Vera Botta (*)
Forçados a "apagar"as luzes, os brasileiros e talvez os cidadãos do mundo vivem desesperançados o tempo de Natal. Sinais de recolhimento, de desencantamento no ar. Manchetes de violência, de seqüestros em escala crescente expressam os temores que nos assolam. Sem pedir licença ao espírito natalino que nos sugere harmonia, sensibilidade, vontade de termos em nosso planeta, em nosso lugar, PAZ, sem os tormentos que nos assolam.
A brutalidade da violência poderia ser afastada com o pisca-pisca das luzinhas que até o último ano não sofriam interdição oficial? Claro que não. Há muito mais. Como falar em alegria se há centenas de civis inocentes morrendo? Como justificar o massacre sob o pretexto de que o "bem" deve triunfar sobre o "mal" ? Não há nenhuma luz que possa fazer esquecer o luto fruto do ódio, da fúria, da insana guerra pelo poder.
Em nosso país, aparentemente distante da guerra, em nossa cidade, em princípio tranqüila, estamos imersos em brutalidades, agressões, violências diretas e simbólicas. Os dados apresentados pelo Cedro – Centro de Referência da Mulher – bem atestam este quadro. E as cicatrizes, ainda que escondidas – sob o manto escuro imposto pelo apagão – exigem ações concretas, vontade política de se quebrar o circuito de agressividade e de violência que nos atemoriza aqui e acolá.
E as luzes, fugazes, talvez uma mera representação da existência da alegria, nos faltam neste ano. Andando pelas ruas de nossa radiante morada, me vejo procurando seus sinais. Talvez na expectativa de fortalecer minha convicção de que há caminhos e espaços para a fé, a paz e a solidariedade, apesar dos indicadores,nada otimistas, dos arquivos policiais.
Por que sentir falta das luzes?
Talvez porque as vejo ou as imagino como expressão de uma vontade interior. Não importa de onde venham. Coreanas, falsas ou verdadeiras, as luzinhas nos indicavam sinais de vida. Vontade de dar vazão a sentimentos de solidariedade, à vontade de compartilhar. De juntar vizinhos, de formar figuras, de lembrar que, em nossas mãos existe uma grande potencialidade de transformar pequenos pontos de nosso mundo em lugares de cidadania. Espaços em que o ter ceda ao ser e em que se apresentem ao mesmo, caminhos para se viver dignamente, com perspectivas de trabalho, de qualificação profissional, de se poder ser criança, jovem ou idoso, portador ou não de necessidades especiais, como sujeitos de direitos. É querer muito? Não. É possível. E o acender as luzes ou ter que desistir das mesmas seja apenas um detalhe ou uma simples alavanca para (re)iniciarmos, a cada dia, o caminho para um novo amanhã.
Os "presentes" que podemos comemorar nesse 1º ano do milênio.
Em nosso lugar… Presentes não são dádivas, mas reconhecimento de direitos. A Coluna destaca:
* A hora e a vez da participação popular. Na Câmara, a Tribuna Livre. Nas decisões sobre o destino dos investimentos a ser imprimido ao dinheiro público, o orçamento participativo. Sem mistérios ou receitas mágicas, a população começou a ser ouvida. E temos muito mais a fazer nos sinais da bússola da cidadania…
* A descentralização da cultura e a atitude corajosa de mostrar, na prática, através das oficinas culturais nos bairros, dos projetos levados em conjunto com a Secretaria de Esportes e da Assistência Social que ao jovem podem ser mostrados caminhos para se integrar socialmente.
* O trabalho sério e desafiador da Secretaria de Assistência Social de conduzir , com acompanhamento das entidades e do Comitê da Cidadania, novos parâmetros para acompanhamento das famílias e de suas carências…
* O investimento, com superávits, da Secretaria de Desenvolvimento Econômico, na (re)qualificação profissional para abrir as portas de inserção no mercado de trabalho.
* As iniciativas da justiça social tomadas pela Secretaria das Finanças…Ousar é preciso, às vezes contra a maré… Daqui a um tempo, estaremos avaliando porque a progressividade acompanhada de avaliações e mudanças necessárias pode alimentar o mundo dos direitos.
* O fortalecimento das reivindicações dos servidores municipais que têm tido ressonância nas decisões municipais. Saúde é direito constitucional e é preciso lutar por ele! Com a palavra ,o Sindicato e a Secretaria da Administração !!!!! Só se colhe bem o que for bem plantado…
* As ações conjuntas da Secretaria do Desenvolvimento Urbano e da Comissão de Obras para quebrar o "jeitinho" de se lidar com o zoneamento urbano. O número de projetos aprovados nesse ano – em torno de 30 – perde longe – felizmente, aleluia !! – para os recordes anteriores…
* O esforço das Secretarias Municipais da Educação e de Saúde para realizar suas Conferências Municipais e rever caminhos trilhados…
Há muitas razões para comemorarmos, apesar do "apagão"das luzes. Quebramos na Câmara o tabu histórico do recesso parlamentar de 90 dias. Convivemos com problemas, sem querer resolvê-los como despachantes de favores. Priorizar a luta por direitos é o maior "presente"que demos à terra que amamos e na qual temos todas nossas raízes.
É impossível falar do saldo positivo deste primeiro ano sem emoção… O encontro com as mães dos portadores de deficiências e com pessoas e entidades que trabalham com dependentes químicos nos fez sentir fortemente a importância de associarmos vontade política e sensibilidade.Em uma busca de ver, com ou sem o acender das luzes, sujeitos de direitos.
E nesse movimento de vida, de querer ser feliz sem medos, que lhes desejo um Natal abençoado com muita luz. Que possamos bem nos orientar a caminho da paz, dos sonhos, da solidariedade. Com alegria verdadeira. A Coluna deseja a todos um feliz todo Ano Novo. Com carinho. Um abraço muito especial aos meus leitores e aos araraquarenses de nascimento ou de coração. Até a próxima !!!!!
(*) É Coordenadora do Mestrado da Uniara, Vereadora pelo PT e colaboradora do JA.