Reginaldo Galli (*)
O Ministro do Planejamento, Orçamento e Gestão, Sr. Guido Mantega, com aquela acuidade objetiva que distingue os melhores intelectuais da Ciência Econômica, declarou recentemente à mídia: “EM TODOS OS PAÍSES DO MUNDO, O TRABALHADOR, QUANDO SE APOSENTA, PRECISA DE MENOS RECURSOS PARA SOBREVIVER. ELE NÃO GASTA DINHEIRO EM CONDUÇÃO, VESTUÁRIO E TUDO O MAIS.”
Assiste-lhe integral razão. O aumento da longevidade humana, aliás, atrapalha e até compromete o trabalho dos planejadores, além de inviabilizar o racional direcionamento de recursos aos fins almejados. Em tudo e por tudo, a inatividade é nociva a uma sadia gerência da coisa pública, já por não colaborar com a arrecadação de tributos, já por maximizar as despesas, já por inibir a ocorrência de fatos dinamizadores da circulação monetária. O idoso se constitui, inequivocamente, em um estorvo para a coletividade, uma pedra na trajetória do progresso. Alguns poucos exemplos, colhidos no dia a dia, ilustram sobejamente e justificam “in totum” a tese em preparo por alguns dos luminares federais: “DE GUSTIBUS ET COLORIBUS NON EST DISPUTANDUM”, ou seja, façam apenas o que eu digo e esqueçam o que pensavam que eu dizia.
1) por serem doentiamente econômicos, sovinas, mãos-fechadas, os sexagenários e seus amigos setentões, oitentões, noventões incidem e reincidem em inúmeros desvios de conduta:
a) comem pouco, a pretexto de se manterem “enxutos”;
b) deixam de beber, fumar, viajar, pagar pelo transporte urbano, adquirir anticoncepcionais e freqüentar boates;
c) ociosos, procuram as aglomerações e entram em qualquer fila que prometa vantagens imperdíveis ou serviços grátis, tais como liquidações a R$ 1,99 e vacinação contra a gripe;
d) evitam o consumo de água, luz, gás e telefone;
e) cultivam frutas, hortaliças e até criam galinhas, no próprio quintal;
f) sacrificam, por avareza, o lazer dos cidadãos prestantes, com pedidos de pequenos consertos domésticos de mero favor;
g) consomem compulsivamente aspirinas e remédios genéricos.
2) por fazerem pouco caso de suas obrigações sociais e de seusdeveres perante o Fisco e a Pátria, os idosos ousam:
a) abrigar em sua casa filhos e filhas maiores, noras, genros, netos e bisnetos, inviabilizando todos os esforços para incremento da construção civil e combate ao desemprego;
b) entregar já em fevereiro a declaração de Imposto de Renda, com vistas a receber em primeiro lugar a restituição do valor retido e engordar suas aplicações financeiras;
c) entesourar polpudas somas e imobilizar parte delas, uma vez que buscaram instruir-se quanto à inexistência de lei confiscatória de fortunas e de heranças.
Vejam — todos quantos se puseram a criticar a manifestação sensata e competente de Sua Excelência — a que ponto de invulgar cinismo atreveram-se os compositores Nélson Cavaquinho e Guilherme de Brito, ambos já marcados por visibilíssima vetustez, ao conceber os versos desta canção vil, cujo péssimo exemplo extrapola todos os limites de uma liberdade responsável:
“Sei que amanhã, quando eu morrer,
Os meus amigos vão dizer
Que eu tinha um bom coração.
Alguns até hão de chorar
E querer me homenagear
Mas depois que o tempo passar
Sei que ninguém vai se lembrar
Que eu fui embora…
Por isso é que eu digo assim:
Se alguém quiser fazer por mim,
Que faça agora.
Me dê as flores em vida,
O carinho, a mão amiga,
Fazendo de ouro um violão.
Para aliviar meus ais.
Depois que eu me chamar saudade
Não preciso de vaidade,
Quero preces e nada mais.”
Além de confessar que seus amigos argentários auferiram capital bastante (por certo não declarado!) para encomendarem um violão de ouro, os autores deste grave documento, artistas muito bem remunerados pelas TVs, estações de rádio e gravadoras, chegam ao despudor de, dissimuladamente, suplicar por ajuda material em vida, alegando que as preces (hoje não tributáveis!) de pouco ou nada lhes aproveitarão …um dia… Pois é, Senhor Ministro, parece caso de uma devassa nas contas dos tais “amigos”… Por outro lado, que tal valer-se do momento político (pelo apoio popular às mudanças, às reformas e até ao FMI) e preparar um projeto de CEPLP, Contribuição Eterna sobre Preces e Lamúrias Públicas? Os rombos da Previdência salvos pela fé na PROVIDÊNCIA! Que manchete, que belo mote para Duda Mendonça!!!
(*) r.galli@uol.com.br é colaborador do JA.