Hoje nem há chuvas, o sol em toda sua plenitude se desmancha no céu, na pela da gente arde e dói. Voltei de Catanduva. Por lá deixei aquele amor do coreto, bons amigos e grande saudade do carnaval que na época era o melhor de São Paulo, onde todo mundo gostava de estar na época para se divertir. Aqui, em Araraquara, fizemos muitos carnavais, mas, nenhum como o de Catanduva. No Araraquarense tinha carnaval na piscina que levava muita gente, a maioria de sócios. Lá eu ganhei quatro prêmios de melhor fantasia. Foram quatro anos seguidos que deixaram saudade. Era tempo de largar as namoradas por qualquer coisa, e ficar disponível para as meninas que vinham de outra cidade. As namoradas ficavam no Clube 22 curtindo a maior dor de cotovelo e a gente se esparramando no salão. Era assim no Araraquarense, no 27 e por vezes no Municipal, sempre com garotas de outras cidades. Na quarta-feira de cinzas, era hora de voltar a namorar meninas da terra, pois as outras iam embora para suas respectivas cidades. Havia corsos nas ruas 2 e 3. Muita gente participava com seus carros enfeitados, cheios de confete, serpentina e algumas fantasias, para quem tinha coragem. Não havia escolas de Samba e nem desfile como os de hoje. Tudo se resumia nas matinês dos Clubes Araraquarense, 22 de Agosto e 27 de Outubro. O Clube dos negros era separado, ao lado do Jardim Público, onde só eles frequentavam. Não havia essas leis que hoje correm pelo país. Tudo aqui era uma total discriminação, a começar no footing da cidade onde cada fila representava uma camada social. Para entrar num clube como sócio fazia-se um levantamento familiar para ver onde você poderia freqüentar. Se tivesse família e gabarito, poderia freqüentar todos os clubes, com exceção do Clube dos Negros. Muitos carnavais em Araraquara eu participei, pois, tinha adoração pela festa de Momo e nunca perdi uma. O tempo foi mudando, a discriminação e a democracia se estabeleceram na cidade, e os clubes começaram a se unir e o carnaval ficou melhor. Começaram a surgir as primeiras escolas de samba que desfilavam pelos bairros e depois pelas Ruas 2 e 3, e até hoje o carnaval é isso aí que vocês estão vendo: carnaval do povo para o povo.