Passei o final da semana passada recebendo telefonemas por causa do pipizinho que saiu no lugar da minha foto na crônica do dia 28.
Uma amiga me ligou e não conseguiu dizer nada de tanto que riu. Reconheci a risada dela e gracejei dizendo que sabia que ela estava interessada em saber o endereço do personagem do pipi fotografado.
Três leitores que não conheço quiseram saber o nome certo da injeção de hormônio que receitei para o mocinho e vários leitores com quem cruzei na rua sorriram de longe e fizeram aquele gesto com os dedos igual ao das fotos.
Somente um leitor me disse que havia identificado três dos quatro personagens, cujas fotos publiquei, fazendo aqueles gestos de "pequenininho". Ele me ligou para eu confirmar os acertos dele.
O mais divertido me foi dito por um conhecido que passou em frente de minha casa e me perguntou porque não havia saído matéria minha no domingo passado. Logo percebi que ele costuma localizar minha crônica pela foto. Como não havia minha foto, ele passou batido…
Eu mesmo gostei da idéia de colocar a foto de alguém em lugar da minha. Sendo assim, estou colocando, na crônica de hoje, a foto de meu Avô Manéco. Por dois motivos, eu coloquei minha foto junto: primeiro para que não aconteça de perder nenhum leitor que diga não ter encontrado minha foto e segundo porque coloquei meu rosto bem na altura do coração do MEU AVÔ ESPECIAL, que a cidade inteira sabe que eu gosto muito dele.
Eu já publiquei foto do Vô Manéco quando estava velho. Desta vez, peguei a melhor foto dele, bem jovial, acompanhado da terceira esposa, que foi minha Avó Eulália.
Quando o Vovô Manéco ficou viúvo pela segunda vez, ele conheceu Eulália, igualmente viúva, cujo único filho, com 6 anos de idade, se chamava Bento. Esse meu Tio Bento era muito habilidoso, construía violinos e gostava de desenhar e de escrever relatos históricos.
Ao preparar um livro sobre a História dos Britos, o saudoso Rodolpho Telarolli estava pesquisando sobre a cadeia de Araraquara na época, a qual era situada ali no jardim da Igreja Matriz. Ele não havia conseguido descobrir de que lado ficava a porta de entrada da referida cadeia e ficou vibrando de contente quando dei a ele, de presente, um desenho feito pelo meu Tio Bento mostrando direitinho a posição do prédio. O Rodolpho mandou publicar esse desenho na Folha de São Paulo há muitos anos.
Bem, voltemos à foto. Ela foi tirada em setembro do ano de 1897 e o nenê que está com eles é meu tio Lolo. O nome dele era Antônio Rodrigues da Costa, falecido aos 92 anos. Ele foi funcionário municipal e morou naquela casa ao lado da represa, da qual ele tomava conta.
Na foto da esquerda, ele é o que está de óculos, cuja idade, na ocasião era exatamente a minha idade atual.
Nesse terceiro casamento de meu Avô Manéco com a Avó Eulália, eles tiveram 7 filhos: Antônio, João, Gertrudes, Arlindo (Meu Pai), Tarqüínia, Cilas e Paulo. A foto da esquerda foi batida por mim no dia 25-8-1963. Sendo "Dia do Soldado", eu fiz um desafio aos três para subirem no telhado da minha casa, na Rua Voluntários, ao lado do Bar da Dona Maria, quase na esquina da Av. 36. Meu Tio Cilas estava com 55 anos, meu Tio Lolo estava com 67 e o da frente, Meu Pai, estava com 61 anos.
Já falei mais de uma vez que, segundo Gregório Mendel, as pessoas pegam mais as características do avô do que as do pai. Pois observei que nem Meu Pai, nem os irmãos dele, herdaram as características do Vô Manéco, mas já percebi há anos que sobrou tudo prá mim, pois sou a cópia dele.
Dou até risada, mas herdei as principais manias dele. Meu avô Maneco não deixava ninguém lavar as cuecas dele. Pois eu faço o mesmo, desde os 15 anos de idade, mas não me adianta perguntar o motivo porque não vou dizer.
Mais uma: meu avô não gostava que arrastassem cadeiras perto dele. Pois as cadeiras de todos os consultórios que eu tive foram por mim parafusadas no piso. Até já escrevi sobre isto.
Havia uma coisa que ele não deixava acontecer nunca: era minha avó descobrir os pés dele na cama. Cobrir sim, descobrir jamais! Eu sigo as regras dele, não me custa nada. Já escrevi sobre a mania dele (e minha) de usar duas toalhas após o banho, uma grande para o corpo todo e uma pequena para os pés.
Ele falava meio acaipirado, mas exigia que as coisas que os outros diziam ou escreviam fossem sempre bem explicadas. Eu herdei isto e fico danado quando alguém é entrevistado na TV, por exemplo, e explica algum assunto de um jeito que os telespectadores não conseguem entender integralmente.
Eu escrevi tudo isto hoje apenas por causa de um telefonema que me foi dado por minha filha Nilce, lá de Ribeirão Preto. Ela me ligou para me contar algo que aconteceu de segunda para terça com meu Neto Bruno, 9 anos, que juntou prá ele algumas características minhas. Quer dizer, minhas não, pois são as mesmas do Avô Manéco, Trisavô dele.
A professora dele mandou que os alunos da classe redigissem pequenos anúncios desses que saem nos jornais. Prá ele, a professora mandou escrever um anúncio de "PROCURA-SE UMA EMPREGADA". Acontece que essa expressão "procura-se" é típica do linguajar policial, que ele já viu um montão de vezes nos filmes de TV. Sendo assim, ele escreveu o seguinte anúncio: "Procura-se uma empregada gorda com uma cicatriz na perna".
A professora disse que o anúncio dele está errado e ele ficou uma fera, justificando que ela não disse que era anúncio para trabalhar.
Vejam o que eu disse a ele pelo telefone: "Bruno, você está certíssimo, pois eu teria escrito do mesmo jeito que você escreveu!"