Antonio Delfim Netto (*)
O editorial sob o título “Ajuste Oneroso”, da edição de 7 de agosto, e duas notas do Painel do Leitor, no dia, na Folha de São Paulo, oferecem excelente material para reflexão de nossas autoridades econômicas, se elas se derem ao trabalho de ler textos em português. O editorial e os comentários de dois leitores que respeitosamente peço licença para citar, os Srs. Igor Cornelsen e Eduardo Guimarães – tratam com grande acuidade do problema das exportações e da qualidade dos saldos verificados nos meses recentes em nossa balança comercial. Diz o editorial da Folha: “a melhora do saldo não é fruto de exportações dinâmicas, mas sim de importações muito deprimidas” advertindo judiciosamente, mais adiante que… “O ajuste da balança comercial que se vem observando se baseia, em suma, na compressão da atividade e, portanto, do emprego e da renda”…
Na nota enviada ao “Painel”, comentando o editorial, o Sr. Igor observa que “Po Brasil é um dos poucos países que tem tido déficit comercial com os EUA, um sinal de que temos problemas” e cita como exemplos virtuosos a Alemanha, Japão, Coréia, Taiwan, Cingapura, Hong Kong e a China Continental, “que tiveram em comum um expressivo saldo comercial, particularmente com os Estados Unidos. Ou o Brasil corrige o seu fraco dinamismo exportador, abrindo mercados nos países que podem pagar, ou involuntariamente continuará a exportar a sua juventude para empregos indesejados no Japão, no Mercado Comum Europeu e nos Estados Unidos …”
A mensagem do segundo missivista, Sr. Guimarães, sintetiza com bastante precisão o que se nega, na prática, ao setor exportador. Diz a mensagem: “De teimoso que sou, estou na Bolívia, um dos países sul americanos aos quais viajo periodicamente para tentar vender meus produtos sem apoio creditício, valendo-me de recursos próprios… Minha empresa é pequena e se houvesse no Brasil a pálida sombra de uma política séria de comércio exterior, estou seguro que poderia triplicar os negócios aqui mesmo na América do Sul”. E termina, como que pedindo apenas um pouco de condições isonômicas para enfrentar a competição: “… fico perplexo ao constatar que os tais tigres asiáticos conseguem, de lá do outro lado do mundo, vir aqui à América do Sul e vender mais do que o Brasil…”
Essas notas, simples e objetivas, foram publicadas na mesma semana em que o Banco do Brasil cortou o minguado crédito que relutantemente vinha concedendo aos exportadores brasileiros. No auge da crise externa que construíram diligentemente nos últimos oito anos, nossas autoridades econômicas mostram mais uma vez qual o rumo que se impôs ao país.
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