Antonio Delfim Netto (*)
Por onde tenho andado nestas últimas semanas sou solicitado a responder a questão seguinte: “Por que o Brasil não cresce há quase duas décadas? O que está faltando para que a economia brasileira recupere a antiga vitalidade e volte a desenvolver-se?”
Nos primeiros oitenta anos do século passado, o Brasil mostrou que era capaz de superar os obstáculos ao desenvolvimento e foi um dos países que mais cresceu no mundo ocidental. Num período relativamente recente 1963/1984 a economia alcançou um ritmo de crescimento suficiente para dobrar o PIB à cada 11 anos e para duplicar a renda per capita em 17 anos, espaço menor do que uma geração!
O que aconteceu após 1984? A escolha de políticas inadequadas fez o Brasil “perder o passo” do desenvolvimento enquanto o mundo continuava a crescer. O primeiro grande equívoco digamos, de natureza operacional foi o congelamento da taxa cambial em três ocasiões distintas, na execução dos planos Cruzados, Collor I e Real, que paralisou o esforço exportador brasileiro. O segundo equívoco terrível foi a aceitação de uma espécie de ideologia, segundo a qual bastava estabilizar a moeda e algemar o governo para que o desenvolvimento se realizasse, por obra exclusiva do setor privado da economia. Essa “doutrina” entronizada no governo Collor, de especial agrado dos mercados financeiros, se manteve até o fim do governo FHC.
Na intervenção que fiz esta semana em São Paulo, durante o seminário “Compete Brasil” organizado pelo Partido Progressista, projetei dois quadros, reproduzidos ao final deste comentário, que explicam singelamente porque aquele crescimento vigoroso dos anos 1963/1984 murchou nos 20 anos seguintes: vemos que, de 1963 a 1984, as exportações brasileiras cresceram em volume à média anual de 9,8% (Xb), enquanto as exportações mundiais (Xm) cresciam 5,8% ao ano. Significa que estávamos ocupando espaços no mercado mundial, desalojando concorrentes. De 1984 a 2003, a situação se inverteu: enquanto nossas exportações (Xb) cresciam à taxa anual de 4,4%, as exportações mundiais (Xm) cresciam 6,8%. Abrimos espaço aos nossos competidores e eles se serviram: a China exportava praticamente o mesmo que o Brasil em 1984 e a Coréia um pouco menos. Passados esses 20 anos (e três congelamentos de nossa taxa cambial), a China exporta 6 vezes mais e a Coréia 3 vezes mais do que nós. São economias em vigoroso crescimento.
Os quadrinhos mostram também o que representou a diferença de crescimento do PIB durante aqueles distintos períodos: entre 1963 e 1984 a taxa de crescimento do PIB foi de 6,8% na média anual. O Produto brasileiro dobrava à cada 11 anos e a renda per capital dos brasileiros dobrava em 17 anos, quer dizer, em menos de uma geração. No período seguinte (1984/2003) o PIB cresceu à taxa anual de 1,9%; o Produto só dobra após 38 anos e os brasileiros precisam esperar 145 anos para ter sua renda duplicada, quer dizer, após cinco gerações!
Obs.: Na próxima semana voltamos ao assunto para comentar as conseqüências de se algemar o governo.
(*) E-mail: dep.delfimnetto@camara.gov.br