Vera Botta (*)
Voz dos excluídos
Em nossa sociedade, movida por cruéis contradições, mulher, negro, velho e portadores de necessidades especiais são tratados como cidadãos de segunda categoria. Preconceitos e discriminações parecem compor uma história naturalizada dos desiguais, como se a vida já tivesse traçado um destino que privilegia alguns e escanteia outros.
Aleluia!
A história está mudando em Araraquara! Pela primeira vez, temas dirigidos a segmentos excluídos em nossa sociedade estão sendo discutidos no orçamento participativo, com perspectivas de inclusão na peça orçamentária de 2003. Quem dizia que Mulheres, Portadores de Deficiências, Idosos, Negros não teriam voz para gritar aos quatros ventos que são, como disse nosso Vice-Prefeito, Dr. Sérgio Médici, titulares de direitos especiais, tem que “enfiar a viola no saco”. As plenárias temáticas do orçamento participativo têm mostrado, nos números de participação e na qualidade das discussões que a população tem todo o interesse em decidir o destino dos recursos públicos e, quando chamada, diz Presente!
Auditórios lotados, Secretariado presente em quase sua totalidade. Prefeito e Vice-Prefeito, vereadores (da bancada do PT e Chediek, especialmente), coordenadores, auxiliares dos coordenadores…uma festa da democracia…Discursos e mais discursos. Secretário de Finanças apresentou relatórios nem sempre simples sobre receita e despesa. Nosso Governo acredita que haverá, para aplicação nas prioridades escolhidas pela população, cerca de R$ 5 milhões de reais. É pouco? É muito? As decisões sobre prioridades serão para valer? Oposicionistas de plantão tecem críticas. Entre farpas trocadas, deixam perguntas: os gastos oriundos do projeto “Prefeitura nos Bairros” já estavam previstos no Orçamento? Capinação, consertos na pavimentação, troca de lâmpadas, poda de árvores não saem de graça. Para tudo há um custo.
Qual o custo para se manter a festa da democracia? Dezenas de pessoas envolvidas, material e transporte. Muitos cidadãos me perguntam se esse pessoal todo é contratado. Outros acusam o OP de estar sendo usado como marketing político. Para separar o joio do trigo, é preciso participar da “festa da democracia” e acompanhar vigilantemente seus desdobramentos…” Com esperança de que sejam, de fato, ouvidas as vozes dos excluídos…
Ação, não piedade
Cerca de 116 portadores de deficiência decidiram que saúde, geração de trabalho e renda e acessibilidade seriam as prioridades a ser defendidas pelos 11 delegados eleitos para o Conselho do Orçamento Participativo. Por trás das escolhas, a luta cidadã para serem sujeitos de direitos. Cidadania tem que ser construída na revisão dos preconceitos, no enfrentamento do autoritarismo, no dizer sim à ética e não à corrupção. Os portadores de necessidades especiais querem ser cidadãos, sem ser olhados como “diferentes” sujeitos a uma clausura imposta. Quantos são em nossa cidade? Não se sabe ao certo. Um mapeamento criterioso precisa ser feito. É tempo de ser exigente! Subsídios a um programa municipal dirigido aos portadores de necessidades especiais foram entregues por um grupo de vereadores ao nosso Prefeito. Com compromissos!
Mulheres exigem mudanças
Foram chegando de mansinho, eram quase 100, vindas dos assentamentos Monte Alegre e Bela Vista, dos bairros e centro. Ouviram as explicações e no momento de decidir prioridades, o brilho nos olhos pela geração de trabalho e renda, a proposta defendida pela Bancada do PT, pelo Coletivo de Mulheres do PT, pelo Centro de Referência e Cedro Mulher. A possibilidade de um programa de crédito especial para as mulheres pode existir? E um Ah! de satisfação passou pelo auditório… As assentadas, nas demandas de apoios para poderem produzir, nas reivindicações de reformulação da política de créditos, na vontade de vender sem intermediários explicitaram a força de sua vontade de participação. Saúde e melhores condições para o escoamento da produção também compuseram suas escolhas.
Fibra dos idosos
Quebraram o recorde de participação. Mais de 200 se reuniram no Cine Paratodos. Nos olhos brilhantes de dona Zelinda que me procurou para falar que eu havia, com razão, denunciado que se cometiam violências contra os velhos, encontrei, mais uma vez, a resposta para mostrar cotidianamente que o direito à cidadania não tem idade.
Censo
Quantos somos? Aonde vivemos? Quais as moléstias que nos atacam com mais freqüência? Quantos de nós chegam a completar a educação secundária? E quantos chegam à universidade? A Plenária Temática dos Negros contou com a presença de 86 pessoas, que elegeram 8 delegados. E os negros disseram Basta à democracia de fachada, baseada em mitos e idealizações de que o Brasil é uma grande nação sem diferenças de raça e cor.
Discussão
Louvável a iniciativa do Diretório municipal do PT em organizar o Fórum Petista de Dirigentes Culturais no Centro Cultural Waldemar Saffioti/Unesp neste final de semana. Pelo compromisso com a construção da cidadania cultural, que passa fundamentalmente pelo exercício do diálogo e da efetivação de espaços permanentes de discussão sobre o tema. Araraquara tem vocação cultural. Sejam bem-vindos Sérgio Mamberti, Hamilton Faria, Hamilton Pereira. O Fórum é aberto a todos. A Coluna fica por aqui. Boa semana a todos! De olho na Copa e na cidade! Que possamos sentir felicidade. Até a próxima!
(*) É Coordenadora do Mestrado da Uniara e colaboradora do “JA”.