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Nhô Pedro

Minha avó nunca tinha saído de Araraquara, mas, dispôs-se a me levar pra casa de meus pais porque era lá que eu tinha que terminar o grupo escolar. E lá fomos nós, no café-com-pão-com-manteiga. Chegamos e eu fui tentanto me adaptar àquela família, sempre com a avó bem pertinho de mim. Foi indo, não que eu me acostumasse à cidade mas tive que ficar lá por quatro anos seguidos. Fiz a terceira série, a quarta, a quinta e o primeiro colegial (entrei em primeiro lugar). Tive um entrevero com o professor de francês que, logo ao ser apresentado pelo diretor à minha classe, disse taxativamente: conheço os bons e maus alunos. O sr. por exemplo pode sair da classe, indicando-me. Odiei esse professor por todos os dias da minha vida. Passei de ano porque ele nem fez a prova já que sua mãe morreu em São Paulo. Ele teve que nos abandonar. Muitos anos depois, em Santos, já moço-feito, de bom físico encontrei- o na esquina de um ponto badalado. O ódio me subiu à cabeça e dei-lhe uma peitada jogando-o no chão. Pensei que ele fosse reagir e ia apanhar muito de mim. Mas, levantou-se e fugiu, correu como galo sem raça, sumiu no meio do povo e nunca mais o vi. Fui levando Catanduva na boa até que minha vó fosse embora. Eu tive que ficar. Catanduva era na época uma cidade que tinha o melhor carnaval do Brasil, depois do Rio de Janeiro. Iam prá lá centenas de pessoas e famílias inteiras pra brincar no tal de carnaval. Eu nunca tinha entrado no clube, mas, lá eram realizadas três matinês lotadas de gente da minha idade. Tinha uma amiga. A Dolores era filha do outro parceiro meu pai, na delegacia. Fiquei sentado à mesa com ela e com os filhos do delegado. Começou, a orquestra toca músicas daquele tempo, cheias de melodias e de graça. Eu só via ela me puxar para dançar. Fazia fricote e nem ia até que cai no samba e nas marchinhas. Gostei e me entusiasmei.

Daí foram quatro dias de carnaval, lança-perfume, confete e serpentina. E curtindo as meninas que conheci. Entrei num outro mundo que eu nunca conhecera e me diverti obscecado pelo carnaval e pelas meninas que dançavam comigo e cantavam também. Foi uma festa de arromba. Esqueci minha avó, meus pais, minha Araraquara e o mundo que me cercava. Comecei a ser feliz naquela cidade.

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