Às margens do Caminho do Ouro existia uma colônia japonesa. Cada família tinha lá sua chácara para plantar e ganhar o sustento numa nova pátria, um jeito de viver diferente da origem. O trabalho pesado era das mulheres. Parecia pra gente, que era criança, que os homens eram meio folgados. Até como andar na Vila: eles iam à frente e elas atrás. As chácaras eram muito bem cuidadas e diziam que os “japas” tinham diploma de ensino superior. Meu avô tinha um armazém que supria esse pessoal. Minha avó sabia xingar em português, em italiano e latim. Era mulher maravilhosa que tinha 9 filhos: sete mulheres e dois homens. Os “japas” eram nossos amigos. Um belo dia entra um deles e convida minha avó para ser madrinha de sua filha que tinha acabado de nascer. Ela ficou contente, pois, na época, batizar era um privilégio de gente bem. Foi tudo combinado para estarem na pia batismal da Igreja de Santo Antonio. Mas, na semana seguinte, o “japa” retorna e encontra minha mãe, mais jovem e alegre, e convida-a para o ato solene. Minha avó ficou fula da vida e com ódio do “japa”. O batismo foi uma grande festa e de muita gozação porque quando o padre perguntou o nome da criança, ninguém sabia. O “japa” disse que a mulher sabia. Ela disse que não, quem sabia era ele. Um passava para o outro a responsabilidade, saturando padre, padrinhos e testemunhas. Até que surgiu o nome Fumiko. E a criança foi, finalmente, batizada.
A festa foi na casa de meu avô, padrinho da criança juntamente com a minha mãe. Mas, minha avó sumiu do mapa, muito zangada. NO meio da festa, o “japa” resolveu ir ao banheiro e encontrou minha avó lavando roupa. Ele disse, “oi comadre” e minha avó o xingou maravilhosamente e correu atrás dele com uma calça comprida, molhada e apenas torcida.