Vera Botta
Celebração à UNESP: a emoção deu o tom.
Dia 25 de junho. Clima de festa de São João no ar. Com direito à performance teatral da 15ª Semana Luiz Antônio Martinez Corrêa, com bem diz o título, “uma semana de tirar o chapéu”. Luizinho presente na fogueira que parecia incendiar nossos corações. O saguão do SESC, iluminado e florido, preparava-se para a homenagem à UNESP, com a entrega do diploma de reconhecimento público proposto pelo vereador Edmilson de Nola Sá.
A comunidade unespiana foi chegando, de mansinho, na espreita de um dia especial. A velha guarda emocionada. Abraços saudosos, vontade de saber como vai a vida, alegria pelo (re)encontro. O tempo parecia não ter fronteiras. Estávamos, de novo juntos na sala dos professores, no cafezinho com os funcionários, encontrando nossas raízes. Nossos elos de ligação com a UNESP.
A jovem guarda também se fez presente. Todos que lá estiveram pareciam ter algo em comum, refletido no capricho com o visual, no brilho dos olhos, na vontade de ver como seria, afinal, o cerimonial. Diferente dos rituais acadêmicos de defesa de teses. Diferente das audiências públicas de prestação de contas. E na expectativa e atencioso acompanhamento ao vídeo, muito bem feito sobre o Campus de Araraquara, o silêncio comovido alternou-se com poucos risos e comentários respeitosos.
A UNESP precisa de reconhecimento público??
Tem uma longa história de conquistas e realizações. História anterior a sua formalização. Antes da UNESP, haviam os Institutos Isolados do Ensino Superior do Estado de São Paulo criados em 1957. Remeto-me ao nosso querido Dante Tringali, professor aposentado que diz orgulhosamente que a UNESP continua convivendo com os seus sonhos: “Lembro-me que a Faculdade de Araraquara começou a funcionar num grupo escolar em frente do campo da Ferroviária. Sugeri, como proposta para sua resistência, o lema Humani nil a me alienum, cujo significado nada do que é humano me é estranho tem pautado sua trajetória”.
A criação da Unesp se deu posteriormente, em 1976. Momento de ansiedade, de renovação cercada de temores, pela transferências de docentes, pelo medo da mudança. Disputas à parte, é o terceiro título de reconhecimento público votado e outorgado pela Câmara Municipal de Araraquara em toda a sua existência… Valeu Edmilson!!! A UNESP merece, sim, reconhecimento. Por tudo o que tem feito no campo da produção do saber, na extensão de serviços à comunidade, no investimento feito para derrubar mitos e dogmas preconceituosos.
E tem muito mais. Pela dinamização dada à arrecadação de cada município onde há um Campus da Unesp – e a pesquisa do professor Bovo, vice-diretor da FCL não nos deixa mentir – pelos vôos ousados no campo das parcerias com as prefeituras, por todo o acúmulo que tem se irradiado em sua história. Seriam incontáveis os feitos desta universidade que tem nos dado, sem dúvidas, inúmeras lições de vida no campo acadêmico e na experiência privilegiada de fazer amigos, guardar lembranças e cultivá-los com um código próprio, o código do coração.
E a entrega do diploma?
Tenho que fazer um parênteses. Nosso querido presidente, Dr. Lauand perguntou-me à tarde se eu poderia dirigir a Sessão Solene. Com cerimonial e tudo. Confesso que meu coração bateu forte… Emoção, ansiedades, as marcas do sentimento de pertencimento me atingiram em cheio. Imediatamente pensei: “Como posso dirigir uma sessão da Câmara Municipal dirigida à Unesp, espaço em que passei quase toda minha vida, comportando-me de forma imparcial, como uma eficiente diretora dos trabalhos?” Tive um momento de oscilação. A força da homenagem, a vontade de ver nossa Unesp mais próxima da cidade e vice-versa, a importância da iniciativa do vereador Edmilson falaram mais alto…
Com toda a assessoria do Kiko, “sob a proteção de Deus,” declarei aberta a sessão. Feliz por ter tido o privilégio de dirigir uma sessão de homenagem a uma instituição, árvore fértil que, sem agrotóxicos ou adubos químicos, continua florescendo, renovando em nós a expectativa de boas colheitas.
Um pedaço de mim
Foi impossível presidir a sessão de homenagem à Unesp sem pensar em toda a minha ligação de 40 anos com essa universidade. Começou mesmo antes dela ser Unesp. Na FCL, fiz minha graduação, defendi meu doutorado, minha livre docência, meu concurso de titular, toda minha carreira. Como Instituto Isolado ou como Unesp, ensinei por mais de 30 anos. Razões para um forte enraizamento…
Como fazer um balanço da UNESP? Sinto saudades e ternura pelos tempos de estudante. Fui da primeira turma de Ciências Sociais (1963 – 69) cursada em tempos sombrios. Apesar disso, havia em nosso grupo o germe de uma plenitude a se realizar. Não havia o constrangimento dos limites. No nosso tempo. Frase de gente velha, diriam alguns. Frase de gente que carrega a marca dos tempos, diriam outros. Um tempo conhecido pelas marcas dos anos de chumbo, como se não tivesse memória, falas, vozes, sentimentos. E tanto eles existem que, estávamos – pessoas do nosso tempo – presentes na entrega do diploma de reconhecimento público à UNESP.
O significado de pertencer à UNESP
A UNESP tem uma história objetiva, expressa em índices de produtividade científica, em centros de excelência, em posições de vanguarda, em inúmeros serviços prestados à cidade. Esta história, por si só, justificaria muitas homenagens. Entretanto, uma instituição se faz pela ação das pessoas, pela sementeira cotidiana da teoria e da prática. É por isso que a UNESP é o que é, pelas pessoas que a ela dedicaram parte de suas vidas…
Na sessão solene, senti nos presentes, no sorriso, nas lágrimas disfarçadas, a força luminosa da condição de pertencimento. Força que nunca será usurpada. E quantos alunos passaram por nós? Pessoas simples, famosas. Pessoas que hoje estão no comando de nossa Morada do Sol, como nosso querido Prefeito. Pessoas que, de formas diferentes, nos incentivaram a nunca desistir, mesmo em tempos difíceis.
E de quantas lutas é feita a história da UNESP??
Edmilson, Edinho, os diretores presentes, professores, funcionários, frutos da UNESP têm mostrado, nas palavras e ações, que as lutas miúdas e graúdas têm valido a pena. Perdemos professores, alunos, funcionários, mas não deixamos de lado nossos maiores valores: a vontade de caminhar, de produzir conhecimento com retorno social, a coragem de seguir além, o sonho, a utopia.
Por tudo isso foi justíssima a homenagem proposta pelo vereador Edmilson. De parabéns, companheiro! Todos os que ali se reuniram para celebrar a UNESP, coração e alma sintonizados sabiam bem do seu significado para a cidade e para suas vidas.
A Coluna fica por aqui. Aos meus leitores, me perdoem a sessão de reminiscências. Hoje estou na UNIARA, com muita garra, mas há momentos em que o passado se faz presente. Viva São Pedro! Que ele nos dê passagem…Até a próxima!
(*) É pesquisadora da Uniara e colaboradora do JA.