Antonio Delfim Netto (*)
O presidente Lula tem revelado em suas falas à Nação que a retomada do crescimento econômico e o combate à pobreza são os objetivos supremos de seu governo. “Essa é a nossa obsessão”, disse numa recente entrevista. Ele se emociona com muita freqüência quando se refere à condição de vida dos mais pobres, o que resulta num tipo de discurso absolutamente novo na política brasileira. Quem se lembra de algum alto dignitário da República discursando aos banqueiros e exortando-os publicamente a que “esvaziem seus cofres e ponham o dinheiro a circular… sem medo de emprestar aos pobres por que eles são bons pagadores”!?
Aqui, emoção e razão se misturam. Trinta anos atrás, durante o regime autoritário, estivemos em campos opostos, mas singularmente perseguindo resultados semelhantes: o regime tinha obsessão pelo crescimento e a criação de empregos e Lula brigava pelo crescimento da renda dos salários e do emprego dos metalúrgicos. Havia divergências quanto à melhor forma de distribuir os benefícios do crescimento, mas a direção era a mesma: o desenvolvimento econômico. Nos oito anos de mais rápida expansão da economia (1967/1975), quando a média de crescimento do PIB foi superior a 7%, criaram-se 12 milhões de novos empregos. É evidente que a pobreza diminuiu. Discutia-se muito a desigualdade na distribuição da renda mas era forçoso reconhecer que no crescimento todos melhoravam, embora alguns melhorassem mais do que outros.
Apesar da crise dos anos 80, quando a inflação produzida pelo choque de preços do petróleo desorganizou a economia mundial, o PIB per capita brasileiro cresceu ligeiramente na década. Já nos anos 90, o único resultado favorável foi a queda dramática da inflação. O objetivo do desenvolvimento foi abandonado, o país empobreceu, a renda dos salários desabou, a desigualdade aumentou, diminuiu nossa participação no comércio mundial e acumulamos duas formidáveis dívidas, interna e externa. E a inflação reapareceu com força em 2002.
O sucesso da política de estabilização nestes primeiros meses de governo Lula vai aos poucos reerguendo a crença da sociedade na possibilidade de ingressarmos em nova etapa de desenvolvimento. É claro que hoje o Estado perdeu a condição de gerador de poupança e a capacidade de investir na infra-estrutura. Mas ele pode mobilizar o empresariado para um esforço radical de aumento das exportações, com uma política ativa de crédito na medida em que reduz a vulnerabilidade externa, com a desoneração total dos investimentos na compra de máquinas e equipamentos para a indústria e a agricultura e com decidido apoio às pequenas e médias empresas. E os projetos de parceria para a recuperação da infra-estrutura de energia e transportes devem ser finalmente implementados.
(*) E-mail: dep.delfimnetto@camara.gov.br