Artur Quaresma Filho (*)
“Gerar empregos será minha obsessão. Para tanto, vamos mobilizar imediatamente os recursos públicos disponíveis nos bancos oficiais e nas parcerias com a iniciativa privada para a ativação do setor da construção civil e das obras de saneamento. Além de gerar empregos, tal medida ajudará à retomada gradual do crescimento sustentado.”
A louvável intenção foi manifestada por Luiz Inácio Lula da Silva, em seu primeiro pronunciamento como presidente eleito. E veio acompanhada de outras promessas inatacáveis: impulsionar as reformas; honrar os contratos estabelecidos pelo governo; não descuidar do controle da inflação; manter a responsabilidade fiscal; exercer austeridade no uso do dinheiro público e combater de forma implacável a corrupção.
O futuro governante, entretanto, não ficou apenas no curto prazo. Também ofereceu sua visão de crescimento sustentado e de geração de emprego, tendo como base um amplo mercado de consumo de massas que dê segurança às empresas, atraia investimentos produtivos internacionais, represente um novo modelo de desenvolvimento e compatibilize distribuição de renda e crescimento econômico.
Isso, segundo Lula, exigirá ampliação e barateamento do crédito; fomento ao mercado de capitais, à ciência e à tecnologia; e “uma inversão de prioridades no financiamento e no gasto público, valorizando agricultura familiar, cooperativismo, micro e pequenas empresas e diversas formas de economia solidária”. Este último item, na ótica da iniciativa privada, suscitará polêmicas, se for feito mediante concessão de privilégios em vez de oferecimento de estímulos.
A questão é como as propostas de reformas e as futuras políticas públicas conquistarão credibilidade. Para tanto, será indispensável a contribuição de um amplo e representativo espectro das forças políticas, da iniciativa privada e das centrais sindicais. O presidente eleito sinaliza positivamente, ao falar em participação de empresários e trabalhadores, Pacto Nacional pelo Brasil, formalização de um Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social e instalação de um governo amplo composto pelos melhores quadros do país.
O diálogo do governo eleito com interlocutores qualificados em suas áreas de atuação será relevante se for democrático, amplo e permanente.
Levar para a esfera federal as lições aprendidas pelas administrações municipais e estaduais do PT poderá imprimir velocidade às mudanças. Será valioso rememorar os acertos e aprender com os erros, alguns deles cometidos pela resistência ao diálogo e à parceria com agentes do mercado.
A qualidade e a abrangência da interlocução será decisiva já nesta etapa de travessia, para realizar mais rapidamente sonhos coletivos, como o de todo brasileiro fazer três refeições por dia, numa moradia digna, dotada de água, esgoto e eletricidade.
(*)É presidente do SindusCon-SP – Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo .