No compasso da sedução
Caco Ciocler atravessa fases de “JK” na pele de um dançarino de tango
Texto: Carolina Marques/PopTevê
Caco Ciocler lembra com saudades do tempo que dançava em um grupo folclórico judeu. O ator passou boa parte da adolescência se apresentando em festas e celebrações. Foi na dança que ele aprendeu muito da disciplina exigida pelo teatro. E é dançando que ele conhece cada vez mais a personalidade de Leonardo, o exímio dançarino de tango que interpreta em “JK“, da Globo. “O tango me deu a postura do personagem. Ele tem um olhar sedutor e seduz o que estiver pela frente. Às vezes até sem intenção“, descreve o ator.
Entre o Ed de “América” e o Leonardo de “JK“, Caco teve apenas três semanas para “trocar de roupa“. Ele chegou a ser cogitado para fazer o papel do político Carlos Lacerda na terceira fase da trama – personagem que ficou para José de Abreu -, mas acabou escalado para fazer o milongueiro Leonardo. Para se preparar tomou aulas de tango com o coreógrafo Jaime Arôxa e viu dois documentários sobre Juscelino. “Quando você faz um personagem histórico, que as pessoas conhecem, há uma referência real. Como ele é fictício, posso ficar mais livre para imprimir características“, argumenta o ator, que interpretou o líder comunista Luiz Carlos Prestes no filme “Olga“.
A tal “liberdade criativa” começou com as seis aulas do ritmo argentino imortalizado por Carlos Gardel. Caco acredita que Leonardo nasceu ali junto com passos e rodopios. “Não foi tão complicado, porque já trazia certa musicalidade. O mais desafiador é mostrar esse homem angustiado, dividido entre suas ambições e um amor verdadeiro“, avalia.
O amor ao qual Caco se refere é a paixão avassaladora entre seu personagem e Salomé, vivida por Deborah Evelyn. Um romance capaz de resistir ao tempo e aos percalços da vida de cada um deles. “A gente torceu muito para que as pessoas comprassem essa história de amor, mesmo ele se transformando em um canalha mais para a frente“, conta o ator.
Pela primeira vez, Caco está tendo a oportunidade de fazer um papel que atravessa fases. Aos 34 anos, ele começou a minissérie com Leonardo na faixa dos 20. Esta semana, o moço já vai estar com 38 anos. “Nunca tinha vivido isso em televisão. Só no teatro. E a personagem se transforma muito. Fisicamente e emocionalmente“, comemora. A transformação física exigiu que Caco cortasse o cabelo. Mais tarde ele ainda vai ter de ostentar bigode e cabelos grisalhos. “Depois nem sei como vai ser“, divaga.
Na fase do bigode, Leonardo se mete na política e faz oposição ferrenha a Juscelino, já interpretado por José Wilker. “Ele não vai chegar a ser a pedra no sapato do JK. Afinal, ele é fictício. É o tipo de pessoa que se encosta e vai se chegando onde estiver bom para ele“, adianta o ator, que recorre à ironia para espetar os políticos brasileiros. “Ele gosta de poder e vai ser corrupto, se vender. Tem muita gente para me inspirar“, diz, com um sorrisinho malicioso.
Pela segunda vez num trabalho assinado por Maria Adelaide Amaral – a primeira foi como Bento Coutinho em “A Muralha” -, o ator destaca a intensidade das cenas. “São curtas mas acontece muita coisa. Às vezes, quatro mudanças emocionais numa cena de meia página. É um exercício incrível“, empolga-se.
Contratado da Globo por pelo menos três anos, Caco não sabe o que é férias há muito tempo. Emendou filmes, novelas e assim que terminar “JK” volta a investir nos palcos, na peça “Antônio Cleópatra“, com direção de Paulo José. Na tevê, é um dos atores que estão sendo disputados por autores das próximas tramas globais. “Estou reservado para alguma coisa. Não sei se para a novela que o Wolf Maya vai dirigir ou para a do Jayme Monjardim“, diz.