Veracidade

Vera Botta (*)

A luta de Zumbi e a queimada da cidadania

Semana da Consciência Negra. Mais uma vez a necessidade imperiosa de repudiarmos, em palavras e atos, a discriminação e o preconceito, marcas de uma história de dívida acumulada com a população negra e afro-descendente de nosso país.

A luta de Zumbi dos Palmares assassinado em 20 de novembro de 1695 impõe para nós, cidadãos e legisladores, o desafio de se buscar alternativas para eliminar os preconceitos e o racismo. Fechada a cortina dos espetáculos, dos eventos, da bem vinda comemoração do Dia Nacional da Consciência Negra, é preciso continuar… Lutando para ampliar e garantir o acesso aos negros nas universidades. Conscientizando a todos do valor e da influência da cultura africana em nosso país. Propondo o ensino e a divulgação desta história, geralmente distorcida, em nossas escolas públicas, no ensino fundamental, visando formar nossos alunos sem as marcas viciadas da discriminação.

Há muito e muito por fazer em termos de políticas afirmativas. A questão do preconceito, como tantas outras que dizem respeito à construção da cidadania não tem donos… A luta de Zumbi de Palmares nos traz muitos desafios… Especialmente o de marcarmos no domínio público, o início de uma nova história na qual a conquista da cidadania não passe pela cor da pele…Que sejam destruídas as máscaras da democracia racial e que sejam abertos caminhos para que o movimento negro, em conjunto com outras forças da sociedade civil, faça uma grande revolução cultural capaz de fazer desaparecer todos os atos racistas de nossa sociedade…Afinal, nossa dívida para com os negros tem mais de 500 anos!!!

As vozes do fogo. O que dizer das queimadas?

As nuvens de fuligem negra que pretejam nossas casas durante seis longos meses do ano, o período da safra da cana-de-açúcar, continuam sua marcha incólume. Parece que estamos diante de um dado inquestionável. Os incômodos causados pela queimada da palha da cana, de abril a novembro fazem parte – e procura-se naturalizar este fato – dos infortúnios que afligem os horizontes de nossa cidade. Perde-se tempo limpando a casa, gasta-se mais água, prejudica-se a saúde. Quem paga o preço? Quem indeniza a população?

O fim da queimada é consenso?

Retomo de meus arquivos matéria de 8 anos atrás. Em debate sobre as queimadas da palha da cana-de-açúcar organizado pelo nosso prefeito, ex-vereador Edinho Silva, forças representativas da sociedade disseram Não às queimadas!!! Nas palavras do Dr. José Roberto Marques, então promotor na Comarca de Matão, o empresariado do setor deveria indenizar a sociedade civil pelos danos da queimada da cana. Em uma linha mais conciliadora, o dr. José Roberto Gobiotti, na oportunidade curador do Meio Ambiente de Araraquara dizia que deveria haver entendimentos entre os setores envolvidos no sentido de se ir progressivamente, por meio da legislação e da extinção gradual, minimizando os males causados pela queimada. Na oportunidade, o engenheiro Almir Zancul, então gerente distrital da CETESB, em sua larga experiência na coibição aos abusos da poluição do meio ambiente defendia prazos para o fim das queimadas.

E as vozes pareciam unanimente apontar a necessidade do fim das queimadas. O dr. Antonio Ribeiro Franco, da Medicina Social da USP de Ribeirão Preto demonstrou, com dados, o aumento das doenças respiratórias em cerca de 200% durante o período das queimadas. Élio Neves, presidente da Feraesp, fez cair por terra o argumento de que o fim das queimadas prejudicaria os trabalhadores. “Basta oferecer instrumentos de segurança e uma remuneração condizente com o esforço dos trabalhadores”. Afirmação nada atraente para os empresários do setor. O tempo passou, o “acordo” de cavalheiros foi quebrado, a mecanização do corte da cana tem seguido sua marcha ascendente, independentemente das queimadas! E o consenso ficou no discurso!!!

8 anos depois…

Uma lei estadual de setembro de 2002 adiou o fim das queimadas. Por muitos e muitos anos. 2020? 2021? Ambientalistas protestaram em frente à Assembléia Legislativa. Queimando um facho de cana e prometendo devolver nas urnas a “fumaça que os deputados ajudaram a propagar no interior paulista”. O que fazer? Há 7 anos atrás, exatamente a 17/04/95, a Câmara derrotou projeto de minha autoria que previa o fim gradual das queimadas, literalmente quebrando as regras do regimento interno. Se o tivéssemos aprovado, estaríamos nos aproximando do fim desta “saga maldita”. Não adianta chorar o leite derramado.

Daí a Audiência Pública realizada ontem, na Câmara Municipal, com participação do dr. Marcelo Pedroso Goulart, batalhador incansável desta causa, do dr. Marcos Arbex, pneumatologista respeitadíssimo que, com pesquisa científica, mostrou que efetivamente a sobrecarga dos gases emanados das queimadas põe em questão o direito à saúde, condição de cidadania… Do dr. José Jorge Guimarães, da CETESB. Do representante assessor das usinas da região, João Pereira Pinto. De Élio Neves, presidente da Federação dos Assalariados Rurais do Estado de São Paulo. Do Coordenador do Meio Ambiente da nossa Prefeitura, Marco Aurélio de Carvalho. Discutir é preciso!

Enfrentar a questão das queimadas significa, de fato, assumir compromissos com a despoluição da cidadania!!!

Notinhas da Câmara

– A Comissão de Obras ganhou bonito! A lei de adequação de obras irregulares parece estar com os dias marcados. Com direito a funeral comemorativo!

– A disputa pela Presidência vem surpreendendo. Marcou-se dia 5 para discutir projetos de gestão da Câmara, não somente nomes! Aleluia!

Boa semana a todos! Até a próxima!

(*) É vereadora pelo PT e pesquisadora da Uniara.

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