Vera Botta (*)
O grito dos excluídos: quem grita?
Dia de nossa Independência. Mais do que nunca, é preciso construir nossa soberania, num grande mutirão, onde todos são chamados à luta. Chega-se, assim, ao Grito dos Excluídos, o qual iniciou-se no Brasil em 1995. Por que o clamor? Vem da constatação de que grande parte da população brasileira e de todos os países do continente latino-americano vem, cada vez mais, sendo excluída dos benefícios do desenvolvimento tecnológico e econômico, privada dos direitos fundamentais à vida. Independência em rota de colisão com uma escancarada situação de exclusão. Paradoxos que nos levam a pensar, acima das comemorações, no caminho de reconstrução da soberania nacional. De dizer basta ao modelo neo-liberal globalizado e ao sistema financeiro internacional, voltado, passo a passo, à maximização dos lucros. Metas que se apoiam em cifras, esquecendo-se da situação de fome e de miséria de milhões de pessoas. E os excluídos têm rostos, tem marcas sofridas de uma vida de muitas lidas. Têm sentimentos, têm vontade de participar da transformação de nossa sociedade. Sentem indignação face às injustiças. Querem medidas concretas contra a violência. Não agüentam mais independência da fachada.
O Grito dos Excluídos tem, pois, neste momento extremamente importante de nossa história, um significado muito especial. De luta, de convite à mudança. De enfrentamento à exclusão. Que o Grito deste ano, no dia de nossa Pátria seja um marco. De autonomia. Que a dor secular e sufocada que se levanta do chão, dor que se transforma em protesto, cria asas e se lança no ar se transforme em esperança. De ponta a ponta do país, o povo, ao soltar ao vento seu clamor longamente silencioso e silenciado faça explodir sua vontade soberana de cidadania.
Que todos os gritos presos em milhões de gargantas sejam unificados. Que o grito dos empobrecidos, dos indefesos, dos sem vez e sem voz, dos injustiçados, das minorias discriminadas, tenha como elo a perspectiva de construção de uma nova sociedade. De um desenvolvimento participativo e sustentável. Afinal, os excluídos têm, em sua história, uma imensa fonte de resistência, uma memória viva, criativa e ativa na busca de novas alternativas. Bem vinda a voz dos excluídos! Que nas mais diferentes formas de expressão, no cotidiano, em ações afirmativas de organização e de mobilização, no momento do voto, os excluídos tenham a liberdade de dizer não às cadeias que os acorrentam e sim à mudança possível.
Quem grita em nossa cidade?
Os desempregados que batem às portas de nossos gabinetes diariamente para pedir cartas de apresentação, indicações ou ter informações de possíveis empregos são um bom termômetro da gravidade da questão. Temos investido seriamente no enfrentamento à cultura do “jeitinho”. Somos contrários ao clientelismo que ainda ronda nosso cenário político. Gostaríamos de ter um banco de empregos, fértil e aberto a todas as faixas etárias e às distintas qualificações. Infelizmente, não temos. Reconhecemos, no entanto, que o governo tem investido em feiras de pequenos produtores assentados, em frentes de trabalho, em capacitação e requalificação profissional, em cooperativas de reciclagem de lixo. Sinais promissores de enfrentamento à exclusão. Temos cerca de 15% da população desempregada em escala nacional. O quadro de Araraquara não é diferente. É preciso investir em crédito aos micro e pequenos empresários. É possível ter cooperativas de serviços gerais. De costuras a domicílio. Não precisamos ir muito longe. Em Tabatinga, nossa vizinha, a produção de bichinhos de pelúcia tem gerado 700 empregos. Há experiências coletivas que nos levam a sentir esperança e a sonhar com mudanças ampliadas. Aos sonhos, se contrapõem preocupações que fazem nossa Velha Senhora de 185 anos franzir a testa e pensar silenciosamente.
O direito à cidadania não tem idade.
A indignação dos jovens que não conseguem a chance de entrar no mercado de trabalho sob o argumento de não terem experiência engrossa o Grito dos Excluídos. Sinal verde para o programa do governo “Jovem Cidadão” que deve ser ampliado.
As mulheres e homens de mais de 40 anos têm toda razão de gritar em alto e bom som contra a exclusão. Afinal, direito ao trabalho não tem idade! A este clamor junta-se o das mães que querem, precisam trabalhar e esbarram com a falta de vagas nos CER’s ou com a exigência de terem registro para terem chance à fila de espera. Circuito perverso que tem que ser rompido!!!
O grito contra a violência
Exclusão e violência têm tudo para se complementar. Ameaçando o direito à vida. O fechamento da Casa Abrigo às adolescentes vítimas da violência, por falta de apoio institucional ao Cedro, a não implementação de uma política de enfrentamento à violência doméstica merecem sinal vermelho. E as ações do Conselho Municipal de Segurança e de Cidadania, propositivas no campo preventivo e educativo são formas eficazes de dizer Não à exclusão! A aprovação pela Câmara de um Fundo Municipal de Segurança Pública e Cidadania pode contribuir para ferir os ouvidos dos responsáveis pela exclusão. E fortalecer o mutirão de esperança que pode dar como fruto, no próximo ano, no lugar do Grito dos Excluídos, uma ruidosa comemoração à justiça, à maior igualdade. Com todo direito à felicidade. Sem medo e/ou discriminações. Boa semana a todos!
(*) É coordenadora do Mestrado da Uniara e colaboradora do “JA”.