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O pioneiro do balonismo, o araraquarense Victório Truffi

Luigi Polezze

No dia 25 de outubro de 1970, um domingo ensolarado, os céus de Araraquara foram palco de um feito histórico: o primeiro voo de balão de ar quente realizado na América do Sul. A bordo de um balão azul de 35 metros de diâmetro, Victório Truffi, então com 57 anos, subiu a 500 metros de altura e sobrevoou a cidade.

Enquanto o balão cruzava o céu, a população acompanhava incrédula a cena. A façanha roubou a atenção da partida de futebol entre a Ferroviária e o São Paulo, no Estádio da Fonte, e virou o assunto do ano na região. “Eu me deixei levar pela brisa. Ainda bem que não aconteceu nenhum acidente. Eu não quebrei nenhum telhado”, relembrou Victorio, em entrevista anos depois.

RAÍZES EM ARARAQUARA

Truffi escolheu Araraquara para o voo inaugural porque foi na cidade que passou parte da infância e alimentou seu sonho de voar. Filho de Henrique Truffi, descendente de italianos e dono de uma pequena cervejaria, Victório cresceu em uma família numerosa de 12 irmãos. Desde menino, ficava fascinado pelos balões de São João e pelas histórias de Santos Dumont.

Porém, precisou parar de estudar cedo para ajudar em casa. Trabalhou como entregador de jornais e operário em uma torrefação de café. Tentou até a carreira de jogador de futebol, passando por clubes como o extinto Paulista e a Portuguesa de Desportos, mas abandonou o esporte quando percebeu que não teria futuro financeiro.

DO RÁDIO AOS BALÕES

Na década de 1930, já em São Paulo, começou a vender rádios de porta em porta. O negócio prosperou durante a Segunda Guerra Mundial, quando a população buscava notícias do conflito. No pós-guerra, Victório abriu uma fábrica de antenas, que chegou a empregar 800 funcionários e lançou o primeiro modelo nacional de antena embutida. O sucesso da empresa lhe garantiu recursos para investir no sonho de infância.

Foi assim que, em 1970, Victório viajou aos Estados Unidos, obteve licença para pilotar balões e trouxe para Araraquara seu instrutor americano, Robert Rechs. Depois de voos cativos, conseguiu autorização do Centro Técnico Aeroespacial (CTA) para voos livres e, em outubro daquele ano, entrou para a história.

PIONEIRISMO E LEGADO

A partir daí, Victório dedicou-se exclusivamente ao balonismo. Construiu 16 balões, a maior frota particular do mundo na época, acumulou mais de 3 mil horas de voo e fundou um clube de balonismo em Cotia, onde formou os primeiros pilotos brasileiros — entre eles Rubens Kalousdian, que se tornaria pentacampeão brasileiro da modalidade.

Em 1977, chegou a realizar um casamento dentro de um balão, e na década de 1980 ganhou notoriedade nacional ao participar do programa Turma do Balão Mágico, da Rede Globo, pilotando o balão azul que levava Simony e outras crianças na abertura da atração.

ARARAQUARA NO MAPA DA AVIAÇÃO ESPORTIVA

O primeiro voo de Victório Truffi não foi apenas um espetáculo para os olhos dos araraquarenses: ele colocou a cidade no mapa da aviação esportiva nacional e abriu caminho para a regulamentação do balonismo no Brasil.

“Araraquara foi o berço de um sonho que mudou a minha vida”, afirmou Victório, que nunca deixou de reconhecer a cidade como ponto de partida para sua trajetória.

Graças a ele, o balonismo, hoje um dos esportes aéreos mais seguros e admirados, teve início justamente nos céus da Morada do Sol.

Presente matéria utilizou como fonte o acervo do Blog de Balonismo e da Cultura Aeronáutica.

Victório Truffi sendo entrevistado por Geraldo Polezze

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