Este espaço já recebeu o pensamento dos editores do JA sobre o referendo das armas quando o Não foi entendido como um grito contra a Insegurança que os governantes não conseguem sufocar. As forças policiais são insuficientes para enfrentamento de delinqüentes capazes, audazes e bem-armados. E os contribuintes cada vez mais estressados num país recheado de injustiças sociais, insanáveis mesmo após à redemocratização que sucedeu ao período vermelho (de sangue derramado, de pressões irresistíveis e torturas criminosas e covardes que a Lei da Anistia não conseguiu diluir), a chamada Revolução Redentora de 64.
Vários jornalistas, inclusive os da grande imprensa, tiveram ponto de vista semelhante: o referendo (plebiscito?) choveu no molhado, não ou sim levaria ao mesmo patamar, à estação da falta de segurança. Mas, para fincar essa bandeira no cume da montanha e fazê-la tremular para a devida reflexão, vamos pegar uma carona com o respeitável jurista Walter Ceneviva que, há anos, brinda os leitores da Folha de São Paulo com seu notável saber.
Antes, os números da região de Araraquara, no grito contra essa situação desagregadora e profundamente improdutiva.
Números do referendo
Cidade (%) Não Sim
Araraquara 62,01 37,99
Américo Bras. 53,46 46,54
Santa Lúcia 57,88 42,12
Gavião Peixoto 63,66 36,34
Trabiju 62,17 37,83
B. Esperança 62,7 37,3
Nova Europa 67,32 32,68
Ibaté 62,8 37,2
Rincão 66,77 33,23
“O Estado é a nação organizada com seu governo e conjunto de serviços da administração pública, a bem do povo do qual emana todo o poder. O resultado do Não mostra que o povo não confia no Estado, no exercício dos poderes correspondentes, em todos os níveis e em seus servidores, do menor município ao governo federal”.
Assim, começa o mestre Ceneviva para registrar que a “grande desconfiança nasce com a incapacidade estatal de preservar a segurança de cada cidadão ou cidadã. Não é só. As deficiências do Estado brasileiro transcendem do atual governo ou dos últimos governos. Estão nas áreas da saúde (com o SUS e o INSS a tiracolo), da seguridade social, da proteção à família, com as insuficiências da educação oficial, como um de seus subprodutos. O Sim suprimiria o direito da livre escolha, atingindo mais quem tem menos direito. A indiferença oficial pelas garantias dos direitos individuais e do trabalho e o fraco interesse pela proteção dos direitos sociais pelos governantes geraram o furacão de resposta popular”.
Ceneviva declara que “Ricos, pobres e remediados, cultos e incultos, cada vez mais ameaçados pela ousadia dos delinqüentes, contraproposta à ineficácia dos organismos policiais”.
E a conclusão séria que nossos deputados federais, fazedores das normas e fiscais de seu cumprimento pelo Executivo (Poder que num período grande vive atordoado e esperneia no mar das denúncias), não podem deixar passar batido: “o grito do Não mostra o Estado desmerecedor da confiança do brasileiro”.
Essa situação não pode perdurar. O Governo cobra impostos e faz de conta que entrega. Resta saber até quando o contribuinte vai pagar, mesmo sem receber…