Antonio Delfim Netto (*)
Creio que poucas pessoas têm dúvida que a vulnerabilidade externa da economia será o principal problema a ser administrado pelo próximo governo. Devido à excitação pré-eleitoral e ao nervosismo dos mercados financeiros ele vem ocupando os principais espaços na mídia. Numa certa medida essa discussão foi ampliada pelo próprio governo que, depois de passar oito anos construindo a dependência externa, tenta transferir aos próximos governantes a paternidade do problema que nasceu com a política cambial do primeiro mandato e permaneceu mal resolvido no segundo.
Os candidatos à presidência, melhor situados nas pesquisas, têm procurado “tranqüilizar os mercados” garantindo a intenção de manter o superávit primário, respeitar (mais ou menos) o sistema de metas inflacionárias e obedecer à Lei de Responsabilidade Fiscal. Isso é importante, embora revele um certo temor reverencial diante das “forças do mercado”, deixando marginalizadas questões essenciais como a retomada do crescimento e a redução do desemprego. Vai ser interessante observar de que forma os programas de governo, em elaboração, oferecem sugestões para revigorar o comércio exterior brasileiro ou para garantir o fornecimento de energia, por exemplo, que são duas questões centrais de qualquer política orientada para o desenvolvimento econômico.
Nós só vamos superar as dificuldades externas que impedem o crescimento brasileiro se o próximo governo tiver a capacidade de mobilizar o setor produtivo para uma rápida expansão das exportações e engajá-lo num programa inteligente de substituição de importações. O crescimento das exportações é o único caminho capaz de ir reduzindo a vulnerabilidade externa, na medida em que permitir a formação de saldos comerciais que tranqüilizem os credores quanto à nossa capacidade de honrar os pagamentos. É isso que vai mudar as expectativas e reduzir o nível de desconfiança dos investidores, abrindo o espaço que precisamos para aliviar o garrote das altas taxas de juros que desestimula os investimentos e impede o crescimento da produção. Se tivermos, ainda, competência para racionalizar a carga tributária que pesa sobre todo o setor produtivo, teremos iniciado o caminho para um novo círculo virtuoso na economia brasileira, trazendo de volta o crescimento e, com ele, a recuperação dos empregos e alívio na enorme tensão social a que estamos submetidos.
O outro ponto de estrangulamento do nosso desenvolvimento é a oferta de energia. O próximo governo terá que recuperar a matriz energética que privilegiava os investimentos em hidrelétricas para que a indústria brasileira volte a se beneficiar das vantagens comparativas que o sistema oferece. É o que vai garantir a continuidade de nosso desenvolvimento. Neste campo o atual governo termina também de forma melancólica: ele diz que não há risco de novo racionamento, mas não pelo aumento da oferta de energia e sim pela queda da demanda, numa economia sem crescimento nos próximos dois anos. Péssima perspectiva …
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