução da data à troca de presentes, ao desejo ilimitado do ter, do consumo desenfreado, das fantasias que se apresentam às crianças, fazendo-as acreditar no mito do Papai Noel. E os mais intelectualizados proclamam, em alto brado, que seus filhos estão livres deste mito e que optaram por não deixá-los conhecer nem o presépio, nem a árvore de natal, nem o bom velhinho… Trata-se, na verdade, de uma opção entre o bem e o mal? A magia que guardamos da infância nos faz menos verdadeiros? Mas, o que será a vida sem os sonhos, as fantasias, talvez as utopias? Pura matéria?! É por isso que o ato de festejarmos a chegada de Jesus Cristo às nossas vidas pode ser comemorado com alegria! Afinal, além de abrir os presentes, saborear as guloseimas e se deixar levar pelo desejo de gastos supérfluos, há um sentimento de amor maior que não pode ser desprezado.
Tem coisa melhor do que ver o sorriso de uma criança e o prazer de fazer alguém feliz? São tais sentimentos que nos fazem pensar no que seria presentear nossa cidade e os seus cidadãos!!!
O que querem os araraquarenses?
Querem, com certeza, paz e segurança. Querem menos violência. Querem ruas mais limpas e terrenos menos vazios. Querem ter moradia própria, podendo pagar suas mensalidades sem ter que viver a difícil maratona de discutir com órgãos que, em princípio, nada têm de humanos!!!
Querem ter suas árvores bem cuidadas e que seja implantado, o mais breve possível um plano de descupinização!!! Querem menos buracos, mais recapeamentos. Querem ter a chance de um emprego: homens, mulheres de mais e de menos idade, brancos, negros, pardos…Querem ver seus filhos encaminhados na vida! Querem a cidade menos retalhada pelas mãos dos homens! Querem nossas crianças e adolescentes priorizados pelo governo!!! Querem uma cultura viva, sem paralelismos!!! Querem (re)acreditar na política e nos políticos! Querem sinceridade nas palavras e nas ações e não promessas que o vento leva…
Querer ter o direito a uma consulta médica sem enfrentar filas. Querem as portas da cidadania abertas, não só porque estamos as vésperas do Natal!! Querem conhecer os direitos e sentir que a esperança pode, desde que exista vontade política, vencer o medo!!!
E o que nós queremos?
Que você seja capaz de continuar a sonhar…e tenha paz. Que você não tenha medo das fantasias da infância, mas as cultive como parte integrante do seu ser…Que o Papai Noel continue presente em suas lembranças passadas e pensamentos atuais como expressão de amor, de um convite à solidariedade e à paz.
Que você faça, deste Natal uma pausa para os sentimentos, para o ser, para o querer, para o sentir…Que você possa, senão comprar os presentes dos seus sonhos, contagiar a todos com seu sorriso, com uma palavra de afeto e de carinho. Que você se permita ser criança e deixe seu coração ocupado só com bons sentimentos…
A Coluna fica por aqui! Desejando que a esperança os acompanhe em todos os dias do Novo Ano. Feliz Natal e que o amor e a saúde possam ser o cardápio principal em nossas comemorações.
verabotta@camara-arq.sp.gov.br