Não se curve a fatos desagradáveis

Marilene Volpatti

Quando menos esperamos, somos envolvidos em mal-entendidos com pessoas que, para nós, soam como importantes.

A sensação de ter sido traído por um amigo que conta uma mentira sobre nos ou ver revelada aquela fraqueza que contamos somente a alguém muito querido nos ferem como ferro em brasa.

Na maioria das vezes preferimos silenciar do que tirar tudo a limpo, para evitar confronto que leva a um desgaste maior com essa pessoa que nos era tão especial.

Mas, fingir que nada aconteceu não resolve. Deixa uma situação incômoda que vai interferir para sempre nesse relacionamento. Só vale o silêncio se a pessoa não for muito importante, caso contrário é mais saudável colocar tudo em pratos limpos.

Muita gente acha negativo o enfrentamento encarando-o como disputa. Outros, acostumados a reprimir as emoções, catalogam a raiva como abominável e, se ela se manifesta, rapidinho fogem do confronto na esperança de que agindo assim ela desaparece. Conter a raiva, no entanto, tem um preço alto: dores nas costas e pelo corpo todo, gastrite, depressão…

Vai ficar tudo mais simples ao percebermos que para acertar contas não há necessidade de ferir ninguém, sair vitorioso e nem escamotear sentimento.

Ao invés de acusar é melhor indagar. Ao usar de perguntas, estaremos dando ao outro chance de se justificar, e a nós a oportunidade de agir como pessoas adultas e sair da condição de vítima.

Como agir

Muitas são as formas de sair dessa situação, sem se machucar.

Primeiro passo: é avaliar se vale investir na pessoa que nos feriu. Se valer, o confronto fortalece e melhora a relação? A história de vida tem base para ser preservada? Mesmo desaprovando determinadas atitudes, quer que ela faça parte de sua vida? Outras pessoas sofrerão se essa relação for cortada?

Segundo passo: é tentar entender porque ela agiu dessa maneira. Esqueça as acusações. Em vez de afirmar “você só pensa em si mesmo”, ou “você quis me prejudicar”, tente, por exemplo: “você me jurou segredo, mas teve que dar com a língüa nos dentes”.

Para saber o ponto de vista do amigo, descreva os fatos com clareza e escute o que ele tem a dizer. A explicação pode não ter sentido para você, mas tem para ele.

Terceiro Passo: é importante expressar os sentimentos dizendo como está se sentindo, pois temos a tendência de falar só o que o outro fez. Isso gera discussão e uma reação defensiva.

Muitos acreditam que, para expressar suas emoções, basta usar sempre a primeira pessoa. Por exemplo: “acho você um falso”. Isso não vai ajudar em nada. O ideal seria: “quando você contou o segredo, me senti traído e acreditei que estava contra mim”.

É importante dizer o que a situação desencadeou dentro de você. Depois, com muita calma e sem interromper a pessoa, escute o que ela tem a dizer sob o ponto de vista dela, e tente mostrar que está disposto a entendê-la. Use a frase: “me dê um tempo, preciso deglutir a situação para poder entendê-lo”.

Quarto Passo: quando as reações são imprevisíveis. No confronto é importante não desviar do objetivo. Defina as atitudes que vai tomar e tipos de comportamento que não mais vai tolerar.

Muitas são as reações que poderá enfrentar ao ajustar contas com alguém.

Dicas

1º – Seja categórico. Se a pessoa confrontada tenta negar a atitude mesquinha, desista. Para ter certeza de que não está interpretando mal, arme-se de paciência e escute as versões. Se perceber que vai virar bate-boca, agarre-se às suas emoções e diga: “não vou discutir. Você traiu minha confiança. Se realmente se preocupa comigo, diga a verdade”.

2º – “Você é muito sensível, não dá para conversar. Você é ridículo!”. Não aceite que seus sentimentos sejam desrespeitados assim. Imponha limites respondendo: “não vou levar adiante esse papo se você continuar me insultando e não me levar a sério”.

3º – “Como tem coragem de me acusar de tamanha infâmia?” Respire fundo, conte até mil e se acalme. Evite entrar no jogo dele, e não seja hostil. Simplesmente responda: “Não estou culpando você, mas, me senti traído quando contou um fato de minha vida que confiei só à você”. Se o amigo continuar indignado diga: “Assim que você ficar calmo, voltaremos a conversar”.

4º – “Você fez o mesmo comigo, outro dia”. Cuidado! Ele está tentando virar o jogo, dando-lhe a culpa. Responda: “pode até ser verdade, quero um tempo para pensar a respeito. O que precisamos neste momento, é esclarecer essa situação desagradável”.

5º – “Falei mesmo. E quem é você para vir tirar satisfação?”. Essa frase só quer dizer uma coisa; fim da relação. A pessoa não se preocupa realmente com você. Não engula mais essa, dê uma resposta a altura: “Se pensa que agiu corretamente, é sinal que só se importa com você. É ótimo saber onde estou pisando e o valor que as outras pessoas têm para você”.

Calado

Não é toda ofensa que pode ou deve ser esclarecida. Além dos casos que se chega a conclusão que não vale a pena discutir, muitas vezes em situações no trabalho a diplomacia é a saída mais inteligente.

Tem aquele que rouba idéias e ainda faz comentários desairosos a respeito da competência dos colegas de trabalho.

Se a acusação for contada por um terceiro, avalie com quem está lidando. Às vezes, esse terceiro, é a “cobra envenenada” da empresa.

Guarde suas energias, procure cultivar amizades de pessoas confiáveis. Selecione quem pode ouvir determinados assuntos relacionados à sua vida.

Não dê chance àquelas pessoas que gostam de ver o circo pegar fogo. Para elas o silêncio, muitas vezes, é a melhor frase para ser dita.

Feliz 2003

Serviço

Consultoria: Drº Tereza P. Mendes – Psicoterapeuta Corporal – Fone:- 236-9225.

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