Marilene Volpatti
As vezes nem nos damos conta, mas, certos traços da personalidade podem estar envenenando nossos relacionamentos e destruindo a auto-estima.
Quem não sentiu horror de uma pessoa, sem motivo aparente? Vive às turras com um colega ou vizinho? Ou então, alguém que por ser preguiçoso, bagunceiro, impontual deixa a gente louco da vida? Bem lá no fundinho do coração, não desejou que alguém se desse mal, muito mal mesmo. Não se assuste, pois você não é um monstro. É uma pessoa normal, possuidor – como todo mundo – de um lado sombrio da alma. É aquela parte de nós mesmos que gostaríamos que não nos pertencesse.
Mas o que se esconde nesse lado? São traços de personalidade que aprendemos, desde muito cedo, com nossos pais e com a sociedade, não serem desejáveis ou corretos. Vai desde os instintos violentos até os defeitos benignos.
Lado a lado com eles, convivem outros comportamentos, sentimentos ou desejos que a nossa família considerava imoral, mas, para nosso vizinho era tudo muito natural, só para exemplificar.
Esse lado oculto é tão espaçoso que nele cabem até certos talentos que sufocamos porque na infância foram motivo de gozações ou repreensões. A raiva, a sexualidade quase sempre, também, se encontram lá. Até mesmo características como independência e melancolia, pode acreditar!
Todos esses “enjeitados” formam uma parte de nós que não queremos encarar ou sequer enxergar. Mas nem por isso deixam de existir. Muito pelo contrário, quanto mais reprimidos, maiores os riscos de um dia explodirem causando tremendos estragos. Por isso é fundamental trazer à tona esses sentimentos negativos. Quando fingimos que não existem, podem fazer de nossas vidas o que o desmatamento está fazendo com o planeta: desequilibrando tudo. Para começar, corroem nossa auto-estima, já que no íntimo sabemos muito bem que estamos fazendo de conta que somos indivíduos diferentes.
Após, bloqueiam a nossa criatividade porque quem nega a própria maneira de ser coloca um freio na imaginação. E para completar, envenenam os relacionamentos, não sobrando energia para a afetividade, que tendemos a ver nos outros (por projeção) os mesmos defeitos que não aceitamos em nós.
Desvendando o lado sombrio
É só prestar atenção na maneira como reagimos às outras pessoas.
A pista está não nos nossos julgamentos racionais, mas, nas sensações. Se somos capazes de desculparmos a preguiça alheia, são remotas as chances de a preguiça fazer parte do nosso lado oculto. Mas quando reconhecemos em alguém algum de nossos traços reprimidos, ficamos fascinados e, ao mesmo tempo, intolerantes.
Acontece, também, de reconhecermos nos outros qualidades que gostaríamos de possuir e que acreditamos não ser possível adquiri-las. Um típico exemplo é o da mulher que cresceu ouvindo dos pais críticas à sua competência. Ela vai acabar casando-se com um homem que imagina ser um gênio. E com o passar do tempo vai perceber o engano.
Aceitação
Ao aceitar o lado sombrio, o indivíduo vai recarregar suas energias, multiplicar as fontes de criatividade, melhorar em muito os relacionamentos. Não é fácil, mas com perseverança se consegue. Além do que existem maneiras de apressar esse encontro com o lado oculto. Vejamos:
* Quais as queixas mais comuns que seus amigos ou pessoas próximas fazem de você? As críticas que considerar injusta, com certeza tem um fundo de verdade. Se costumam dizer que você é manipulador, carente, egoísta ou…pode acreditar, há verdade nisso.
* Existe diferença entre sentir-se de uma maneira e agir dessa maneira. Por mais que o lado escuro pareça inaceitável, não esqueça que você não precisa, não deve e certamente não vai transformar suas emoções em ações .
* Colocar para fóra as feras escondidas, extravasando o que há no inconsciente da forma que parecer mais fácil: escrevendo, dançando, pintando, cantando… é uma maneira criativa recomendada pelos psicologos.
Controlar a parte sombria de seu “EU” – conhecendo a verdade sobre si mesmo – coloca sua vida na realidade, abre as portas para mudanças necessárias, aumentando o senso de justiça e ajuda a tornar-se uma pessoa mais tolerante. Trocando em miúdos, a vida fica livre, leve e solta. Muito mais fácil de ser levada. E, evidentemente, infinitamente deliciosa de ser vivida.
Pense nisso, e não sinta vergonha de ser você mesmo!
Serviço
Consultoria: Drª Tereza P. Mendes – Psicoterapeuta Corporal – fone:- 236-9225.