Um Cowboy em Bagdá

Reginaldo Galli (*)

Referindo-se à desigualdade de direitos entre os homens, Abraham Lincoln afirmou: “Se Deus quisesse que alguns homens só trabalhassem e não comessem, ter-lhes-ia dado apenas braços e não lhes teria dado boca; quando Deus deu a cada homem dois braços e uma boca, foi para que aqueles braços servissem àquela boca. Uma ordem econômica que nega aos braços o direito ao trabalho, com o qual os mesmos braços possam levar o pão à boca, autoriza o uso dos braços em outros atos, para que obtenham o pão e o levem à boca.”

Foram gigantes assim que construíram a AMÉRICA, dourado ideal francês de LIBERDADE, de IGUALDADE, de FRATERNIDADE. Com que ufania nós, os brasileirinhos puros e sonhadores acreditávamos ser americanos, durante e depois da segunda grande guerra! Nas matinês do cinema, éramos o mocinho e vencíamos sempre o bandido, aventura após aventura, semana após semana, e isto nos tornava super-heróis irremediavelmente felizes…Na escola, decorávamos a letra e aprendíamos a cantar no orfeão, magnetizados, transbordantes de orgulho: GOD BLESS AMERICA!

Quando nuvens negras

Como um negro véu

Surgem sobre a Terra

Empanando o céu,

Ouve-se uma prece

Desta gente audaz

Que não teme a guerra,

Mas deseja a paz.

Deus salve a América,

Terra de amor!

Verdes mares, florestas,

Lindos campos abertos em flor.

Berço amigo da bonança,

Da esperança o altar,

Da esperança o altar,

Meu céu, meu lar,

GOD BLESS AMERICA, MY HOME, SWEET HOME!

Em nossos corações infantis ou adolescentes, jamais deixou de pulsar esse fascínio pela NOSSA AMÉRICA, isto mesmo, NOSSA, porque ainda não estávamos preparados para a decepção de ser “apenas” brasileiros. Quem foi que inventou uma outra América, madrasta, arrogante e dominadora, guardiã planetária da Força e do Bem? A América dessa herética gente que jura sobre a Bíblia e fala em nome de Deus para acobertar uma ambição sem limites e uma insensibilidade sem pejo, esquecendo-se dos exemplos do Cristo humilde, justo, fraterno e solidário com todos os necessitados e sofredores, quem a inventou? Esvaziada em sua própria essência, a ONU capitula e estrebucha, deixando-nos perplexos diante de uma tenebrosa pergunta: qual será a próxima vítima ? Os bilhões e bilhões despendidos nesse massacre dariam para salvar a vida de todos os miseráveis do mundo, mas quem se importa com tão raquíticos braços, com bocas tão secas e murchas que precisam pedir aos olhos para implorarem misericórdia?!

“Você (América) punha-se de pé pela liberdade, honestidade e justiça, você protegia os inocentes. Eu acreditava nisso. Acho que você também acreditava.(…) Se você continuar ladeira abaixo, as pessoas do mundo todo vão parar de admirar as boas coisas sobre você.(…) Vão pensar que você abandonou o reinado da lei”. Assim se expressou a escritora canadense Margaret Atwood, segundo Clóvis Rossi, que acrescenta: “Ganhar a guerra está sendo fácil. Difícil será recuperar a admiração.”

Sim, América, Deus a salve! Que o Deus da vida, do amor, da paz expulse esse farsante que, em efígie divina, é morte, é intolerância, é extermínio! Que privilégio seria se, nestes dias de tanta dor e destruição, pudéssemos participar de um imenso coral e, em companhia de Louis Armstrong, entoar, esperançosos, esta comovente profissão de fé:

Vejo árvores verdes, rosas vermelhas também,

Eu as vejo florescer para mim e para você,

E penso comigo mesmo: que mundo maravilhoso!

Vejo céus azuis e nuvens brancas,

O claro e abençoado dia, a noite escura e sagrada,

E penso comigo mesmo: que mundo maravilhoso!

As cores do arco-íris, tão lindas no céu,

Estão também nas faces das pessoas que passam.

Vejo amigos se cumprimentando e dizendo: “como está você?”

Eles estão na verdade dizendo: “eu te amo”.

Ouço crianças a chorar e as vejo crescer.

Elas aprenderão muito mais do que jamais saberei

E penso comigo mesmo: que mundo maravilhoso!

Sim, eu penso comigo mesmo: what a wonderful world!

Oh yeah!

(*) r.galli@uol.com.br, professor e colaborador do JA

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