Vera Botta (*)
Feliz Ano Novo todo
Tempo de balanço. De pensar. De renascer. De deixar os sentimentos desabrocharem. Sem disputas individualistas que se fazem presentes em nosso cotidiano. De buscar a paz, cada vez mais necessária ao nosso coração, à nossa vida. A paz, a alegria, a felicidade não são temas para pensar. Só podem ser sentidas. Não há explicações lógicas e/ou racionais para isso. Não pretendo, pois, fazer um tratado cartesiano de como se pode associar o bem estar à paz.
Há explicações para o que é a paz? Ela pode ser sentida, não explicada. Nós vivemos num mundo em guerra. Será realista acreditar que pode haver paz no mundo? Ou a paz está em cada um de nós?
De que paz a sociedade precisa?
A sociedade precisa de ações solidárias. Da vontade política dos poderes para que as pessoas sejam mais felizes. De compreensão. Um projeto de lei que institui a contribuição para custeio do serviço de iluminação pública – CIP – aprovado nas instâncias federais e encaminhado à nossa Câmara Municipal pelo Executivo não pode ser motivo de tanta discórdia e de uma verdadeira guerra política!!! Estamos a 5 dias do final de um ano difícil. Não podemos dar-lhe o desfecho de uma guerra por conta de posições prévias e fechadas. A sessão extraordinária de hoje (dia 26) de nossa Casa de Leis foi um anti-exemplo de paz. De tentativas egoístas de fazer, da arena política, um campo de disputa pessoal. Afinal, o que está no centro do debate não são as reivindicações e demandas da população. Nem a perspectiva de ser oferecida maior segurança aos nossos cidadãos com a melhoria da iluminação pública.
Nem precisamos forçar muito a memória.
Cobranças de taxas voltadas a esta questão – na época chamadas de TIP, taxa de iluminação pública – foram feitas em muitos outros governos. O problema assume outras facetas. Parece tratar-se de mostrar quem pode mais, comportamento que está, literalmente, na contramão da conquista da paz. A guerra digladiada entre situação e oposição nada acrescenta às necessidades da população. Fala-se em agenda de segurança pública. Em pactos de redução da violência. Em aprimoramento do sistema de justiça penal.
Enquanto isto, em nossa Câmara, não conseguimos sequer um pacto de convivência política para votar projetos pensando-se no interesse coletivo. A cidade lamenta! E nossa Velha Senhora não ficou nada contente em saber desta guerrinha egoísta que pode ferir a felicidade e a cidadania que ela quer desejar a seus filhos nesta passagem de ano. E entre suspiros e lamentos, mandou aos nossos poderes o seguinte recado: “Briguem menos. Preciso de paz, de solidariedade ao meus (nossos) problemas. Quero políticos que ajam com humildade, sem vaidades vãs. Quero desejar a meus filhos um Novo Ano de esperanças. De menos desigualdades. De muita luz”. E não quis discutir mais nada, porque como já dissemos, para nossa querida Araraquara, a paz não é necessária na mente, é necessária no coração. Quando nos esquecemos do que significa estar em paz e só nos agarramos a fórmulas para a criar, temos problemas. “Procurem a paz dentro”, foi seu último recadinho de 2002. Se estivermos em paz interior, teremos paz, seja qual for a guerra que se travar lá fora.
O que esperar de 2003?
Não existem mudanças mágicas, assim como não se tem paz por decreto ou por projetos de lei. O que dizem as manchetes? “Oposição promete usar artifícios regimentais. Agressividade pode marcar nova gestão”. “Poluição sonora aumenta na região.” “Vereadores terão reajuste em Ribeirão, São Carlos, apesar da medida ser irregular, segundo o Cepam e ameaçar orçamentos municipais.”
As mensagens são pouco animadoras. A questão do reajuste salarial dos vereadores está sendo encarada, felizmente, com mais bom senso em Araraquara do que em outras cidades da região. A Câmara Federal aprovou um aumento salarial para os deputados de R$ 8.000,00 para R$ 12.720,00. Em menos de 2 minutos. Infelizmente, há projetos sociais de enfrentamento à exclusão que tramitam na Casa há anos. E nada! Mas, na questão do salário, a votação foi “vapt-vupt”.
De acordo com uma emenda constitucional que determina que os deputados estaduais recebam até 75% dos salários dos federais e os vereadores, dependendo do tamanho da cidade, de 20 a 75% dos salários dos parlamentares estaduais, algumas Câmaras já começaram a definir reajustes, sob o argumento de ser automático o aumento. E os orçamentos municipais comportam? Num período de desemprego gritante, de poucos programas sociais, de cortes e cortes, como explicar à população a perspectiva de reajuste do salário dos vereadores? Entre o legal e o legítimo, tem muita diferença. Felizmente, o presidente eleito para nossa Casa de Leis, Dr. Eduardo Lauand tem tido cautela e bom senso, ao lembrar que não se pode definir reajustes para legislaturas em curso. E, nesta questão, a “oposição” não fala em qualquer impedimento legal!! Durma-se com um barulho destes! A Coluna vai informar, passo a passo, o desenrolar desta história…
Uma pausa
Como o tempo presente exige paz, propomos uma trégua. Que possamos concretizar esperanças. (Re)nascer no sentido mais profundo do espírito. Cultivar a paz na forma mais simples que a vida nos permita. Que o Novo Ano materialize perspectivas de uma sociedade menos desigual, mais fraterna. Que no dia 1º, entre tantos discursos de posse, tomemos posse de nós mesmos. Para recriar a paz e valorizar sentimentos de um amor maior. A Coluna deseja a todos seus leitores um 2003 verdadeiramente novo. Que possamos seguir em frente de alma leve e coração aberto. Muita paz! Saúde! Chega de guerras! Alegrias nos próximos 365 dias! Até a próxima!
(*) É vereadora pelo PT e pesquisadora da Uniara.