Sérgio Bonini encontra filho de quase 20 anos

Texto Geraldo Polezze

Fotos Marcello Furtado

Os fatos não diferem dos que, corriqueiramente, marcam a vida de milhares de jovens brasileiros. Ficar, namorar e, de repente, sem o planejamento indispensável deposita-se a “sementinha” que se multiplica em milhões de células.

Sérgio Bonini, um jovem que diariamente experimenta a brisa bater em seu rosto ao vencer o centro da cidade numa possante moto, não foi exceção. Namora e…algum tempo depois vislumbra o fruto no ventre. E agora, José? Quer dizer, e agora Sérjão?

Na relojoaria, defronte à praça de Santa Cruz, os pais Pedro e Leila que, certamente, teriam dado a maior força. Mas, outro fato ganha nova dimensão. A menina não exige casamento. Recolhe-se, com o seu nenê, para um destino desconhecido. Gesta um lindo menino que na pia batismal recebe o nome de Guilherme. Dá-lhe carinho, contando com a ajuda dos pais para educar e cercar o garoto de muito amor.

O tempo passa. Sérgio vai adquirindo a maturidade que, hoje, alicerça o seu dinamismo em empresa própria, na Rua 9 de Julho. Defronte do estabelecimento de seu pai.

O tempo

Ele que é remédio e refúgio, após 20 anos, faz nascer no empresário Sérgio, agora com 42 anos, uma necessidade que se torna mais forte a cada dia: Onde está meu filho?

Num belo e santificado domingo, vindo de Angra dos Reis, Sérgio acompanha um amigo que vai acender duas velas para Nossa Senhora Aparecida, na Basílica de Aparecida do Norte. É tomado por uma vontade incontida de, também, pedir a bênção da Padroeira do Brasil. Comprou uma vela de 1,80 metro e pensa com os seus botões. “O meu filho deve ter essa altura”. Acende, com fé. Pede do seu jeito, sem subordinar-se às orações pré construídas. Reza com o coração. Com lágrimas percorrendo a sua face, implora: “Mãe, não estou aqui para falar do passado. Quero o presente e desejo um futuro para festejar a companhia de meu filho. Me dê esta bênção. Faça com que eu encontre meu filho”.

Milagre?

Na segunda-feira, portanto poucas horas após a sua prece candente, toca o telefone. De imediato conhece a voz daquela que foi a sua namoradinha na adolescência, o que causa espanto.

– Ora, depois de tantos anos, como reconhece a minha voz?

Sérgio, já com a gratidão por Nossa Senhora Aparecida ter colocado o seu dedinho misericordioso, aguça o ouvido.

– Você quer conhecer o seu filho?

Pôxa, era isso mesmo que ele queria, ansiava e rezava para o encontro daquele que daria novo sentido aos seus dias.

– Então vou falar com o Guilherme e retornarei o telefonema…

Na terça-feira, Sérgio não consegue trabalhar. Olha insistentemente o telefone que teima em não tocar. Minutos ou horas não fazem diferença. A expectativa é a mesma, a espera é a única opção. Finalmente…

– Conversei com o seu filho e ele também deseja vê-lo. Pode ser amanhã, quarta-feira?

Bem que poderia ser agora, pensa Sérgio. Mas, o que são algumas horas para quem esperou 20 anos?

Nossa Senhora, que susto! Quase não consegue responder. Do fundo do peito, um gemido carrega o “sim, claro!” fincado na obviedade.

No dia marcado, o termômetro da emoção está a mil. Choro não dá para conter. Lágrimas de emoção, de agradecimento. Ari Vargas é o ombro amigo que respalda o pai entusiasmado na viagem mais emocionante de sua vida.

Beijos, abraços apertados e poucas palavras. Aliás, para que mais no momento em que impera a linguagem do coração?

Guilherme

Quase 20 anos, universitário, aluno do segundo ano de economia da UEL- Universidade Estadual de Londrina.

Para o pai-coruja “o Guilherme foi bem criado, é maravilhoso, formidável, tem um jeito de falar que é muito especial, excelentes idéias, estuda e tem capacidade. Um homem de grande potencial. Meu filho é demais”.

Sérgio encontrou o seu filho e quer dizer isso ao mundo. Por isso que, em dias passados, foi até ao Shopping Jaraguá e apresentou-o aos amigos. Uma apresentação cheia de vida: Este é o meu filho.

Isso só pode ser entendido por quem tem filho… sem falar da emoção dos avós, porque ganhar um neto não é brincadeira. A emoção é indescritível.

Guilherme ganha outra família e, nesta semana, está chegando a Araraquara para receber o afago do pai, dos avós, da tia Rosângela, dos primos Ricardo, Denis e Vanessa. E, claro, de todo mundo que cruzar o caminho deles. Sérgio e Guilherme iniciam uma parceria tão a gosto dos descendentes de italianos. Um companheirismo que cresce com o passar dos minutos, a cada encontro…

A força da fé

Para encontrar o filho, Sérgio Bonini poderia ter contratado os serviços de um bom profissional, mas, deixou a fé falar mais alto. Hoje, quando os seres humanos vivem na encruzilhada entre resolver a vida através de instrumentos racionais ou emocionais, não teve dúvida: optou pela fé em Nossa Senhora Aparecida, aquela que remove montanhas…

Com isso, retorna às origens, à época em que o conhecimento que regia a vida era o emocional, não o racional.

Isso posto, pai e filho deixam de ser órfãos, não caminham mais separadamente. De mãos dadas passam a construir uma relação bonita e iluminada.

Lições de vida

A aproximação entre pai e filho é indispensável para o exercício da afetividade, companheirismo e masculinidade, a fim de colocar ponto final no desabandono em que ambos se debatiam. Mais que isso, é um encontro da juventude com a maturidade, sublimizando o verdadeiro significado da paternidade.

O que antes podia ser entendido como algo que, pelo impacto emocional, poderia atrapalhar a vida foi, em verdade, o melhor acontecimento do mundo. Transforma-se na maior realização, um belo e extraordinário espelho a refletir a fusão magnífica da afoiteza da juventude com a sabedoria da maturidade.

A heroína

Na beleza do encontro do pai com o filho, não dá para deixar de citar a mãe, em sua miraculosa tarefa de gestar e parir, com a força de um gigante. E criar, com a ajuda de seus pais, para entregá-lo pronto e embalado ao pai que o recebe como um brilhante, sem jaça e carvão, para a lapidação final. À mãe do Guilherme, “Honra ao Mérito”.

Futuro

Dizem que a Deus pertence. Não vamos discutir, mas, como nada acontece por acaso, um quadro lindo para a vida.

Pai e filho se encontram e resgatam a possibilidade de construir um futuro com muitas histórias. Isso transforma: Sérgio não é o mesmo do ano passado; Guilherme já tem pai que pode ser apalpado, sentido e entendido como trocador de idéias, de experiências de vida e interlocutor de grande valor. Muda, também, a família que recebe um novo membro. Assim, um ano novo diferente, transformador. E o futuro, para quem ama, só pode ser sensacional.

Ah, não fossem essas emoções…o mundo seria chato demais. Não é não?

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