Vera Botta (*)
E quem disse que as paredes não falam?
Histórias e estórias sobre a Câmara Municipal correm à solta na boca miúda e graúda… Com direito a apostas sobre quantos anos as paredes continuarão em pé.
E nesse vai e vem em que decisões vinham sendo proteladas, o sonho da construção da Casa nova desfeito, (re)feito e o jogo das competências seguia emperrando o pedaço, as paredes resolveram se manifestar ruidosamente. E convidaram os batentes das portas, o velho reboque do teto a se juntarem ao seu ato de rebelião… E o barulho contaminou as pessoas!!! De repente, não se tratava mais de um movimento sutil que poderia passar despercebido.
Estouros de reboques e fendas se abriram aqui e ali. E nossa linda, nossa Câmara Municipal tombada pelo Patrimônio Histórico pareceu render-se à espera interminável de laudos e avaliações técnicas sobre o reforço de sua fundação. Agora basta!
E o grito encontrou eco nas manifestações temerosas e indignadas dos (as) assessores (as). De medo, de ansiedade, de desconforto, de indignação. “Até quando vamos conviver com paredes que falam?” E a rebelião ganhou adeptos nos(as) funcionários(as) que cotidianamente ficam mais de 8 horas sob estas turbulentas paredes.
O “não” falou mais alto
Enquanto técnicos especializados estudavam, observavam e caprichavam nos seus pareceres, numa 6ª feira – que não era 13, mas 26, o seu dobro – um revigorado PLUFT abalou corações e mentes. As assessoras tomaram à frente de mais esta guerra!!! Estas mulheres que estão longe de ser as de Athenas… “Não queremos trabalhar com dor de cabeça e com medo… Como posso passar tranqüilidade à população, se estou intranqüila?” E aos desabafos, somou-se uma reação de indignação. Afinal, o que é viver sob o risco constante de ser golpeado(a) por uma parede cansada?
A rebelião em curso ganhou, nos vereadores(as), quase em consenso, parceiros. E decidir suspender o atendimento ao público não foi fácil, nem uma decisão leviana.
Fechar as portas da Casa do Povo: coerência ou precipitação?
O jogo estava em aberto. Evidências indiscutíveis. O fato do prédio não ter saídas de emergências, a constatação de que o solo da Câmara não apresentava resistência, necessitando de reforço da fundação – elementos tecnicamente provados – associaram-se ao sentimento de insegurança, à impossibilidade de ali permanecer.
A decisão da Mesa Diretora, em conjunto com parte dos vereadores foi acertada. Medida corajosa de bom senso. Quem fala em precipitação, certamente não leva em conta que por trás das turbulências das paredes e da fragilidade do “solo de aterro” construído nos anos 20 do século passado, há pessoas, cuja segurança física e emocional deve ser preservada. Afinal, irresponsáveis seríamos se deixássemos as dúvidas técnicas ao Deus dará… E posteriormente, lamentássemos estragos maiores… seqüelas nas vidas das pessoas…..Ai, Ai, Ai…
De lanterna na mão, a busca de soluções
A expedição da última 2ª feira formada por Vereadores, pelo Presidente da Câmara, pela Direção Administrativa, por assessores parlamentares visitou e vistoriou lugares…
O antigo J.A.P. – Instituto Araraquarense de Psiquiatria – área incrível, com árvores frondosas e espaço verde invejável, a ser urgentemente reparado, nos fez pensar. No futuro, talvez. Se não uma nova Câmara, a necessidade de se devolver, em condições de uso, o prédio à comunidade. O antigo prédio onde funcionou o correio na Avenida Bandeirantes, apesar de não comportar a Câmara, merece ser olhado com carinho, antes de começar a depredação…. O edifício que abrigou o Centro de Computação do Banespa, nas imediações do Shopping Jaraguá nos deixou de água na boca. Especialmente pelas mangueiras e pés de jambo carregados de frutas que, por obra da natureza, permanecem vivos e nos deixaram um convite: “Voltem para desfrutar, não nos esqueçam”. A ronda nos levou ao prédio da Avenida José Bonifácio com a Rua Carvalho Filho, programado inicialmente para ser a Casa Brasil, adaptado para a Receita Federal… Em condições de abrigar, em curtíssimo prazo, a Câmara Municipal… Sem precisar praticamente de investimento, seria ideal pela sua localização central e pela área construída. Ufa!!! Uma luz no fundo do túnel???
E agora José??
Decisão tomada, em princípio com aval da Prefeitura, mãos à obra. Enquanto se providencia o parecer do avalista da Prefeitura, funcionários e alguns vereadores começaram a juntar idéias para adaptação… De forma a ter, na Câmara provisória, um lugar tranqüilo e aconchegante. É sempre bom sonhar…
Há acertos administrativo-financeiros a serem feitos. Há um caminho a ser trilhado. Quem sabe não teremos a primeira experiência de Câmara Itinerante nas próximas semanas? Esperamos ter serenidade e bom senso. Recebendo prazerosamente as sugestões e manifestações de solidariedade. Aceitando as críticas da parte daqueles que apontam neste lamentável episódio, mais um escorregão da Câmara que tem sido, muitas vezes injustamente, vidraça…
Tomo de empréstimo um verso de um arquiteto do Instituto Tomie Ohtake: “A palavra consenso nunca me atraiu. Procuro uma arquitetura contemporânea, de vanguarda. E vanguarda sempre foi polêmica. E quem tem medo de polêmica nunca será de vanguarda”.
As paredes e as pessoas aplaudiram, agradecendo. A Coluna fica por aqui! A Primavera quente, as flores desabrochando e, quem sabe, um novo ciclo para a Câmara Municipal??? Meus cumprimentos às secretárias e aos secretários pelo seu dia, 30 de setembro, com um afetuoso abraço aos que convivem com nossas ansiedades e rabugices, no dia-a-dia da Câmara e da Uniara. Parabéns aos companheiros vereadores e vereadoras pelo dia 1º. Afinal, vereador também tem direito a ter um dia especial. Até a próxima!!!
(*) É pesquisadora da Uniara e Vereadora pelo PT.