Vera Botta (*) vbotta@techs.com.br
A cidade em movimento: sinal de cidadania?
Notícias promissoras acenam para uma agenda de desenvolvimento regional que não tem donos, mas parceiros. O convite à parceria adquire fortemente o significado de um convite às ações integradoras. Prefeituras da região, especialmente de Araraquara, São Carlos, Rio Claro, Matão, entidades empresariais, associações comerciais, sindicatos, organizações não governamentais firmaram no curso do Seminário Regional de Desenvolvimento Econômico realizado na Uniara entre 15 e 17 do corrente um pacto de solidariedade.
Pacto que mostrou claramente que a eficácia de ações voltadas ao desenvolvimento exige mais do que retórica e palanque, vontade política de investir em ações integradas de geração de trabalho e de renda. Ações comprometidas com um projeto de desenvolvimento que tenha como meta central o ser humano, os interesses coletivos.
O que mostram os retratos de nossa Morada?
A qualidade de vida vai bem? Caiu o número de desempregados? Avançou-se na democratização do acesso aos serviços públicos, aos bens culturais, aos benefícios da tecnologia? As filas de espera nos postos de saúde diminuíram? O número de mães que reivindicam vagas caiu? O que isso revela? As mães que estão no mercado informal estão podendo deixar seus filhos nos CER’s? A participação popular através dos OP s gerou mais direitos?
Direitos à saúde, à habitação, a uma vida digna vêm sendo efetivamente garantidos? Como falar em situação de bem-estar social diante de notícias cotidianas de crimes hediondos, de violências que parecem não ter fim! Por que este clima de insegurança crescente? Produto da pobreza escancarada? Da exclusão social?
O que queremos em nossa Morada?
Melhoria dos serviços públicos? Atendimento digno nos postos de saúde? Agendamento de consultas melhor planejado? Limpeza nos terrenos vazios, cujos proprietários começaram a ser cutucados com multas, avisos-prévios de punições mais apimentadas!!
Queremos mais empregos? E os anúncios das empresas que vão se instalar em nossa cidade não animam os araraquarenses? Será a secura do ar, a espreita da maldição das queimadas? Será o efeito irradiador de um desencantamento do mundo?
Temos diariamente, em nossos gabinetes, demandas e reclamações. As demandas mostram claramente uma curva ascendente de carência de empregos, especialmente de jovens que não têm oportunidade de ter a chance do primeiro emprego, pela desculpa-padrão “Falta de Experiência”. E experiência não é um direito a ser adquirido? E as mulheres e homens de mais de 40 anos? Devem ser considerados cidadãos de segunda classe por estarem envelhecendo e serem menores suas chances de se empregar? Problemas, problemas…
E a Câmara paga o pato
E as ondas das rádios continuam a responsabilizar a Câmara pelos problemas dos serviços públicos, pela falta de um plano diretor, até pela mal contada história de um cemitério em pleno centro residencial. O fato de serem os vereadores utilizados como bodes expiatórios, sendo continuadamente apontados como vilões da história favorece a cidade? E a qualidade de vida de seus cidadãos? Ou são palavras ao vento, retórica, nada mais do que retórica… que vem semear a destruição. O que fazer? Navegar em outras ondas é preciso, até como sinal de que “cautela e caldo de galinha” não fazem mal a ninguém…
A hora e a vez de Amar
Associação dos Mutuários de Araraquara e Região, a AMAR tem demonstrado, em ações concretas para fazer valer suas reivindicações, que moradia e cidadania têm que caminhar juntas!!! A reivindicação vem de longe. De uma história pouco explicada de um convênio entre Cohab-Bandeirantes e a Prefeitura Municipal de Araraquara. No início dos anos 80. De promessas não cumpridas. De reajustes que ficam muito acima dos parcos aumentos (?) salariais. Uma história de irregulares contratos de gaveta. De situações pouco transparentes. De temores agravados sob ameaça das cartas de despejos que parecem, insensivelmente, comunicar aos cidadãos que a perda da moradia não vai mudar em nada suas vidas.
Os mutuários não querem mais negociações isoladas, nem “salvadores” da Pátria. Não querem ter que se subordinar às coações das assinaturas de documentos! Medos e intranqüilidade à parte, os mutuários decidiram dar um Basta! A pressão realizada em frente à Prefeitura tem surtido efeitos. Perspectivas da situação dos inadimplentes ser avaliada por uma assistente social designada pela Prefeitura. Assessoria Jurídica conveniada com a Uniara. Audiência com a Cohab. Empenho da Coordenadoria Municipal de Habitação nas regularizações das ocupações!!! Tudo leva a crer que o movimento quer muito mais do que retórica! Na Morada da Cidadania, AMAR quer moradia!!! Sonho que se sonha junto pode ser realidade!!!
E a rodada de negociações com os Servidores?
Na mesa, uma prova de que, felizmente, foram superados os tempos em que falar em data-base era considerado inconstitucional!. Na negociação, em alguns momentos, expressões de crítica, mas também de aprovação. Na terceira rodada, caminhou-se para ampliação de direitos. A questão do reajuste salarial, o nó górdio da negociação foi deixada para os próximos rounds. A promessa da Secretaria da Administração entregar no próximo dia 6 projeto do Plano de Cargos, Carreira e Salários cria expectativas. Será que esta novela vai desenrolar depois de 20 anos??? Nossa Velha Senhora que andava desanimada com tantas manchetes de violências e massacres reapareceu com um ar esperançoso… “Acho que dessa vez, vamos mostrar que este plano não é uma lenda”… para completar, baixinho… Se assim não for, vou ter que dizer, em alto e bom som que a cidadania dos servidores municipais fica na retórica! “E eu gosto mesmo é de ver a cidade em movimento! Irradiando e cantando a ciranda da cidadania” completou com um olhar brilhante.
A Coluna fica por aqui. Deixando a todos meus leitores uma pergunta: vocês concordam que a cidadania caminha em nossa cidade? Espero críticas e sugestões. Um abraço a todos!!
(*) É vereadora pelo PT e pesquisadora da Uniara.