Sinais Trocados

Antonio Delfim Netto (*)

A estimativa do IPEA de um crescimento de 1.8% do PIB este ano é mais realista do que a projeção anterior de 2,8%, mas já há alguns sinais muito positivos na economia brasileira. As exportações cresceram de forma importante nos últimos seis meses e isso aconteceu não apenas pelo efeito câmbio mas porque o setor voltou a contar com algum suporte de crédito, o que é uma mudança significativa. O crescimento das exportações, junto com a diminuição das importações decorrente da redução do nível da atividade, vem permitindo um aumento importante dos saldos do comércio exterior. Esse resultado por sua vez permitiu a redução do déficit em conta corrente do Brasil de 4.2% do PIB para menos de 2%. A recuperação do setor exportador é um acontecimento altamente positivo para a nossa economia e é o princípio do caminho que vai nos levar a sair da armadilha a que o país foi conduzido.

Outro sinal importante é a queda dos níveis do chamado “risco Brasil”, que é simplesmente a taxa de retorno dos papéis brasileiros no exterior e que não estão, portanto, sujeitos ao câmbio. Mas ele representa a avaliação dos credores em relação à nossa capacidade de honrar os compromissos das enormes dívidas que contraímos. O risco caiu para 1.100 pontos, das alturas de 2.500 pontos que alcançou há alguns meses, no auge da campanha eleitoral quando o governo de então “prevenia” o mercado que o Brasil se tornaria uma Argentina caso o candidato oficial fosse derrotado nas urnas. A redução do risco mostra que o Brasil está trabalhando as variáveis corretas para chegar ao objetivo de baixar o juro interno e voltar ao crescimento. Porque a taxa de juro interna é igual à soma da taxa de juros externa, mais o “risco Brasil” e mais a expectativa de desvalorização cambial. Sobre a taxa de juros externa, nós não podemos agir; sobre o risco Brasil, estamos mostrando que não vamos permitir o crescimento da relação Dívida Líquida/PIB, que é possível reduzir o déficit em conta corrente e que vamos honrar os compromissos; sobre as expectativas da taxa de câmbio, depois do enorme ajuste no câmbio real havido nos últimos seis meses, elas tendem a se moderar.

Todos esses sinais são importantes porque, depois de muitos anos de uma política desarrumada, eles mostram o rumo que vai permitir a redução do juro interno no futuro. Atingido esse objetivo, com menor constrangimento externo, poderemos retomar o desenvolvimento. As pessoas que estão exigindo mudanças já, não estão sintonizando a onda correta.

(*)E-mail: dep.delfimnetto@camara.gov.br

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