No limiar da existência
Bia Seidl faz nova composição para viver personagem à beira da morte em “Alma Gêmea”.
Texto: Carolina Marques/PopTevê
Depois de passar alguns capítulos fora de cena, Bia Seidl retomou a atividade em “Alma Gêmea” como se estivesse iniciando um novo trabalho. “Foi importante para dar uma reviravolta na vida da personagem”, avalia a atriz. E que reviravolta. Vera, a personagem de Bia, antes altiva e aristocrática, ganhou ares mais delicados. Frágeis mesmo. Tudo por causa de uma doença terminal. “É a desconstrução total de uma personalidade. Ela está impotente diante de algo maior que ela não pode controlar”, observa.
Até o processo de composição da personagem mudou. Mas Bia não quis recorrer a livros ou a filmes para viver o sofrimento da personagem. “Mergulhei nas minhas próprias perdas, nas minhas experiências. Acho que todo mundo tem uma memória de momentos ruins que já passou. Quis dar a ela essa sensibilidade que está aparecendo no vídeo”, conta. Para Bia, o traço mais marcante de Vera, a independência, foi posto de lado para dar lugar à necessidade de atenção. “Ela precisa de atenção e talvez encontre isso no Julian”, acredita ela, referindo-se ao parapsicólogo vivido por Felipe Camargo.
É ele quem vem dando à amiga momentos de alento em meio ao turbilhão de emoções que passa ao descobrir um tumor no cérebro. Para Bia, a doença da personagem está intimamente ligada à algum processo espiritual. “Acredito que nem todas as doenças sejam apenas físicas. E é importante tocar nesse assunto. Despertar a curiosidade do público para que ele pelo menos conheça as diferentes crenças, e quem sabe até, minimize sua própria dor”, teoriza ela, que torce por um final feliz para Vera. “Estou à serviço dela, mas se pudesse escolher daria a ela uma cura espiritual”, sugere.
Para a atriz, a personagem voltou mais generosa e serena apesar do momento doloroso que vive. “Acho que quando estamos no limite é que damos mais valor ao que realmente interessa, à família, por exemplo”, avalia Bia. Não é a toa que Vera vai ajudar o irmão Rafael, papel de Eduardo Moscovis, a se livrar de uma vez por todas de Cristina, de Flávia Alessandra. “Acho a relação dos dois muito bonita. Ela jamais se meteu na vida dele, sempre o respeitou. E mais ainda, ela faz as coisas sem esperar retorno. No final das contas, está ajudando ela própria”, acredita.
Prestes a completar 25 anos de carreira na tevê, Bia revela que nunca esteve tão contente com um trabalho. “Acho que foi uma união mágica. O autor, os diretores, esse elenco maravilhoso. Me sinto feliz em fazer parte desse momento”, comemora a atriz, que foi escalada para a trama depois de estrelar o infantil “O Mistério do Fantasma Apavorado”, escrito por Walcyr Carrasco, mesmo autor de “Alma Gêmea”, na qual fazia as engraçadíssimas Nereide e a Mulher do Quadro. “As pessoas se surpreenderam muito ao me ver no palco fazendo algo totalmente diferente do que estão acostumadas”, diz Bia, que chegou a ganhar dois prêmios pela peça.
Para continuar surpreendendo o público, Bia quer mudar tudo quando a novela acabar. “Em televisão é difícil mudar um perfil. Estou sempre numa categoria previsível de personagens. São mulheres mais tímidas, mais aristocráticas. E quero que isso mude. Quando vou terminando um trabalho gosto de estar diferente”, justifica a atriz de 44 anos, que já se achou uma profissional ruim. “Fui melhorando. Quando eu assisto trabalhos antigos, eu me acho muito ruim. Mas também sempre fui muito crítica”, pondera.
Nos próximos meses, Bia vai se dedicar ao cinema. Em julho começa a filmar “As Brasilianas”, de Oscar Santana, em Salvador. Até lá, está reunindo textos para montar um espetáculo. “Entrei numa idade muito interessante para uma atriz. Nos palcos, posso viver papéis que antes não tinha maturidade cênica para interpretar. Isso é muito libertador”, avalia.