Vera Botta
A esperança venceu o medo??
Objetivo de polêmicas, críticas envolvendo até mesmo o “staff global”, a frase “a esperança venceu o medo” deixou de ser um lance de marketing eleitoral. Passou a ser a expressão de um imaginário coletivo. Pessoas de diferentes classes sociais concentraram nas eleições de 2002 sonhos, desencantos, vontade de mudança, de ser feliz.
De que é feito um estado de felicidade? Da alegria, de sorrisos, da vontade de se abraçar, de comemorar, de extravasar gritos contidos na garganta. A vitória de Lula foi cantada como um hino de esperança, de reconstrução da identidade nacional. O povo parecia ter eleito a sua própria cara, resgatando sua auto-estima.
A posse de Lula nos mostrou em prosa e verso, em fatos, em registros, que muita coisa havia sido tirada do povo brasileiro, mas não a esperança, a garra, a fé. Os preconceitos dissimulados ou abertos não conseguiram amordaçar, pelo medo, a vontade de mudança. E quem empinava o nariz quando se discutia o grau de escolarização de Lula, foram forçados a se curvar à história de um torneiro mecânico que havia em sua vida acumulado sensibilidade e sabedoria, mesmo sem escrever livros ou falar línguas estrangeiras.
Um homem pode mudar um país? Passada a festa, a eleição, ficou-se na espreita da utopia. Os eleitores de Lula tinham bem vivas as palavras de nosso presidente de que jamais se curvaria aos credores estrangeiros, em detrimento da cesta básica dos 54 milhões de brasileiros com renda mensal inferior a R$ 100,00.
Desafios iniciais. Quem seria a equipe econômica, a de responsabilidade social? Como agradar tantos setores divergentes que apoiaram Lula? E as tendências do PT iriam encontrar um consenso? Definições tomadas, mãos à obra. Muitos egos inflados, muita gente que almejava funções de poder se sentindo à margem. Muitas pressões corporativas. E o recadinho de Frei Beto, firme e carinhoso, não admita escorregões. “O dia já veio e bonde não há. Deus lhe deu os dons. E você soube aprimorá-los. Resta agora fazer da política a mais perfeita obra de caridade”. (Frei Betto, 19/11/2002)
Oito meses depois: Como vai a esperança??
Críticas e oposição são sempre parte de um processo democrático sério. Afinal, sem tais ferramentas, vamos ter, pela frente, a dura truculência dos anos de chumbo.
O fato do governo Lula enfrentar oposição, a crítica à austeridade da política econômica, o termômetro do risco – país, críticas beirando o delírio. Lula passou a ser culpado por todas as mazelas do país. Há problemas sim. Há heranças funestas que não são solucionadas em um passe de mágica ou pela vontade de fazer política com ética. Há tensões avolumadas. Pouco se fala do que vai indo bem, como por exemplo, a luta pela manutenção dos subsídios aos pequenos agricultores, o Plano de Safra proposto para os assentados. E o MST? “O governo Lula vai ficar refém das ocupações de terra? Mesmo das terras produtivas?” Perguntas que beiram as raias da loucura. Cobranças que se fazem como se vivêssemos o presente, independentemente dos erros do passado… Nada é impossível de mudar, mas mudar não é nada fácil.
O duro ônus da reforma
O ritmo acelerado imprimido à votação da Reforma da Previdência, os acertos e ajustes nos causam perplexidade. A perda da esperança jamais, nem o medo. Mas uma certa insatisfação que não tenho problemas em confessar, mesmo sendo petista convicta. Serão os servidores públicos os vilões dos rombos da Previdência? Debates e debates foram realizados. Na retórica, todos os direitos adquiridos. E na prática? Da forma como é colocado o debate na imprensa, a impressão que se tem é que os funcionários públicos, privilegiados de carteirinhas, estariam usufruindo de um direito totalmente ilegal. Não é nada disso.
Assim como não posso aceitar o argumento lançado na base da “salvação” ou “morte” de que a Reforma da Previdência passou a ser decisiva para a salvação da economia do país. Por trás da criação dos fundos de pensão, não estaria o avassalador, ainda que posto como invisível, interesse dos banqueiros nacionais e estrangeiros?
E a educação? As Universidades como ficam?
Revoltas, ameaças, perdas…Muita gente sem saber o que fazer. Caos, pois um novo êxodo dos pesquisadores – lembre-se que o provocado pelo governo FHC não foi pequeno – prejudica, sem dúvida, a educação de jovens, o futuro do país. Afinal, a aposentadoria não é um capítulo idílico de nossa história. Foi preciso muita luta, carregada de medos e de esperanças.
É possível evitar a reforma??
Não, ela é necessária, não como fator de ajuste do déficit fiscal, alimentado pela dívida pública interna e externa. Por que não uma ampla auditoria nas contas? E a unificação dos sistemas público e privado? Por que não propor uma gestão mais democrática da Previdência? Lula na cidade! Bem vindo seja! Companheiro, talvez uma conversa crítica, mas amena seja o desejo de muitos araraquarenses. Queremos uma Previdência justa, queremos discutir a questão quase “sagrada” dos marajás, mas não podemos nos silenciar diante dos riscos que se apresentam para o serviço e para os servidores públicos. Queremos recebê-lo com a mesma energia positiva de sempre, pois somos filhos do sol, herdeiros de seus bons fluidos. Queremos fazer valer o simbolismo da estrela. Queremos neste mês em que nossa cidade, velhinha, mas consciente e corajosa faz 186 anos, dizer-lhe que ainda acreditamos em todos os princípios que defendemos nesta trajetória de mais de 20 anos. Queremos neste bem vindo dizer-lhe que você e o PT fazem parte de nossa vontade de ter uma Morada mais cidadã! Nossa Velha Senhora não quer ficar entre a esperança e o medo! Quer compromisso com a verdade e com o direito de defender o que sempre lhe disseram sobre a nossa estrela. Bem vindo Lula!
A coluna fica por aqui. Na próxima, voltamos com os paradoxos da Câmara. Parabéns ao nosso prefeito que tem lutado muito diante da crise financeira.
Boa semana a todos. Até a próxima!
(*) É vereadora pelo PT, pesquisadora da Uniara e colaboradora do JA.