Antonio Delfim Netto (*)
Dois fatos interessantes estão caracterizando a atual campanha eleitoral, ambos de grande significado para a consolidação das instituições republicanas: o primeiro é que ela solidifica os ideais democráticos expressos na Constituição de 1988. Seu texto ainda exigirá correções em muitos aspectos nos próximos anos mas, naquilo que tem de fundamental, ela já demonstrou que suas virtudes superam de muito os seus defeitos; e o segundo é que essa campanha vai marcar a incorporação do Partido dos Trabalhadores ao processo político no âmbito nacional. Quando destaco a importância dessa absorção, algumas pessoas entendem que as estou aconselhando a votarem nos candidatos do PT, mas esta é uma leitura apressada. Significa apenas que, divergindo de suas posições digamos, programáticas, divirjo mais fortemente do processo de “demonização” que se intentou para bloquear seu legítimo direito de tentar a governança da Nação. E isso vem sendo feito de forma extravagante, na medida em que se procura convencer a sociedade que o país se tornará ingovernável se o eleito não for bem recebido pelas “forças do mercado” ou, o que é mais grave, desagradar ao Sr. George Soros, ex-mega especulador e atual filósofo do “mercadismo”. Como é possível admitir que o “mercado” é que deve determinar o resultado das urnas?
A escolha do novo Presidente não pode ser feita na base do “terrorismo” político. Um candidato não pode ser desclassificado apenas porque não tem o curso universitário, ou porque alguém insinua que não vai respeitar as instituições. Todos os candidatos com possibilidade de vitória aceitaram as mesmas regras de convivência política. O ciclo de estabilidade produzido pela Constituição de 1988 é garantia suficiente para enquadrar qualquer Presidente e corrigir problemas no próprio Congresso. O novo governante vai precisar de uma maioria parlamentar sólida e para isso terá que discutir seus programas com os demais partidos.
Na economia, seja quem for o eleito, terá que começar pelo mesmo caminho que é reconquistar a confiança externa no Brasil, que este governo perdeu, apesar de toda a sua amizade com o “mercado”. Não se pode atribuir às expectativas de mudança essa perda de credibilidade. As dificuldades que estamos vivendo, interna e externamente, se devem aos erros de política econômica, principalmente os que se cometeram no primeiro mandato e que foram corrigidos apenas parcialmente no segundo.
As urnas é que vão determinar o rumo que devemos tomar para superar essas dificuldades.
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